“Se em Lisboa é canja, no Porto é dobrada”, assim dizia Anastácio, interpretado por António Silva, no filme “O Leão da Estrela” em jeito de antevisão de um FC Porto – Sporting. Mudam-se os tempos, mas não se mudam as vontades. Pelo menos assim é no futebol, onde a rivalidade clubística e emocional transcende qualquer racionalidade lógica.

Em dia de final da Taça de Portugal entre Sporting e FC Porto, recordamos um 'clássico' imortalizado nas salas de cinema que terminou com um triunfo dos 'leões' no Estádio do Lima por 2-1,

Na realidade, em 1947 a Taça de Portugal disputou-se apenas nas salas de cinema, onde, na tela prateada, os “Cinco Violinos” conquistariam a terceira Taça de Portugal consecutiva dos leões (algo inédito na altura!) com uma vitória sobre o FC Porto por 2-1. E como há uma tendência para a ficção imitar a realidade, e vice-versa, no ano seguinte o Sporting acabaria mesmo por vencer a sua quarta Taça de Portugal (terceira consecutiva) agora a sério e frente ao Belenenses por 3-1.

Mas no filme, Peyroteo, Araújo e Travassos são os “autores” dos golos e o elogio para melhor em campo acaba para ir para Barrigana, o mítico guarda-redes do FC Porto, que nesse jogo ficcional fez quase tudo para silenciar a sinfonia dos “Cinco Violinos”, de forma a levar o "seu" FC Porto à primeira conquista na prova, algo que só viria a concretizar-se em 1956, naquela que seria também a primeira “dobradinha” do emblema portuense.

Outro pormenor interessante desse jogo “ficcional” vai para o facto de Travassos nunca ter marcado um golo ao FC Porto no Estádio do Lima, apesar de na época o Sporting ter vencido dois “clássicos” no reduto do rival, um a 27 de janeiro de 1946, por 2-3, e outro a 20 de abril de 1947, por 2-4.

No filme, Anastácio acaba por celebrar efusivamente o triunfo do Sporting no meio de adeptos do FC Porto para irritação do seu futuro anfitrião, e compadre, com quem até inicia uma relação tensa nas bancadas do Estádio do Lima, devido às paixões do futebol, mas que depois acaba em ligação familiar...