Kalidou Koulibaly abriu o coração e contou a sua história de vida, em mais um registo fantástico da revista 'The Players Tribune'. O central do Nápoles falou da sua infância num bairro de França mas foi o tema racismo que ocupou a maior parte do texto.
O senegalês do Nápoles tem sido fustigado com insultos racistas onde quer que vá jogar em Itália e já não sabe o que fazer. O central contou a história de uma criança da Lázio que lhe pediu desculpas pelos insultos que estava a ouvir por parte dos adeptos 'Laziale'.
"As crianças percebem o mundo melhor que os adultos, principalmente no que toca a forma como tratamos os outros", começou por contar.
"A primeira vez que senti na pele o que é racismo no futebol foi [num jogo] com a Lázio há uns anos. Sempre que tocava na bola, ouvia os adeptos a fazerem barulho [sons a imitar macacos]. Mas não tinha a certeza se estava a ouvir mesmo ou se estava a imaginar aquilo tudo. Quando a bola saiu do campo, perguntei aos meus colegas: 'Eles estão a fazer isso só comigo?'", questinou.
O gigante senegalês contou que não sabia o que fazer. A situação acabou por afeta-lo muito.
"É impossível saberes o que fazer num momento como aquele. Já pensei em sair do campo para marcar uma posição mas depois dei conta que isso é exatamente o que eles querem. Lembro-me de me questionar: 'Porquê estão a fazer isso? Porque sou negro? Mas agora não é normal ser negro neste mundo?'", questionou.
"Estás apenas fazer o que gostas, a praticar o desporto que mais gostas. Sentes-te insultado, ferido. Sinceramente, chega a um ponto em que praticamente até tens vergonha de ti mesmo", confessou.
No jogo com a Lázio, o árbitro Irrati foi ter com Koulibaly para lhe perguntar se queria que ele terminasse o jogo. O senegalês disse que não era necessário. Foi emitido um alerta pelo sistema de som do estádio a avisar os adeptos para pararem com os cânticos racistas mas... nada feito. Assim que o jogo recomeçou, voltaram os insultos e os sons a imitar macacos.
Foi no final do encontro, no caminho para os balneários, que uma criança pediu desculpas pelos milhares de adultos que insultaram o senegalês durante 90 minutos.
"Quando voltava para os balneários no final do jogo, estava muito irritado. Mas depois lembrei-me que, no início do encontro, uma das crianças que entram com os jogadores de mãos dadas, pediu-me se eu podia oferecer-lhe a minha camisola no final do jogo. Disse-lhe que sim, que lhe daria a camisola no final. Então voltei e comecei à procura do rapaz, que estava nas escadas. Ofereci-lhe a camisola e e ele disse-me: 'Peço imensas desculpas por tudo o que aconteceu'. E eu respondi: 'Não faz mal. Obrigado e até a próxima'", contou.
Koulibaly lembrou que não são apenas os negros a sofrerem insultos racistas no futebol italiano. O defesa do Nápoles critica os órgãos de justiça em Itália por nada fazerem para colocar um ponto final nos insultos. O jogador lembra que em Inglaterra os adeptos são identificados e proibidos de entrarem em estádios de futebol, algo que deseja que venha a ser feito em Itália.
O possante senegalês, nascido em França, lembrou a história do seu pai, que chegou de forma ilegal a França e esteve a trabalhar sete dias por semana numa fábrica têxtil durante cinco anos nos arredores de Paris, até ter dinheiro para ajudar a sua mulher a emigrar. Mais tarde tornou-se lenhador.
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