Tudo o que é bom tem um fim. Ao fim de doze jogos, Portugal voltou a conhecer outro sabor que não o do triunfo, que terminou com o reinado 100% vitorioso de Roberto Martínez à frente da Seleção Nacional. Embora num jogo de caráter particular, Portugal não conseguiu contrariar uma Eslovénia organizada e sofreu dois golos oportunos que garantiram o primeiro desaire.

Com o Europeu 2024 aí à porta, pode dizer-se que esta derrota surgiu na melhor altura, uma vez que ainda há muito tempo para corrigir os erros. Além disso, este dissabor serve também como alerta para os craques portugueses, que foram recordados de que, apesar da imensa qualidade em todos os setores, não são imbatíveis e se não estiverem no auge estão tão sujeitos a perder como qualquer outra seleções.

Neste encontro, Portugal teve o pior encontro em termos de domínio do adversário e, apesar de ter registado 62% de posse de bola, foi inofensivo na frente, tendo registado o primeiro remate enquadrado (teve dois durante todo o jogo) perto dos 70 minutos. Em termos de ocasiões somou 10 tentativas de golo contra oito dos eslovenos.

Os motivos da primeira derrota da era Martínez

  1. Rotação de plantel: Apesar de a intenção ter sido devidamente explicada pelo selecionador nacional, a rotação promovida entre os jogos com Suécia e Eslovénia enfraqueceu a equipa, que teve de 'dividir' os seus craques entre os dois encontros. Embora estes jogos tenham servido para "observar jogadores e retirar informação" e de haver muitos atletas com capacidade para fazer parte do plantel, as muitas alterações promovidas não beneficiaram a consistência e foram um dos pilares do primeiro desaire.
  2. Alterações táticas: Se no jogo com a Suécia a equipa se se apresentou num 4-3-3 bastante rotinado e em que os jogadores pareciam confortáveis nos papéis que tinham de desempenhar, contra a Eslovénia não se sentiu isso. Os vários elementos pareciam nunca saber que espaços deviam ocupar no 3-4-3 e a falha de ligação entre setores deveu-se muito a essa falta de rotinas. Otávio e Félix apareciam sempre muito por dentro (provavelmente por desígnio tático) mas Cancelo também tentava ocupar os mesmos espaços e, na outra lateral, Diogo Dalot não era capaz de dar a largura e a profundidade que esta formação pede de um ala. Estes pormenores originaram um trânsito intenso no centro do terreno, que acabou por facilitar as tarefas defensivas à Eslovénia e tirou espaço/tempo de decisão aos portugueses.
  3. Ausência de um maestro: Obviamente que o falhanço tem de ser analisado coletivamente, mas houve um setor em particular que se ressentiu das alterações. O meio-campo foi ocupado por Vitinha e Rúben Neves, com apoio a espaços de Otávio, mas faltou alguém que pegasse na bola para organizar o jogo português. Quando faltava espaço para jogar e a clarividência não estava no pico, Portugal pareceu sempre demasiado precipitado e acabava, invariavelmente, por falhar o 'timing' para o último passe ou para o remate certeiro. Neste capítulo, Bruno Fernandes e Bernardo Silva costumam pegar nas rédeas da construção ofensiva, mas não tiveram substitutos à altura no encontro com a Eslovénia.

Tudo isto são erros que estão mais do que a tempo de ser corrigidos e não beliscam em nada as ambições lusas no próximo Campeonato da Europa. Quando estamos "mal habituados" a vencer, qualquer desaire pode parecer o fim do Mundo, mas só prova que afinal Roberto Martínez não transformou a Seleção Nacional em robôs infalíveis, mas em melhores jogadores que também têm dias maus.

O domínio exemplar revelado na qualificação para o Europeu2024 deixou Portugal a sonhar e, com o plantel todo à disposição e com as peças no sítio certo, a Seleção Nacional pode bater-se com qualquer adversário, mantendo bem vivas todas as perspetivas de poder ser feliz na Alemanha.