O futebol “está a anos-luz” de outras atividades empresariais e de entretenimento na gestão de dados sobre fãs, observou hoje Tiago Madureira, que foi diretor executivo da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) entre 2020 e 2023.
“A data hoje é ouro. Permite conhecer as bases de dados dos nossos seguidores, fazer o ‘tracking’ das jornadas que eles vão e estarmos diretamente em contacto. É uma coisa que o futebol sempre descartou, mas precisa urgentemente de investir”, frisou o ex-dirigente.
Tiago Madureira deixou reparos à ligação que existe entre a modalidade e os adeptos no painel “Como o cruzamento de desportos pode aumentar a base de fãs e as receitas de marketing?”, incorporado na cimeira Thinking Football, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto.
“Em certos casos, a experiência em estádio é medieval e está ultrapassada. É obrigatório o investimento em infraestrutura tecnológica para melhorar isso e trabalhar a jornada do adepto antes e depois. A criação de conteúdo tem aí um papel fundamental para elevar a transversalidade das audiências do futebol, que é a única atividade que eu conheço que investe a esmagadora maioria dos seus recursos financeiros de tempo a falar com a sua audiência primária. Essa já é leal e vai estar sempre lá”, avaliou, denunciando um setor “tradicionalmente fechado e muito conservador, mas que continua a crescer na receita”.
O futebol tem de “começar a acompanhar um consumo de base digital” perante “hábitos sociais diversificados”, ao contrário do momento em que eram “os clubes, as Ligas e as organizações a marcar a agenda e a liderar o momento, com as audiências a seguirem”.
“É urgente beber com as experiências de todos os outros desportos. Pego num exemplo como a Fórmula 1, que, muito mais que o desporto, se reinventou na maneira como vai entregando a sua área de entretenimento, fazendo ajustes no próprio produto”, ilustrou.
Tiago Madureira lamentou que se “discuta aos dias de hoje o acesso aos intervenientes”, tendo comparado um treinador de futebol que se ausenta voluntariamente das zonas de entrevistas rápidas “apenas porque emocionalmente está destabilizado” com um piloto de MotoGP que “está a dar entrevistas, a viver para os patrocinadores e a dar visibilidade a diversas marcas três ou quatro minutos antes de conduzir a 350 quilómetros por hora”.
“É urgente repensarmos todo o modelo de ‘broadcasting’ que temos no futebol e que está ultrapassado. Acho que são fundamentais coisas como ter acesso às comunicações em tempo real através de câmaras e de microfones em jogadores, treinadores e árbitros. Creio muito que vamos caminhar para uma oferta de realizações múltiplas, em que o utilizador vai poder personalizar a sua própria forma de consumo durante a transmissão”, apontou.
Defensor de que “todas as estratégias de organizações desportivas” precisam de colocar os adeptos na “linha da frente”, o antigo diretor executivo, de marketing e de conteúdos e media da LPFP deixou reparos à “falta de comprometimento coletivo” em alguns temas.
“Sinceramente, chateia-me muito o negativismo que se coloca em cima da LPFP. Somos uma liga de topo. Não existem muitas atividades em que Portugal seja o sexto melhor da Europa e, por consequência, do mundo. Só que temos aquela ambição boa de olhar para cima e de não nos compararmos com os exemplos que estão mais abaixo. Custa-me um bocado este contínuo maldizer da LPFP por muitas das pessoas que vivem à custa dela. Evidentemente, acho que há caminho a melhorar e deverá haver e ser imposta essa vontade coletiva. Agora, acho que fazemos das coisas mais do que elas são”, terminou.
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