O Ministério Público pondera a hipótese de recorrer da decisão de libertar o ex-presidente do Sporting Bruno de Carvalho tomada hoje pelo juiz de Instrução do Tribunal do Barreiro, no âmbito da investigação sobre o ataque à Academia de Alcochete.
"O Ministério Público encontra-se a analisar a decisão com vista a tomada de posição sobre eventual interposição de recurso", disse fonte oficial da Procuradoria-Geral da República (PGR), questionada pela Lusa.
O juiz de instrução Carlos Delca considerou não haver indícios fortes para justificar a aplicação de prisão preventiva, a mais gravosa das medidas de coação, que era pedida pelo Ministério Público para Bruno de Carvalho e para o líder da Juventude Leonina, Nuno Mendes, conhecido por Mustafá.
Os dois arguidos deixaram hoje o Tribunal do Barreiro, sujeitos a apresentação diária às autoridades e com caução de 70.000 euros, depois de terem sido detidos no domingo por suspeitas de envolvimento no ataque de 15 de maio à Academia do Sporting, de que resultou a constituição de 38 arguidos, todos em prisão preventiva.
“Foram cinco dias terríveis. São cinco dias que marcam qualquer pessoa. Dá-nos outra perspetiva. Vou assentar um bocadinho e aproveitar para descansar ao pé da minha família. Só quem passa por esta situação percebe o quão diferente é um ser humano ser privado de coisas tão simples como um banho”, disse hoje o ex-presidente do Sporting.
Bruno de Carvalho, que falava à porta de sua casa, em Lisboa, rejeitou ainda responder a qualquer questão relacionada com o processo ou a sua detenção, pedindo também respeito à comunicação social pela sua família.
Bruno de Carvalho está indiciado no processo de ataque à academia por 57 crimes: um de terrorismo, 20 de sequestro, 20 de ameaça agravada, dois de detenção de arma proibida, 12 de ofensa à integridade física qualificada e dois de dano com violência.
Mustafá, indiciado pelos mesmos crimes de Bruno de Carvalho, e ainda por tráfico de droga, também foi libertado, mas não se conforma com a sua implicação: “Não sou traficante, não sou terrorista, sou presidente da Juventude Leonina. Vejam o processo. (...) É claro que não foi justo. Não foi justo, porque não tenho nada a ver com isto”, afirmou Mustafá, à saída do Tribunal do Barreiro.
Em 15 de maio, a equipa de futebol do Sporting foi atacada na academia do clube, em Alcochete, por um grupo de cerca de 40 alegados adeptos encapuzados, que agrediram alguns jogadores, membros da equipa técnica e outros funcionários.
A GNR deteve no próprio dia 23 pessoas e efetuou, posteriormente, mais detenções, que elevaram para 40 o número de arguidos.
O ataque motivou o pedido de rescisão unilateral de contrato de nove futebolistas, alegando justa causa, alguns dos quais recuaram na decisão e continuam a representar os ‘leões’, e lançou o clube lisboeta em uma das maiores crises institucionais da sua história.
Bruno de Carvalho, que à data dos acontecimentos liderava o Sporting, foi destituído em Assembleia Geral em 23 de junho e impedido de concorrer às eleições do clube de Alvalade, das quais Frederico Varandas saiu como novo presidente.
Notícia atualizada às 19h30
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