Teve início na manhã desta quarta-feira mais uma sessão do julgamento do ataque à Academia do Sporting, em Alcocehte, com os depoimentos de João Reis, roupeiro do clube verde e branco e do fisioterapeuta Hugo Fontes.
João Reis foi o primeiro a prestar depoimento, recordando o momento da entrada dos invasores no balneário. "Os adeptos gritavam 'vocês são uma vergonha, não ganhem no domingo e estão f*** connosco!", recordou.
O roupeiro dos 'leões' lembrou também a agressão a Bas Dost. "Eu estava ao lado do Bas Dost e acabei por também ser atingido por algo. Não vi o que era, mas julgo que fosse a fivela do cinto", contou, antes de confirmar que pelo menos duas tochas foram atiradas para dentro do balneário.
A mesma testemunha falou lembrou ainda as palavras de Bruno de Carvalho na reunião realizada na véspera da invasão, confirmando que foi o ex-presidente a ditar a hora do treino. "Amanhã, às 4, treino na Academia", citou.
Regressando ao tema das agressões, João Reis revelou ter visto Misic ser agredido com o mesmo cinto que agrediu Bas Dost, e acrescentou que William Carvalho conhecia um dos invasores, tendo-o tratado por Valter durante o incidente.
João Reis afirmou ainda que ouviu alguém perguntar pelo jogador Acuña, dando conta de que entraram no balneário entre “20 a 30 elementos encapuzados”.
João Reis testemunhou também que no início da invasão recebeu um telefonema de um elemento do 'staff' do Sporting, lhe telefonou para que fechasse as portas da academia, pois estavam a entrar adeptos.
A terminar, o roupeiro contou que só voltou a estar com os jogadores na véspera do jogo da final da Taça e que os encontrou "tristes e assustados".
Fisioterapeuta Hugo Fontes diz que ataque deixou toda a gente “surpreendida e petrificada”.
Já o fisioterapeuta Hugo Fontes revelou que começou por ver os invasores irem de encontro a Battaglia e Acuña. "Vi três ou quatro elementos a dirigirem-se ao Battaglia e ao Acuña. Agressões, empurrões, chapadas... Já estava muita confusão no balneário. O alarme estava a tocar, havia fumo", recordou, acrescentando que viu Acuña ser agredido a pontapé, apesar de este se ter tentado refugiar num cacifo.
O fisioterapeuta esteve presente na reunião na véspera do ataque à academia, entre os elementos do ‘staff’ do Sporting e Bruno de Carvalho, na qual estiveram igualmente outros elementos do Conselho de Administração.
A reunião decorreu em 14 de maio de 2018, no Estádio José de Alvalade, no dia seguinte à derrota do Sporting contra o Marítimo por 2-1, que significou a perda do segundo lugar do campeonato para o Benfica e levou à troca de palavras entre jogadores e elementos da claque Juventude Leonina, nomeadamente envolvendo o jogador Acuña, primeiro no relvado, após o jogo, e depois no Aeroporto do Funchal.
Hugo Fontes assumiu ainda ter ficado “surpreendido” quando, nessa reunião, Bruno de Carvalho “desvalorizou” a Taça de Portugal. ""A Taça de Portugal é uma m****", disse o fisioterapeuta, citando o ex-presidente.
O julgamento prossegue na tarde de hoje com o guarda-redes Luís Maximiano e o médio Wendel, que vão repetir os testemunhos, devido a falhas na gravação da videoconferência.
Luís Maximiano e Wendel foram ouvidos em 09 de dezembro de 2019, mas os registos ficaram com falhas, razão pela qual regressam ao Tribunal de Montijo para testemunharem novamente por videoconferência.
O processo, que está a ser julgado no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, ‘Mustafá’, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e ‘Mustafá’ também por um crime de tráfico de estupefacientes.
Comentários