A semana de pesadelo do Sporting, que teve início no domingo, após a derrota frente Marítimo, e que significou a perda do segundo lugar e dos milhões da Liga dos Campeões conheceu o seu apogeu na terça-feira, quando um grupo de cinco dezenas de adeptos invadiu a Academia de Alcochete, partindo para agressão de jogadores e equipa técnica. Este episódio de violência que fez eco a nível nacional e internacional abriu um crise no Sporting.
De todos os quadrantes da sociedade e universo Sporting tem sido pedida a demissão do presidente Bruno de Carvalho. Contudo, na opinião de Luís Vilar, diretor da Faculdade de Ciências da Saúde e do Desporto da Universidade Europeia, a saída de presidente dos leões já poderá pecar por tardia e o clube poderá mesmo correr o risco de desaparecer.
Com os jogadores a terem a possibilidade de alegar "justa causa" para rescindir os contratos , o investigador explica que caso o emblema de Alvalade perca "grande parte dos seus ativos" , e com uma dívida na ordem dos 310 milhões de euros, o Sporting poderá entrar numa situação de falência técnica.
"Saída de Bruno de Carvalho? Mais importante que perceber se está ou está perto, é perceber se ainda vai à tempo. Isto porque o estrago que está criado no Sporting Clube de Portugal, não sei se já não será irreparável. Como todas as sociedades desportivas, o valor da SAD está muito assente naquilo que é o valor do plantel. O Sporting tem 316 milhões de euros de ativo, dos quais 60 milhões de euros estão contabilizados como valor do plantel, dado que os jogadores da formação não estão contabilizados, por uma questão técnica. O plantel vale cerca de 202 milhões de euros. Se houver justa causa na rescisão unilateral do contrato desportivo dos jogadores, e segundo a opinião de juristas que tenho consultado, há. Então o Sporting perde grande parte do seu ativo, mantendo a dívida. Estando a dívida atualmente em 310 milhões de euros e perdendo 60 milhões do seu ativo, num total de 316 ME, o Sporting rapidamente entra em falência técnica", explicou.
Luís Vilar relembra que o ativo do Sporting não são os jogadores, mas sim os contrato dos jogadores. Caso os atletas avancem para a rescisão unilateral, "o montante transferível do contrato" pode passar para as mãos dos atletas, com o Sporting a não encaixar qualquer tipo de verba.
"O ativo que o Sporting não são jogadores, são os contratos dos jogadores. Os jogadores mesmo estando no Sporting, na segunda-feira, mas com rescisão unilateral, eles passam a ser os donos do seu contrato. E aquilo que era o montante transferível do contrato dos jogadores, acaba por passar para os jogadores. Ou seja, o Sporting entra de imediato em falência técnica. Isto aliado ao facto dos resultados financeiros da Sporting SAD estar dependente da transação de jogadores. Todos os anos, o Sporting teria prejuízo se não fosse a venda de jogadores, o Sporting deixa de ter esses jogadores para vender. Ano após ano, o que o Sporting vai ter são prejuízos sucessivos".
Com a possibilidade dos atletas poderem ficar com o ownership da sua transferência, o especialista em desporto não acredita que com esta direção, os jogadores possam mudar de ideias. Também os clubes interessados nos jogadores podem lucrar, já que uma transferência sairia sempre mais barata, caso os emblemas interessados tivessem que pagar as cláusulas de rescisão. Luís Vilar dá um exemplo: "O Rui Patrício arrisca-se a receber 10 milhões de euros para assinar pelo Nápoles em mão". O investigador fala mesmo na possibilidade do "clube poder desaparecer".
"Eu não sei até que ponto se consegue convencer os jogadores a não rescindirem unilateralmente os contratos sabendo que eles estão super motivados para o fazer. E depois porque vão ficar com a ownership da sua transferência do seu contrato. O valor da transferência já não é pago ao clube. É pago aos jogadores. O Rui Patrício arrisca-se a receber 10 milhões de euros para assinar pelo Nápoles em mão. E isso é possivelmente cinco vezes do que ele recebe por ano. Os jogadores estarão muito motivados para fazer isso. Os clubes estão assedia-los para fazer isto porque a transferência sai mais barata. O lesado aqui vai ser o Sporting. O clube pode correr o risco de desaparecer".
Sobre a possibilidade dos jogadores desistirem de alegar justa causa para abandonar o clube, Luís Vilar acredita que um volte-face seria viável com "jogadores que têm sentimento Sporting", mas não no caso dos jogadores estrangeiros, como Bas Dost ou Battaglia.
"Acho que é possível com os jogadores que têm sentimento Sporting e que estão emocionalmente envolvidos com o clube e que cresceram e viveram Sporting a vida toda. Mas aqueles em que o Sporting é apenas uma entidade patronal, mais precisamente com os estrangeiros, que passam pelo clube, eu acho que com esses não há volta a dar. Com ou sem Bruno de Carvalho eles querem sair daqui. Caso de Bas Dost, caso de Battaglia, caso de Acuña. Estou curioso para perceber o que vai acontecer com Bruno Fernandes. Porque o Bruno Fernandes é um jogador com muito mercado", finalizou.
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