Luís Filipe Vieira está de saída do Benfica, quase 18 anos depois de ter chegado à liderança do clube e oito meses depois de ter sido reconduzido para um sexto mandato consecutivo, que assumiu ser o último à frente do atual líder da I Liga de futebol.

Na corrida ao quadriénio 2020-2024, o 33.º dirigente máximo da história das ‘águias’ encabeçou a lista A e somou 62,59% dos votos, contra os 34,71% do gestor João Noronha Lopes (B) e os 1,64% do advogado, comentador e político Rui Gomes da Silva (D).

Luís Filipe Vieira, de 72 anos, recusou debates eleitorais e enfrentou meses de oposição crescente, incapazes de beliscar um ‘reinado’ iniciado em 31 de outubro de 2003, quando bateu Jaime Antunes e Reinaldo Guerra Madaleno para suceder a Manuel Vilarinho.

O empresário tinha chegado à Luz dois anos antes, em maio de 2001, na condição de diretor desportivo, concluindo uma década na presidência do Alverca, marcada pela subida da antiga II Divisão B até à I Liga e pela modernização do clube ribatejano.

Criado no Bairro das Furnas, em São Domingos de Benfica, estudou até à quarta classe, filiou-se nos rivais FC Porto e Sporting e variou o rumo profissional antes da vida nos relvados, ao vender pneus e criar empresas no setor imobiliário e na construção civil.

Eleito seis dias depois da inauguração do novo Estádio da Luz, Vieira beneficiou da credibilidade institucional reposta por Manuel Vilarinho, após o mandato turbulento de João Vale e Azevedo, e recuperou um Benfica moribundo na viragem do milénio.

Ao longo de 17 anos de presidência, o empresário devolveu às ‘águias’ estabilidade financeira e competitividade desportiva, expressas na conquista de sete campeonatos, três Taças de Portugal, sete Taças da Liga e cinco Supertaças Cândido de Oliveira.

Além das duas finais europeias perdidas, os lisboetas registaram a melhor década das modalidades, são o segundo clube com mais sócios no mundo e venderam à NOS os direitos televisivos dos jogos na Luz para a I Liga, difundidos pela BTV desde 2013.

O dirigente mais duradouro da história do Benfica tem obra feita, entre dois pavilhões, uma piscina, o Museu Cosme Damião e o Centro de estágios do Seixal, pilar estratégico onde crescem talentos, que já renderam quase 480 milhões de euros (ME).

Esses encaixes viabilizaram sete anos seguidos de lucros e foram sobredimensionados pela proximidade de Jorge Mendes, que intermediou a mudança de João Félix para o Atlético de Madrid em 2019, por 127,2 ME, no negócio mais valioso do futebol luso.

Apesar da pujança financeira, o Benfica enfraqueceu os desempenhos na Liga dos Campeões, ao ser afastado na fase de grupos nas últimas três épocas, falhou o ‘pentacampeonato’ há dois anos e assistiu à ‘dobradinha’ do FC Porto em 2019/20.

Sob o lema “Uma história com futuro”, Luís Filipe Vieira pretende reconquistar a hegemonia do futebol português no próximo quadriénio e insiste no propalado sonho europeu, tendo exibido ‘trunfos’ eleitorais com o regresso de Jorge Jesus no verão.

Contrariando juras de separação com o ex-treinador do Sporting, vencedor de três campeonatos e outros sete troféus pelos ‘encarnados’, entre 2009 e 2015, o amadorense voltou à Luz seduzido por um investimento sem precedentes em Portugal, de 98,5 ME.

Com cinco triunfos em outras tantas jornadas, o Benfica assinou o melhor arranque na I Liga nos últimos 38 anos, enquanto disputa a fase principal da Liga Europa, após a saída precoce nas pré-eliminatórias da Liga dos Campeões infligida pelos gregos do PAOK.

A última contrariedade das ‘águias’ refletiu um ano civil ávido de títulos e repleto de episódios diretivos controversos, como a Oferta Pública de Aquisição (OPA) ilegal sobre as ações da SAD ou a reprovação do orçamento para 2020/21 em assembleia-geral.

Vieira retirou em setembro os titulares de cargos públicos da comissão de honra de apoio à recandidatura, na qual sobressaía o primeiro-ministro António Costa, um dia antes de ser acusado pelo Ministério Público de oferta indevida de vantagem na operação Lex.

A justiça redobrou atenções às hostes ‘encarnadas’ desde 2015 e abriu sete processos, que decorrem a diferentes ritmos e aguardam por sentenças, tendo o empresário sido também constituído arguido em julho por crimes de fraude fiscal no caso Saco Azul.

A teia judicial crescente de Luís Filipe Vieira mancha a reputação do Benfica e deriva de 1993, quando foi condenado a 20 meses de prisão pelo roubo de um camião executado nove anos antes, embora duas leis de amnistia tenham valido o perdão total das penas.

Houve ainda o famoso caso Mantorras, arquivado em 2007, e a implicação indireta na operação Porta 18, ligada ao tráfico de estupefacientes num veículo do clube pelo seu ex-motorista José Carriço, que já cumpriu parte da pena e saiu em liberdade condicional.

Fora dos tribunais, que anularam vários jogos de interdição do Estádio da Luz pelo apoio do Benfica a claques não legalizadas, o dirigente viu uma das suas empresas gerar durante quatro anos perdas de 225,1 ME ao Novo Banco, numa dívida total de 760 ME.

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