O clima que se vive no futebol português preocupa todos e o governo não é excepção. Em entrevista conjunta ao Diário de Notícias e à TSF, o ministro da Educação admite que este clima de tensão deixa toda a gente preocupada.
"Estamos todos preocupados, necessariamente. O futebol é uma festa, o futebol é o desporto rei em Portugal, por tudo aquilo que nos provoca, por tudo aquilo que nos tem dado, a apologia do ódio não pode de todo dominar o futebol. O presidente da Federação Portuguesa de Futebol, alguém que nós todos identificamos como sendo um homem clarividente, lúcido, disse que há sinais de alarme e escreveu um artigo de opinião que espalhou bem - e digo este espalhar com positividade - pelos meios de comunicação diários, houve eco na rádio e nas televisões", começou por dizer Tiago Brandão Rodrigues.
"O que eu acho é que este clima de crispação nos enfraquece. Nós temos falado, eu, o senhor secretário de estado da Juventude e Desporto, constantemente com a APAF, com a FPF, com a Liga de Clubes. Todos nós queremos uma Liga de Clubes forte, todos nós entendemos o papel da Federação, porque o Governo dá as competências do futebol e da organização das competições, a Liga tem de ter autonomia e, por outro lado, a Liga de Futebol Profissional organiza as competições de futebol profissionais".
O titular da pasta da Educação, que também tutela o Desporto, acredita que o Governo tem de tentar criar consensos dentro do mundo do futebol.
"O Governo tem de, por um lado, ter formas de ir criando consensos e, por outro lado ir apelando de forma séria, porque neste momento é o que há que fazer, à contenção dos dirigentes, dos comentadores, dos órgãos de comunicação social. Basicamente há algo de que não nos podemos esquecer: o futebol é um espetáculo, agora, o futebol não pode ser, nunca pode ser, um reality show. Nós sabemos as vicissitudes que tem o futebol e este é um problema transnacional".
Tiago Brandão Rodrigues admitiu que, para além deste clima, existem outros problemas que preocupam o futebol nacional.
"O futebol tem problemas e tem problemas transnacionais. Dentro da UNESCO, dentro da União Europeia, no Comité Olímpico Internacional, já participei em várias discussões relacionadas com os problemas do futebol ser também uma das alavancas económico-financeiras a nível mundial de uma parte significativa de muitos dos negócios que temos. Negócios que vão desde o têxtil, até aos meios de comunicação social, ao turismo. O futebol engloba muitos interesses e, como eu disse, tem de continuar a preservar-se para poder ser efetivamente um espetáculo, mas para não se transformar num reality show. Porque o futebol tem outros problemas, como as apostas online, como o vulgarmente chamado, num anglicismo, o match fixing, a viciação de resultados online. O que nós temos de fazer é continuar a articular e fazer entre todos com que fenómenos extradesportivos de ódio, de crime, de organização criminosa estejam sempre fora do futebol e do desporto".
O governante revela também que o governo poderá aplicar sanções mais pesadas para que o clima no mundo do futebol se pacifique.
"Esse é um caminho que estamos a fazer, no entendimento de quais são os instrumentos que nós temos de possuir entre todos para que possamos dar resposta a quem subverte. Esse é o caminho que estamos a fazer com os vários atores. Já tivemos outros momentos como este no mundo do futebol. Se bem se recordam, a viciação de resultados começou a ser entendida nos jogos da primeira liga e da segunda, como uma possibilidade, inclusivamente tivemos alguns casos que foram noticiados de envolvimento de jogadores e que estão a ser julgados.", referiu.
"Foi entendido também, pela Federação Portuguesa de Futebol em conjugação com a Polícia Judiciária, com o entendimento dos vários partidos políticos na Assembleia da República, em articulação com o Governo, com o Ministério da Justiça, com o Ministério da Educação que tutela o desporto, com o Ministério da Administração Interna, que era preciso fazer algo e existe neste momento uma nova moldura penal. É este o caminho que se está a fazer. Muitas vezes os regimes sancionatórios ou penalizadores surgem porque há uma implicação formal, há necessidade de os criar. Neste momento nós temos uma realidade, é bom que essa realidade possa desaparecer."
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