O caso da invasão a Alcochete ainda vai fazer 'correr muita tinta'. Para já, são 38 o número de detidos, um deles, Bruno Jacinto, ex-Oficial de Ligação aos Adeptos do Sporting. O antigo funcionário do clube (terá sido demitido na 2.ª feira, antes de ser preso, de acordo com o jornal ABola) foi ouvido esta quarta-feira no Tribunal do Barreiro. De acordo com o jornal Record, Bruno Jacinto terá dito que informou André Geraldes, na altura Team Manager do Sporting, da possibilidade de um ataque dos adeptos leoninos a Academia do clube, um dia antes dos acontecimentos.

Essa versão foi depois confirmada pelo seu advogado, à saída do Tribunal do Barreiro, explicando que o seu cliente "alertou a segurança da Academia antes da prática dos factos".

"Penso que quem viu os desaguisados no aeroporto da Madeira teve a perfeita noção que alguma coisa iria acontecer na Academia. Não vejo como alguém não soubesse o que iria acontecer. Possivelmente houve alguma falta de cuidado por parte do Sporting em proteger os seus ativos. Creio que deveria ter tomado especiais cuidados. Se isso tivesse sido feito, estes factos não teriam ocorrido", disse aos jornalistas Paulo Camoesas, advogado do antigo Oficial de Ligação aos Adeptos no Sporting.

Bruno Jacinto terá reforçado a ideia de que André Geraldes (e, por consequência, Bruno de Carvalho) sabiam da possibilidade do ataque, ao explicar que enviou mensagens (via Whatsapp) a Geraldes, 18 minutos antes dos ataques, escreve o Record. Mas não obteve resposta.

Diz o Record que o Ministério Público desconfia que Bruno de Carvalho sabia, no mínimo, que algo estaria a ser preparado contra a equipa de futebol (de forma direta ou indireta). O MP já pediu ao Departamento de Investigação e Ação Penal do Porto as escutas telefónicas feitas a André Geraldes no âmbito do caso 'Cashball'.

Contactado pelo jornal Record, fonte de André Geraldes negou "de forma absoluta e veemente" as acusações feitas por Bruno Jacinto de que teria recebido um telefonema do ex-OLA do Sporting um dia antes dos ataques a Alcochete. Diz a mesma fonte que Geraldes pondera avançar com processo-crime contra Bruno Jacinto por difamação. A defesa de Geraldes recorda que no dia dos acontecimentos em Alcochete, o ex-Team Manager do Sporting estava em reuniões com advogados, a preparar a sua defesa no caso 'Cashball' em que se viu envolvido.

Bruno Jacinto, suspeito de envolvimento nos incidentes de 15 de maio, na academia do clube, em Alcochete, vai aguardar o desenvolvimento do inquérito em prisão preventiva. Após mais de três horas de interrogatório, o juiz de instrução criminal do Tribunal do Barreiro, no distrito de Setúbal, justificou a aplicação da medida de coação de prisão preventiva a Bruno Jacinto, que à data dos incidentes em Alcochete era oficial de ligação aos adeptos, por considerar que existe perigo de fuga, de perturbação do inquérito e de continuação da atividade criminosa.

Detido na terça-feira, Bruno Jacinto está indiciado, entre outros, pela prática, em co-autoria, de mais de 20 crimes de ameaça agravada, 12 crimes de ofensa à integridade, 20 crimes de sequestro e um crime de terrorismo.

Bruno Jacinto é já o 38.º elemento em prisão preventiva por alegado envolvimento nos incidentes de 15 de maio na academia do Sporting, em Alcochete, em que cerca de 40 alegados adeptos do clube, encapuzados, agrediram alguns jogadores, treinadores e ‘staff'.

Os 38 arguidos que estão em prisão preventiva, entre eles o antigo líder da claque Juventude Leonina Fernando Mendes, são todos suspeitos da prática de diversos crimes, designadamente dos crimes de terrorismo, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada, sequestro e dano com violência.

Na sequência do ataque à academia do Sporting, nove futebolistas rescindiram os contratos com o clube. Rui Patrício, Rafael Leão, Daniel Podence, Gelson Martins e Ruben Ribeiro saíram em litígio com o Sporting e transferiram-se para outros clubes. Bas Dost, Bruno Fernandes e Rodrigo Battaglia voltaram atrás na decisão de abandonar o Sporting, enquanto William Carvalho saiu para o Bétis, de Espanha, após acordo do clube espanhol com os 'leões'.

Já no início deste mês, o Tribunal da Relação de Lisboa manteve em prisão preventiva oito dos suspeitos do ataque, revelou a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa. O Tribunal da Relação de Lisboa ainda tem de pronunciar-se sobre os restantes recursos interpostos pela maioria dos detidos neste processo.