O presidente do sindicato dos futebolistas lamentou hoje o “silêncio ensurdecedor das pessoas de futebol” sobre o caso de tráfico humano numa academia desportiva, lembrando que o fenómeno é transversal à sociedade e deve ser combatido mais fiscalização.

Joaquim Evangelista considerou importante a criação de uma rede que junte associações distritais e autarquias encarregada “da fiscalização e sinalização”, de casos suspeitos “que obrigue as entidades competentes a agirem”.

“Mas é preocupante a indiferença do mundo desportivo, da sociedade civil perante este fenómeno. O silêncio acontece por cumplicidade e por indiferença. Vivemos numa sociedade de indiferença, não é só no futebol, é na sociedade em geral”, disse, em declarações à agência Lusa, acrescentando: “O desporto devia promover valores e não, de facto, a exploração humana”.

Evangelista afirmou que este fenómeno surge sobretudo no futebol amador: “Se formos ver, há imensas cidades anónimas desportivas, organizadas empresarialmente, em clubes amadores. É uma contradição, porque o futebol amador, o futebol local, tem outro objetivo, que é promover a prática desportiva, local, a parte recreativa, e não o futebol profissional, esse disputa-se na primeira e segunda liga”.

“Quando chegam jogadores estrangeiros a um clube desta dimensão, deve disparar um sinal de alerta, não? Porque é que vão jogadores estrangeiros para um clube amador? Ou para os juniores? É estranho, não é? Quando a função social do clube não é essa”, questionou.

Joaquim Evangelista afirmou que em 2021, o sindicato alertou o então secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, para o problema, explicando que esta “é uma função do Estado”.

“Foram convocadas as organizações diretamente ou indiretamente envolvidas neste caso, nomeadamente o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a Segurança Social, o Ministério dos Negócios Estrangeiros”, disse, acrescentando que “houve uma reunião”, mas “nada mais foi feito”.

Na quarta-feira, o SEF anunciou que foram constituídos arguidos dois cidadãos portugueses e cinco sociedades, no âmbito da investigação por eventual tráfico de seres humanos com epicentro numa academia de futebol em Famalicão.

As buscas aconteceram numa academia de futebol em Riba de Ave, Vila Nova de Famalicão, e estenderam-se ainda à casa do presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Mário Costa, ligado àquela academia, que, entretanto renunciou ao cargo.

O Governo, através do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, considerou já classificou a situção como “inaceitável, chocante e condenável", e garantiu que irá apresentar, no próximo Conselho Nacional do Desporto, um conjunto de propostas, algumas delas de caráter legislativo, para que se responda "com força e com brevidade a um flagelo que teima em não abandonar o nosso território e mais concretamente o desporto”.