Alex Telles recebeu o SAPO Desporto no centro de treinos do Al Nassr, em Riade, Arábia Saudita, para uma entrevista exclusiva. O antigo jogador do FC Porto falou da sua passagem pelos azuis e brancos, da estreia na seleção brasileira, do contributo de Cristiano Ronaldo para que se mudasse para o emblema saudita, do seu futuro e ainda sobre o momento atual das várias seleções brasileiras.
Veja a entrevista exclusiva de Alex Telles ao SAPO Desporto
SAPO Desporto: Disse numa entrevista que foi também Cristiano Ronaldo quem o convenceu a vir para o Al Nassr. Como foi essa conversa? Esperava que ele lhe ligasse para falar sobre a transferência?
Alex Telles: "Cristiano Ronaldo foi uma peça muito importante para a minha vinda para cá. Trocámos mensagens antes, tinha o meu agente envolvido mas obviamente que, tratando-se da lenda Cristiano Ronaldo, da grandeza que ele tem, já conhecíamos desde o Manchester United, claramente facilitou a minha vinda. Conversámos bastante, ele disse-me como era o clube e que estava ansioso pela minha vinda. Fico contente por ter um atleta e ser humano como ele... com toda a sua dedicação para que eu viesse para cá. Então todo esse esforço que faço por mim também é por ele, pelo Al Nassr e por todos os atletas que aqui estão."
SAPO Desporto: Ele já disse que não quer ser treinador quando deixar o futebol mas nos jogos é vê-lo a comandar as tropas. Ele é chato quando a equipa não está a vencer? Puxa muito, cobra muito? É exigente com os colegas como é com ele mesmo?
Alex Telles: "É um capitão e líder nato, todos conhecem a sua forma de lidar com o futebol, pelo profissionalismo que ele tem... E o bom disso é que ele é um líder positivo, sempre a puxar pela equipa pelo positivo, nunca deixa a equipa deitar a toalha ao chão. Usamos isso como exemplo, é muito influente na nossa equipa, para nós é uma mais-valia."
SAPO Desporto: Tem dois golos e quatro assistências em 22 jogos esta época, números abaixo dos seus melhores no FC Porto. Agora participa menos no processo ofensivo ou encontra outro motivo para não ter os números que já apresentou no passado?
Alex Telles: "Houve uma adaptação, hoje sinto-me adaptado. Infelizmente tive duas lesões esta época que me deixaram fora sem jogar praticamente um mês e meio, dois meses, perdi muitos jogos, não estou a jogar também todos os jogos da Champions. Isso tem influência. Mas quando jogo dou o meu melhor, procuro fazer o máximo e acredito que, não só com golos, mas também com assistências, consigo ajudar muito a equipa com a minha forma de estar em campo, com a minha experiência e a minha jogabilidade e, para mim, isso é o mais importante."
SAPO Desporto: Quando chegou ao FC Porto em julho de 2016, disse, "Não quero vir de passagem, quero deixar um legado". Imaginava, quatro épocas depois, que seria esse o legado que deixou, de ser o defesa mais goleador do clube, com 26 golos, sem contar que fez sempre 10 ou mais assistências em cada época.
Alex Telles: "Procuro sempre os meus limites, gosto de passar esses limites e procurar o próximo degrau. Quando disse isso, na época, não imaginava chegar onde cheguei no FC Porto. Mas falei totalmente convicto das minhas vontades porque onde chego, dou sempre o meu melhor, quero sempre deixar um bom legado, por isso mostro sempre o meu melhor e aqui no Al Nassr não é diferente. Quero fazer o mesmo caminho. Tenho uma gratidão eterna pelo FC Porto, tenho muitas boas lembranças de lá. As pessoas sabem o carinho que tenho pelo clube, pela cidade, e quero o mesmo no Al Nassr, vim para deixar o meu legado e mostrar as minhas qualidades."
SAPO Desporto: O título do FC Porto em 2020 tem um forte contributo de Alex Telles, com 11 golos e oito assistências, nesta que foi também a melhor época da sua carreira. Deu a vitória diante do Boavista e Portimonense, em casa e fora, evitou a derrota com o Belenenses no empate 1-1 no Restelo, marcou ao Benfica. Nessa época estava 'voando', como dizem os brasileiros?
Alex Telles: "Não só aquela época, mas houve duas ou três épocas no FC Porto em que tive grandes números e uma grande influência na equipa. Compartilho isso com os jogadores que ali estavam e também com o mister Conceição que sempre tirava o melhor de todos. Foram anos e épocas muito marcantes. Normalmente um lateral não faz tantos golos e assistências, mas tive um ano atípico, marcante. Fico muito feliz porque também consegui ir à seleção [brasileira] nessa época. O FC Porto traz-me muitas boas lembranças."
SAPO Desporto: O FC Porto ficará marcado para sempre na sua memória, na sua carreira, por vários motivos. Foi através do que fez no FC Porto que chegou à seleção brasileira. E quis o destino que a estreia fosse no Estádio do Dragão, contra o Panamá. Qual foi o sentimento de finalmente chegar à seleção, e a jogar praticamente na tua casa?
Alex Telles: "Não esperava que fosse daquela forma mas foi praticamente perfeito, só não foi melhor porque não vencemos, empatámos com o Panamá. Mas estrear-me pela seleção brasileira no Estádio do Dragão, casa da equipa onde eu jogava, foi muito especial, tinha lá praticamente toda a minha família. Foi um momento marcante para mim e a partir daí tive uma boa sequência na seleção, praticamente três, quatro anos até ao último Mundial [2022 no Qatar]. Fico muito contente por poder fazer parte dessa história."
SAPO Desporto: De que forma é que olha para o momento atual do FC Porto? Na Primeira Liga já está longe dos líderes mas na Champions a equipa está a corresponder, como se viu recentemente com Arsenal, numa exibição muito elogiada lá fora. Tem acompanhado os jogos?
Alex Telles: "Acompanho sempre o FC Porto, vejo os jogos quando consigo, acompanho o campeonato português pelos amigos que tenho ali, pela gratidão e carinho que tenho pelo FC Porto. Vi o último jogo contra o Arsenal para a Champions e vibrei com o golo do Galeno aos 90+4. Fiquei muito contente porque é um miúdo que merece, está com a minha camisola, a 13, uma camisola especial, fico feliz de ver aquela camisola fazer momentos especiais no Dragão novamente."
SAPO Desporto: Outro ponto que marca o clube são as eleições que aí vêm, com troca de acusações entre candidatos e uma grande divisão entre os que apoiam Pinto da Costa e os que apoiam André Villas-Boas. Como é que tem acompanhado todos estes casos, estas polémicas também sobre as finanças do clube?
Alex Telles: "Acabamos sempre por ver algumas notícias, vamos acompanhando algumas coisas. Nesta parte de política não tenho muita opinião mas torço sempre para que aconteça o melhor ao FC Porto, porque o clube é o mais importante no meio de tudo isto, e tenho a certeza que Deus irá colocar as melhores pessoas ali para levar o clube para a frente."
SAPO Desporto: Quando foi para o Manchester United, esperava com essa mudança, de jogar na Premier League, ser chamado mais vezes à seleção do Brasil?
Alex Telles: "A minha ida para Inglaterra foi também [o cumprir de] um desejo, tinha o sonho de jogar na Premier League, o campeonato mais disputado do Mundo, na minha opinião, com uma qualidade muito alta, com grandes jogadores e grandes equipas. Era um dos objetivos de carreira e graças a Deus consegui atingir. Sabia que estando lá teria mais possibilidade de ser chamado à seleção brasileira. Foi algo muito estratégico para mim. E deu tudo certo, tive uma sequência muito grande [de jogos] na seleção [brasileira] e consegui jogar um Mundial que era o meu maior sonho."
SAPO Desporto: Fez 50 jogos nas duas épocas no Manchester United, numa fase complicada do clube. Esperava jogar mais? O que guarda dessa experiência na Premier League?
Alex Telles: "Foi uma mistura de adaptação com o [o facto de] eles também terem um grande jogador que é o Luke Shaw, o melhor lateral esquerdo da Premier League. No meu primeiro ano dividimos os jogos e a vaga no onze titular. Mas dávamo-nos super bem, é um amigo que tenho, tem muita qualidade. Dentro destas circunstâncias, ele com muito tempo no clube, consegui fazer 25 jogos por época. 50 jogos num clube com o United [em dois anos] é positivo. Para a minha carreira foi muito bom."
SAPO Desporto: Falemos um pouco da seleção brasileira, que representou no Mundial2022. O Brasil tem estado abaixo das expetativas nas várias seleções. Não se qualificou para o torneio olímpico no futebol masculino, no Mundial feminino de 2023 nem passou da fase de grupos, no Mundial masculino sub-20 foi afastado nos quartos de final por Israel. Como olha para essa fase do Brasil nas várias seleções? Mesmo a principal está em perigo no apuramento para o Mundial2026.
Alex Telles: "Acompanho sempre, tratando-se de desporto, de futebol. Fico triste de ver o Brasil fora dos Jogos Olímpicos. Estamos a ver uma enorme transformação, quer se queira, quer não, no futebol brasileiro em muitos aspetos. Torço pelo melhor, sou brasileiro. Obviamente quero que s coisas estejam da melhor forma, é o Brasil, que foi sempre o país do futebol, que sempre esteve nos melhores lugares em quase todos os escalões de futebol...torço para que aconteça. Estou aqui para ajudar. Espero que as pessoas encarregadas consigam tomar as melhores decisões para que o desporto aconteça, que dê igualdade a todos, que possamos conseguir ir à procura do mais importante que é o respeito, dar o melhor de si para levar o Brasil cada vez mais longe."
SAPO Desporto: Tem 31 anos, altura em que muitos craques brasileiros que estão na Europa acabam por voltar para o Brasileirão. Quando fez aquela época fantástica no Grémio antes de vir para a Europa foi considerado o melhor lateral esquerdo do Brasileirão. Tem em mente voltar nos próximos anos para acabar, por exemplo no Grémio, ou mesmo no seu Juventude, ou ainda é cedo para pensar nisso?
Alex Telles: "Praticamente ainda não pensei muito nisso. Tenho 31 anos, acredito que ainda vou jogar mais alguns anos. Ainda não penso em terminar ou no último clube. Tenho um exemplo muito próximo que é o Cris [n.d.r. Cristiano Ronaldo], com 39 anos, correndo muito, jogando, é uma influência positiva para nós. Cada vez mais temos tecnologias que nos fazem recuperar bem para estarmos disponíveis para o próximo jogo. O meu foco é esse, cuidar-me bem, cuidar das questões do corpo e conseguir jogar o mais rápido possível, ir o mais longe possível... Não vou dizer nunca quanto a voltar para o Brasil, há muitos clubes em quem pensamos poder jogar daqui para a frente e veremos o que vai acontecer. Eu penso sempre de ano a ano. Tenho a minha cabeça no Al Nassr, estou muito feliz aqui e não penso em sair agora.
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