A importância dos presidentes no sucesso desportivo dos clubes portugueses campeões de futebol tem aumentado nas últimas décadas, conclui um estudo levado a cabo pelo investigador Rui Lança, da Universidade Europeia.
O estudo, intitulado “O impacto das estruturas dos clubes de futebol e dos treinadores como preditores de sucesso no campeonato de futebol desde 1934 a 2017”, olha para os dados oficiais disponíveis dos clubes que, a cada edição da I Liga, terminaram nos primeiros três lugares da tabela.
Entre as conclusões está uma maior prevalência dos treinadores no que toca ao sucesso dos clubes por que passavam até ao virar da década de 1980, quando as estruturas começaram a ganhar mais impacto, reduzindo o peso dos técnicos e aumentando a estabilidade, promovida pela permanência mais longa dos presidentes e direções à frente dos emblemas.
“A partir daí, o que aconteceu foi o presidente estar mais tempo com vários treinadores campeões, o que altera aqui a importância. Deixámos de ter um treinador campeão em vários locais e passámos a ter uma estrutura campeã”, explicou à Lusa o investigador.
Um dos dados indissociáveis da mudança de paradigma é a chegada a presidente do FC Porto de Pinto da Costa, que “mesmo que não seja correlacionada” acontece em simultâneo à maior preponderância das direções na estabilidade de resultados.
“Antigamente, quando os treinadores saíam, os resultados eram piores e havia maior oscilação”, justificou, adiantando que a estrutura assegura, nas últimas três a quatro décadas, uma maior estabilidade de resultados, algo também relacionado com a “capacidade de decisão” e gestão do plantel.
Nos últimos anos, os jogadores influentes, que Rui Lança definiu como sendo o atleta mais utilizado e o jogador que marca mais golos, como forma de avaliar métricas de impacto no desempenho desportivo, ficam “menos tempo nos clubes, o que faz com que a estrutura tenha de alavancar outro tipo de vantagens e tentar criar estabilidade a partir de outras coisas”.
O peso da estrutura vê-se, por exemplo, na sua “capacidade de resposta, de manutenção de talento, em estar mais ou menos presente em momento de sucesso ou insucesso”, bem como na contratação de treinadores “alinhados com os valores da estrutura”.
“Ao contrário do que acontecia até à década de 1970, em que os clubes tentavam roubar os treinadores campeões e continuavam a ter sucesso, depois o presidente passou a estar mais tempo com vários treinadores que se sagravam campeões”, um dado que se vê no “grande ciclo” dos ‘dragões’ mas também com Luís Filipe Vieira, no Benfica.
Com este modelo, a estrutura “acaba por ter mais autonomia e depende mais de si própria em vez de depender de um treinador”, sendo que a tendência de decréscimo da importância do treinador se nota quando um treinador não é campeão por dois clubes diferentes desde 1969, o brasileiro Otto Glória, com quatro títulos no Benfica, em 1954/55, 1967/68 e 1968/69, e dois no Sporting, em 1961/62 e 1965/66.
A exceção, nota o investigador, é o Sporting, que é campeão em 2000 e 2002 com dois presidentes diferentes, primeiro José Roquette e depois com Dias da Cunha, mas as vantagens para um clube aumentam quando o “presidente fica mais tempo”, o que se prova através de uma maior permanência nos três primeiros lugares do campeonato.
Com FC Porto e Benfica liderados pelos mesmos nomes há vários anos, o caso mais recente entre os chamados três ‘grandes’ é o do Sporting, em que Bruno de Carvalho assumiu a presidência em 2013, tendo colocado, segundo o estudo de Rui Lança, o clube “mais próximo do êxito ao considerar-se a estrutura”, por ter “estabilizado o pódio classificativo”.
“Até pode ser um bocado polémico, mas o Sporting neste momento está mais estável em termos classificativos, mantém-se mais vezes no pódio. Isto pode ser dito de Bruno de Carvalho como qualquer outro nome, porque não estou a avaliar o perfil de liderança”, referiu.
Ainda assim, o perfil de treinador “não corresponde” à tendência das últimas décadas, uma vez que os ‘leões’ utilizaram uma estratégia a que tinham recorrido várias vezes no passado, ao contratar Jorge Jesus, três vezes campeão no Benfica.
De fora dos três ‘grandes’, também o Sporting de Braga beneficiou com a liderança prolongada de António Salvador, segundo o mesmo estudo, o que se viu também no caso do Boavista, campeão com João Loureiro, entretanto regressado à presidência em 2013 depois de um período inicial entre 1997 e 2007, tendo sido campeão em 2001.
Utilizando uma metodologia que permite cruzar várias variáveis e estabelecer correlações entre vários dados, Rui Lança definiu quatro dimensões de estudo: ambiente, estrutura, liderança (o treinador) e sucesso, recorrendo a modelização SEM para relacionar as quatro e avaliar a sua importância.
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