No último debate antes das eleições para a presidência do Sporting, os seis candidatos juntaram-se na Sporting TV para dar o seu parecer sobre alguns dos maiores problemas e desafios dos 'leões'. Este debate surge dias depois de Paulo Jorge Santos, membro da Comissão de Fiscalização, ter anunciado um défice de tesouraria de 120 milhões de euros.

João Benedito

Situação financeira: "Ninguém sabe o que está a dizer, uns dizem uma coisa, outros dizem outra. Que a informação não seja omissa para aqueles que vão chegar ao clube. A dívida de tesouraria não é tão elevada como se estava à espera, nem a situação tão complicada. Todos esperamos não ser surpreendidos. É importante que se tenha paz. Que não venham pessoas da Comissão de Fiscalização falar deste tipo de informação. Vamos ter prudência. A partir de amanhã haverá uma nova realidade."

Títulos e verdade desportiva: "Altas instâncias pronunciaram-se pelos incidentes da Academia mas sobre estes casos não. Temos de defender a dignidade e verdade desportiva dentro de campo. Defendemos a indústria e o negócio, mas não tentem passar por cima de nós. Há suspeição a nível mundial. Sem intervenção vão continuar a fazer essas coisas e nós como santinhos... Não há paz. Enquanto houver corrupção e não se limpar o futebol português não haverá paz."

Academia: "O treinador do Sporting tem de ter perfil para aproveitar jogadores da formação. Temos de rever a formação, o recrutamento. E temos de avaliar o 'lobby' no aproveitamento dos nossos jogadores [nas seleções]. Defendo que temos de ter cerca de 48 jogadores entre equipa A e Liga Revelação. Temos de nos associar à tecnologia, cuidar a performance e prevenção de lesão, otimização da capacidade física... Fui a Munique conhecer a realidade deles. Temos de trocar ideias e posicionar o Sporting no topo da Europa."

SAD: "Teremos um CEO, não revelo o nome porque em caso de não sermos eleitos essas pessoas não podem ficar afastadas do mercado de trabalho. Não é esconder ou enganar, queremos é o melhor para a posição. Financiar o clube através da SAD garante transparência. Eu não vejo separação das águas, mas há a questão legal. CEO é para as áreas não desportivas, quem vai mandar no futebol sou eu."

Alegações finais: "Compareçam massivamente para o ato eleitoral mais importante da história do clube. Temos pessoas que querem retribuir o que o clube lhes deu. A minha equipa esteve dentro do campo e sabe o que é ganhar."

José Maria Ricciardi

Situação financeira: "A Comissão de Gestão não está a dizer a verdade, nomeadamente o Dr. Torres Pereira. O relatório está iminente, fala das contas do passado e tem obrigação de falar das contas do futuro. Não sei se vai ser assim. O défice de tesouraria anda à volta dos 100 milhões de euros. Poderá ser maior do que isto ou não por isto: além dos 100 milhões – é a minha visão - , e quando falo deste défice, falo do empréstimo obrigacionista que temos de fazer – há mais 32 milhões de euros que é a tal história dos jogadores que foram vendidos acima dos oito milhões e que o Sporting tinha obrigação de metade ter de ir para os bancos.

Além disso, havia outra parte do acordo em que o Sporting tinha de reservar um X por ano para que quando chegasse a compra das VMOC ter o dinheiro suficiente para não perder a maioria da SAD. E isso representa de grosso modo 32 milhões. Se somarmos ao défice de tesouraria os 32, andamos naquela história dos 130, 125, 118… Se o Sporting conseguir fazer uma reestruturação, então esses 32 não serão devidos. Mas eu não quero iludir os sócios.

O Dr. Torres Pereira não pode dizer que não é nada disto, porque é exatamente isto. Tenho pena que tenha enganado ou induzido os sócios em erro. É um assunto difícil, não é propriamente uma coisa fácil. Estou a dizer que e possível. Acredito que a minha candidatura o consegue fazer, mas é preciso fazer. Não aceito, e peço desculpa, estas afirmações vergonhosas do Dr. Torres Pereira. Ele vai sair no dia 8, 9 ou 10 e quem for eleito, que espero ser eu, é que vai ter de lidar com isto."

Títulos e verdade desportiva: "Quem comete crimes deve ser preso. Se vão para a segunda, tudo bem. Mas em nenhum país da Europa os dirigentes passam a vida a insultar-se como cá. Cá não se podem ver. Não advogo isso, este ambiente é caricato e tem de acabar. Não se pode incitar ao ódio, como vimos constantemente com Bruno de Carvalho. Comigo isso não. Há coisas inaceitáveis, mas isso não branqueia as nossas responsabilidades. Não ganhámos também por nossa culpa, às vezes faltou liderança, coesão e capacidade. O futebol está a globalizar-se e quem não entrar na primeira liga europeia fica para trás."

Academia: "Benedito foi ver a Academia do Bayern que é 10 vezes pior que a nossa. Não digo que tenha de ser melhorada a Academia, mas tenho orgulho nela. Precisamos de mais campos, mais gabinetes... mas tem-se feito um trabalho notável. Bruno de Carvalho comprou 150 ou 160 jogadores, ligou menos à Academia, mas a maior parte deles não serviram para nada. Nunca foi promovida lá fora e isso faz falta. Não temos nada a aprender com os alemães. Estávamos à frente porque antes Benfica e Braga não tinham Academia, agora têm."

SAD: "O Sporting tem uma visão patética dos acionistas. Têm de ser bem tratados! O Sporting será maioritário, mas podemos fazer entrar novos investidores que nos permitam - e Rui Jorge Rego comunga da minha opinião - entrar por exemplo nos torneios de pré-época nos Estados Unidos, Ásia, e etc, para ganhar novos adeptos. Vou ser presidente da SAD, vejam o resultado do Belenenses... Não vou ter CEO porque eu quero mandar na sociedade, Chief Operational Officer é o que eu vou ter. Vou mandar em conjunto com outras pessoas. Haverá o Chief Finantial Officer para a parte financeira e depois a estrutura do futebol ligada a isto."

Alegações finais: "Às vezes fui mais agressivo ou abrasivo, peço desculpa, mas foi porque fui insultado e já me pediram desculpa. O Sporting não está para romantismos ou ingenuidades, está para equipa com capacidade de gestão, liderança, profissionalismo e paixão. Estamos a contactar jogadores para janeiro, para sermos já campeões este ano, como aconteceu com César Prates, André Cruz que agora é empresário [diretor desportivo com Benedito], e Mbo Mpenza que com eles fomos campeões."

Frederico Varandas

Situação financeira: "Primeiro é uma constatação que a situação não era tão boa nem de vida ou de morte. A minha equipa chegou à conclusão que tínhamos necessidades de tesouraria de 120 milhões de euros. Com a saída da equipa técnica e do Doumbia os valores são diferentes. A anterior direcção realizou uma restruturação financeira interessante com a recuperação das vmoc’s. Esta questão preocupa-nos mas não nos tira o sono. É importante discutir as receitas da performace desportiva e as não desportivas."

Títulos e verdade desportiva: "Primeiro temos de olhar para dentro de casa. Se chega? Não. O Apito Dourado é real, é vergonha para o FC Porto e futebol português, os sócios do FC Porto tentam atirar isso para debaixo do tapete. E agora a fase toupeira, outra vergonha, como a suspensão do Moreirense. Até hoje não fomos condenados de nada e comigo garantidamente o Sporting não terá telhados de vidro. Isto é só o início. Vamos estar atentos ao processo e às consequências."

Academia: "Só nos aguentamos no escalão de Sub-17 em termos de Seleção. O paradigma mudou. Temos de ver recrutamento, área técnica... E eu tenho soluções já! Temos de ser mais efetivos e para isso precisamos de investimento. Decisão de acabar com a equipa B creio que foi política por ter descido e agora tem de recomeçar pelos distritais. Liga Revelação não dá a mesma competitividade, tanto que os rivais não acabaram com a equipa B."

SAD: "Temos pessoas identificadas, eu estando do lado dos sócios que vão votar gostava de saber quem são as pessoas. Acreditam no projeto e deram a cara."

Alegações finais: "Este é o ato eleitoral decisivo, que vai permitir sermos grandes ou afastarmo-nos e sermos um clube médio. Que seja o maior ato eleitoral. Tenho fome de títulos, quero Sporting a vencer, com coragem e não submisso a ninguém. Nunca mais quero ver um Sporting com insultos, perseguição e delito de opinião, ofensas... Não quero notáveis, ilustres, sportingados."

Rui Jorge Rego

Situação financeira: "A questão é como chegamos aqui. O que nos traz a este ponto é termos orçamentos em que as despesas são maiores do que as receitas, ano após ano. Temos de aumentar as receitas, controlar os custos. É triste chegarmos aqui e só nos podermos fiar nas contas de março. Uns dizem uma coisa, outros dizem outra. Isto tem de acabar. Corrói por dentro. O Sporting tem de começar a falar sempre a uma só voz. Temos as soluções e já as explicámos. Não se percebe como em campanha há estas afirmações. A pedra de toque não é quem está certo. Não consigo é entender como isto pode acontecer."

Títulos e verdade desportiva: "O Sporting podia ter posição passiva se os órgãos de decisão funcionassem. Obriga-nos a ter posição de força. Temos de fazer pressão. Teremos de exigir ser ressarcidos. Há muita gente, e jogadores também, que nem querem ouvir falar do campeonato português, não querem jogar cá. Temos de nos preocupar. No Sporting passamos o tempo em guerras internas e temos, nós todos, a obrigação de as deixar de ter, para ter força para conseguir fazer a guerra que temos de fazer. Em Portugal as coisas não se resolvem rápido, por isso se fazem e continuam a fazer... Há corrupção e impunidade."

Academia: "Andamos a vender ao desbarato, basta ver Ronaldo, Nani, Dier. Temos de preparar a formação para as lacunas que temos na equipa principal."

SAD: "Temos parceiros estratégicos, vamos conseguir equipa competitiva com controlo das despesas. Teremos equipa polvilhada com os jovens da formação. Vamos passar dinheiro ao clube para as modalidades serem competitivas. Mas temos de aumentar o número de consumidores. Mas temos de atingir objetivos. Eu fui buscar uma pessoa que já trabalha na SAD [Paulo Lopo], tem mais experiência que todos nós aqui."

Alegações finais: "Ficaram percetíveis para os sócios as diferenças entre os candidatos, apelo aos sócios a comparecerem em massa pois estas eleições são muito mais importantes do que possam parecer. Estamos a entrar num período crítico do futebol português e a sua interação com o futebol mundial."

Dias Ferreira

Situação financeira: "O que me descansa é conhecer a restruturação financeira em curso, e o facto de prever um défice como realmente está. Só posso dizer que me descansa porque tenho de acreditar que a situação está controlada. Se assim não for quem fez a afirmação terá de ser responsabilizado. Fico admirado como há uma posição diferente entre um membro da Comissão de Fiscalização e a Comissão de Gestão na fase final da campanha. É profundamente que estas comissões não se entendam sobre os valores, e discutam isso na praça pública. Esperemos que depois de amanhã comece uma nova era com total transparência."

Títulos e verdade desportiva: "Temo-nos autoflagelado internamente, mas mesmo com boas equipas não ganhámos porque não é possível em ambiente de concorrência desleal. Há quem seja sério e quem é gatuno. Neste país quem é gatuno é bom, e os bons continuam a sofrer. Por isso temos perdido nos últimos anos. O país ainda não viu a gravidade deste caso das toupeiras? Temos de por cobro a isto. É grave a Comissão de Gestão ter ido à Luz dar abraços e beijinhos"

Academia: "Temos um projeto. O problema da formação é de recursos humanos."

SAD: "Objetivo de distribuir lucros. A SAD é que está representada na Federação e Liga, por isso o presidente tem de ser o mesmo. O 'board' é que vai mandar."

Alegações finais: "Connosco haverá 'Jovanes' para vingar, mas 'Doumbias' não podem entrar. Não haverá tréguas com a transparência."

Fernando Tavares Pereira

Situação financeira: "O passivo do Sporting é exagerado, cerca de 457 milhões. Se não houver alterações, vamos confiar em quem lá está. As provas que tenho ao longo da vida são de gestão responsável. Preocupo-me muito porque por vezes pensa-se que isto é fácil, mas não é. Tem de haver alguém no Conselho Diretivo com um percurso de vida responsável. É uma obrigação de quem tem de tomar as rédeas disto tudo. Podemos aqui poupar cerca de 95 milhões das VMOC, para diminuir o passivo, não podemos fugir a essa responsabilidade e dou os parabéns a quem tratou deste assunto."

Títulos e verdade desportiva: "Rigor, transparência e responsabilidade. Tenho feito isso na minha vida. Quero que o Sporting exija que se cumpra a lei. Temos de ser tratados da mesma forma. Perdemos seis ou sete campeonatos e nunca vi ninguém do Sporting a perguntar 'o que é que se passa?'"

Academia: "Academia deu vendas de 80 milhões para compras de 200. Assim não funciona. E quem rescindiu foram os indivíduos formados na Academia! Temos de ter pessoas competentes. Fui eu que levantei o problema da realidade da formação."

SAD: "Serei presidente da SAD e iremos captar uma pessoa, um visionário. Temos a pessoa, mas hoje não posso dizer quem. Aos núcleos vamos vender bilhetes a um terço do valor. Ainda há sportinguismo forte graças às pessoas longe de Lisboa."

Alegações finais: "Houve esquecimento dos núcleos, das filiais e delegações... Não podemos pactuar com o passado, temos de fazer o futuro cinco anos à frente. Somos uma família de 3,5 milhões e os núcleos é que mantêm isso. Precisamos de segunda volta e voto eletrónico. Que ganhe o melhor com transparência, responsabilidade e respeito."

*Artigo atualizado às 23h48

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