Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting, elogiou esta quinta-feira em tribunal Rui Pinto por este ter tornado pública a atuação dos fundos de investimento no mundo do futebol, deixando fortes críticas à Doyen, contra quem, recorde-se, o Sporting teve um processo judicial na altura da sua presidência, relativo a Marcos Rojo, cuja decisão acabou por não sorrir aos 'leões'.

"Entre dezenas de jogadores que faziam parte do plantel, só tínhamos um. O resto era dos fundos, ou do Peter Kenyon, ou da Doyen, ou do BES. Os jogadores eram só um bocadinho do Sporting. Percebi assim que o Sporting estava manietado", começou por afirmar em tribunal Bruno de Carvalho, que presidiu o Sporting entre 2013 e 2018.

Muito crítico em relação a esses fundos, Bruno de Carvalho, com o seu habitual jeito irónico, comparou-os mesmo a "um género de droga" e questionou a forma de atuar da Doyen. "Nélio Lucas era um gestor de modelos de Hollywood. A Doyen era um escritório onde, de vez em quando, havia uma senhora a atender em Malta. A Doyen chegava, dava o dinheiro, havia um alívio e depois precisávamos de dinheiro outra vez. É por isso que digo que era uma droga. Nós não podíamos fazer nada com os jogadores sem ser com a autorização da Doyen", recordou.

"Eu tinha contratos com três fundos. O mais grave, e com contornos quase criminosos, eram os contratos da Doyen. Graças a Deus, tudo isto terminou com o travão da UEFA e da FIFA", acrescentou o antigo líder máximo dos 'leões', revelando ainda ter sido alvo de ameaças e pressões por publicamente criticar os fundos no futebol.

Por tudo isso, Bruno de Carvalho acabou por se congratular com as ações de Rui Pinto, salientando que o 'Football Leaks' deveria servir para colocar outras pessoas e instituições no banco dos réus. "Em termos de filosofia, fico contente que um miúdo de 30 anos tenha a iniciativa de pôr o mundo a olhar para o futebol, o setor bancário e a política, quando o mundo não devia precisar de um miúdo de 30 anos para o fazer. Se o que fez não foi muito correto, o resultado foi espantosamente bom", sublinhou o ex-dirigente leonino.