Quentin Bernardeau, guarda-redes do Aves, falou à rádio francesa RMC Sport sobre a situação que o plantel avense vive, com salários em atraso há vários meses.

"Vamos no terceiro mês sem receber salário. Não recebemos nenhum em 2020. Em fevereiro começámos a reclamar e dissemos que íamos marcar uma greve, mas no dia seguinte um jornal escreveu que não tínhamos sido pagos por causa da pandemia de covid-19", afirmou o guardião francês.

“Tenho colegas de equipa que dizem que esta situação é impossível. Vão pedir à direção um adiantamento porque não conseguem mais. E mesmo assim, o clube não paga”, acrescentou.
Bernardeau revelou ainda que antes do jogo com o Sporting (8 de março), a diretora geral da SAD do Aves que entretanto se demitiu, Estrela Costa, prometeu pagar os salários em atraso nessa semana, mas acabou por fazê-lo com apenas dois atletas.

“Foram os dois jogadores mais valiosos no mercado, os nossos dois avançados. Soubemos que a diretora geral tinha pago a esses dois jogadores através da sua conta pessoal. Quando descobrimos, o resto do plantel ficou louco. Ou pagam a toda a gente ou não pagam a ninguém”, disse.

Recorde-se que a SAD do Aves justificou o atraso no pagamento dos salários ao plantel com a interrupção dos serviços na China, motivada pela pandemia da Covid-19. A sociedade desportiva é detida maioritariamente pela Galaxy Believers, empresa de marketing desportivo que pertence aos chineses Wei Zhao e Hongmin Wang.

“A SAD do CD Aves vem a público explicar, uma vez mais, que esta situação se deve ao facto de a atividade económica da China ainda não ter sido retomada a 100 por cento, impedindo os seus responsáveis de fazer a gestão interna esperada, situação de que Portugal vem tomando noção nos últimos dias, com os constrangimentos impostos na vida”, pode ler-se no comunicado.

"Neste contexto de contágio galopante, acreditamos que nem as medidas entretanto tomadas pela Liga portuguesa cheguem a tempo para atenuar a situação", sublinham os avenses, que reforçam "a intenção de cumprir com as suas obrigações e de normalizar todas as situações o mais rapidamente possível."

No sábado, numa iniciativa da Liga, em parceria com a Direção-Geral da Saúde (DGS), dedicada à simulação virtual dos jogos da 26.ª jornada, o defesa Afonso Figueiredo acordou com o médio Pepelu, do Tondela, pausar o desafio durante dois minutos, num gesto de protesto face aos salários em atraso do clube avense.

As verbas de dezembro só foram liquidadas em 14 de fevereiro, numa demora que Wei Zhao também justificou com a paralisação dos serviços na China desde o início do ano, motivada pelo novo coronavírus, mas arrastou-se aos meses seguintes, podendo significar a perda de dois a cinco pontos, de acordo com o Regulamento Disciplinar da Liga.