O Ministério Público (MP) determinou a suspensão provisória do processo por um ano a três arguidos envolvidos no 'caso Marega', relacionado com insultos racistas ao ex-jogador do FC Porto, em 2020.

Num documento do processo a que a Lusa teve hoje acesso, o Procurador da República Marinho de Sousa considera adequada a suspensão do processo por entender que os arguidos “não atuaram com um grau de culpa elevado”, tendo ainda verbalizado arrependimento aquando dos interrogatórios.

Os arguidos estavam a ser investigados pela prática de um crime de discriminação e incitamento ao ódio e à violência.

Com esta decisão do MP, que mereceu a concordância do Juiz de Instrução Criminal, o processo fica suspenso provisoriamente durante um ano, sendo que no prazo de três meses cada um dos arguidos terá de pagar 1.000 euros ao Estado.

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Os arguidos terão ainda de efetuar um pedido de desculpas ao ofendido, através da publicação de um anúncio num jornal desportivo local, e ficam interditos de aceder a qualquer recinto desportivo como espetadores, onde decorra um espetáculo desportivo de qualquer modalidade, profissional ou amador, por um período de um ano.

Durante o período de suspensão do processo, os arguidos terão ainda de comparecer e permanecer junto do órgão policial da sua área de residência sempre que a equipa principal do Vitória de Guimarães jogar, a nível nacional ou internacional.

Recorde o momento em que Marega decidiu abandonar o relvado do D.Afonso Henriques depois dos insultos racistas que lhe foram dirigidos

O advogado dos arguidos, Pedro Carvalho, disse à Lusa que os seus clientes já tinham tomado a iniciativa de comunicar ao processo estarem disponíveis para pedir desculpas pessoais a Marega.

“O Ministério Público com a concordância do Juiz de Instrução e do Vitória Sport Clube, e sem oposição do Moussa Marega, aceitaram esse pedido de desculpas que deverá ser público e dirigido não só a Moussa Marega mas também ao Vitória Sport Club, uma vez que o clube veio a ser injustamente penalizado pela atitude de alguns adeptos, comportamentos esses ao qual aquele era alheio”, refere.

O advogado refere ainda que os arguidos pretendem pôr fim a este processo e também, com esta atitude, “responsabilizar-se pelos seus atos aos quais o Vitória Sport Clube, os vitorianos e os vimaranenses são alheios e que, no entanto, estavam aqueles a ser julgados indevidamente na praça pública”.

O caso remonta a 16 de fevereiro de 2020, no Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, durante o jogo de futebol entre o Vitória de Guimarães e o FC do Porto, a contar para a 21.ª jornada da I Liga de futebol da temporada 2019/20.

Por volta do minuto 70, pouco depois de ter marcado um golo, Marega pediu para ser substituído e acabou mesmo por abandonar o relvado, agastado com cânticos de natureza racista que lhe estavam a ser dirigidos por adeptos do Vitória, com sons a imitar macacos.