Paulinho: dois golos e uma assistência. Viktor Gyokeres: três golos e uma assistência. Num jogo em que se encontrava privado de dois homens muitas vezes titulares na frente (Pedro Gonçalves e Marcus Edwards, ambos lesionados), o Sporting alinhou com os três que tinha disponíveis (não havia uma única solução verdadeiramente de ataque na frente) e...marcou seis golos.
Os leões continuam a ser uma verdadeira máquina compressora em termos ofensivos (já são 117 golos no conjunto de todas as competições esta época) e, mesmo num jogo que chegou a parecer que ia ser muito complicado, golearam e seguem, firmes, no topo da tabela. A vista, lá de cima, é certamente boa e alguma confiança que pudesse ter sido perdida com o adeus de meio da semana à Europa foi rapidamente readquirida.
Mas, para somar aquela que foi a sua 13.ª vitória da época em 13 jogos em casa para o campeonato (faltam quatro para o pleno, algo de que não haverá memória em Alvalade e que, nos últimos 40 anos, só o FC Porto logrou, por três ocasiões, em 1983-84, 1987-88 e 2003-04), a equipa de Rúben Amorim teve de saber sobreviver a um período de ansiedade que, a meio da primeira parte, estava longe de deixar antever tão folgado desfecho.
O Sporting sofreu um golo madrugador e, ao ver logo a seguir um golo anulado, tardou depois a acordar. Até ao minuto 21, em que Gyokeres tentou um primeiro remate, por cima da trave, a turma leonina parecia muito mais lenta do que o que vem sendo habitual na circulação de bola e incapaz de progredir para lá de uma defesa muito recuada do Boavista. Aos poucos, porém, o leão foi despertando. Começou a sufocar a pantera e - importantíssimo - chegou ao empate antes do intervalo, com a 'tal' dupla a fabricar o golo do empate. Depois, veio uma segunda parte de sonho, com Daniel Bragança a entrar muito bem no jogo (alguém deu pela falta de Hjulmand?) e Paulinho, Gyokeres e Nuno Santos (um golo e duas assistências) a levarem o Sporting para a vitória e para a goleada.
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O jogo: Do nervosismo à ansiedade vão seis golos de distância
Para um Sporting desfalcado e vindo de uma amarga derrota em Itália que ditou o adeus às competições europeias, o encontro não poderia ter começado pior: três minutos de jogo, Franco Israel a não afastar a bola o suficiente e esta a cair nos pés de Makouta que, com um remate perfeito, abriu o marcador com um golo de belo efeito.
Seria difícil, mesmo para o Sporting desta época, não acusar as contrariedades, que continuaram, com um golo anulado a Francisco Trincão logo depois. E o Sporting acusou-as. O futebol parecia menos fluído do que o habitual, os passes não saíam tão perfeitos como têm saído e as oportunidades de golo iam escasseando. O nervosismo e a ansiedade - entre os jogadores e entre os adeptos na bancada - pareciam notórios e crescentes. Mas, aos poucos, a orquestra começou a afinar um pouco. O suficiente para descer aos balneários com uma igualdade no marcador, graças a um golo de Gyokeres a passe de Paulinho.
Ao intervalo, Amorim mexeu uma pedra. Tirou Hjulmand, amarelado, e lançou um Daniel Bragança em grande forma. E se a orquestra já parecia estar a afinar, com o médio esquerdino a pegar na batuta a música foi definitivamente outra nos segundos 45 minutos. Sempre esclarecido com a bola nos pés, Bragança tornou bem as trocas de bola e as variações de flanco bem mais fluídas nos leões. Os efeitos não tardaram: Diomande falhou de forma incrível o 2-1, mas Paulinho não, ao corresponder da melhor forma, aos 54 minutos, a um cruzamento perfeito de Geny Catamo.
A partir do momento em que ganhou vantagem, e aproveitando o facto de o Boavista ter subido as suas linhas, o Sporting não mais parou. Igual a si mesmo, ao 39.º jogo da época, Gyokeres fez inúmeras das suas habituais arrancadas e, numa delas, com um grande trabalho individual, elevou para 3-1, antes de completar o hat-trick na transformação de uma grande penalidade explicada pelo árbitro a todo o estádio. Não satisfeito o sueco continuou com as suas arrancadas que já são uma espécie de imagem de marcar e, noutra delas, não marcou mas assistiu Nuno Santos para o 5-1. E o ala esquerdo, também ele autor de uma grande exibição, marcou nos descontos o pontapé de canto do qual nasceria o bis de Paulinho, que de cabeça fixou o 6-1 final.
O momento: Dupla da noite dá o mote à beira do intervalo
Minuto 45. O 4.º árbitro prepara-se para exibir a placa com o tempo de compensação. O Sporting está a perder por 1-0 e - apesar de a equipa até estar, progressivamente, a crescer no jogo - o nervosismo é palpável em Alvalade. Todos sabiam que as coisas seriam complicadas se os leões recolhessem aos balneários em desvantagem. Todos sentiam que um golo antes do intervalo era fundamental para a equipa de Rúben Amorim. E o golo apareceu mesmo. Morita tabela com Paulinho, este cruza para a área, Gyokeres foge à defesa boavisteira e de carrinho encosta para dentro da baliza de João Gonçalves, fazendo o empate em Alvalade.
A figura: Gyokeres até conseguiu ofuscar a grande noite de Paulinho
Paulinho foi fundamental para a vitória do Sporting: foi dele a assistência para o primeiro golo dos leões, que valeu o empate em cima do intervalo, e foi ele a aparecer para marcar o 2-1, a abrir a segunda parte, que ditou a cambalhota no marcador. Depois, à beira do fim, ainda bisou na partida. Tinha tudo para ser o homem do jogo. Mas não foi. Porque em Alvalade mora Viktor Gyokeres. E o sueco continua a deslumbrar, tendo vivido mais uma noite de sonho em Alvalade: assinou o golo do empate, fez o 3-1 num lance brilhante, chegou ao hat-trick na conversão de uma grande penalidade e ainda juntou a isso uma assistência em outro lance fantástico. Foi, claro, ele a levar a bola para casa, num jogo em que também merecem menções honrosas, entre outros, Nuno Santos e Daniel Bragança.
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