Esta análise começa com uma adenda: o Benfica não está bem, mas por meros três centímetros a situação podia ser bem pior. Efetivamente, se o rival FC Porto não tivesse escorregado também, logo a seguir a mais uma escorregadela das 'águias', o empate em Setúbal teria tido consequências bem mais gravosas para o conjunto 'encarnado'.
O Benfica somou, no Estádio do Bonfim, o seu terceiro empate consecutivo. Mais grave, somou o sétimo jogo sem ganhar nos últimos oito. Mais grave ainda, nos últimos quatro jogos para a I Liga só marcou três golos, e todos na sequência de lances de bola parada - no seguimento de um livre frente ao Gil Vicente, na recarga a um penálti contra o Moreirense e de penálti este sábado, em Setúbal.
Mas o mais grave de tudo é que o nível exibicional parece piorar a cada jogo que passa. E, por mais que Bruno Lage mexa - desta vez, no Bonfim, até mexeu bastante - as coisas não melhoram. Os jogadores têm noção disso e a ansiedade e o nervosismo vão crescendo. Talvez isso explique que Pizzi - tão certeiro na conversão de castigos máximos na primeira metade da época - tenha falhado três das quatro grandes penalidades que bateu nos últimos dois jogos.
Há, contudo, que reconhecer mérito ao Vitória de Setúbal. A turma da casa não se deixou surpreender com as mexidas de Lage no 'onze' e soube travar as principais armas 'encarnadas'.
O Jogo: O empate com o Moreirense 'revisitado' no Sado, apesar das mudanças
O Benfica vinha de um empate caseiro frente ao Moreirense que lhe tinha custado a liderança na I Liga, num jogo em que, tal como viria a acontecer neste, também esteve a perder e também dispôs de dois penáltis, 'aproveitando' apenas um.
Bruno Lage decidiu trocar dois jogadores em relação ao 'onze' que tinha iniciado esse encontro, movendo ainda outras peças no seu 'xadrez': o alemão Weigl começou no banco, Taarabt recuou para jogar ao lado de Samaris, Chiquinho entrou para a frente, no apoio a Vinícius, e Franco Cervi foi titular em vez de Rafa e no lado esquerdo do ataque.
Mas cedo se percebeu que o Vitória de Setúbal não se ia deixar surpreender...
Uma primeira parte lenta e com poucas oportunidades
O encontro começou numa toada lenta. O Setúbal pressionava muito o portador da bola quando o Benfica atacava e pausava o ritmo sempre que conquistava a bola. O Benfica mostrava dificuldades em furar a muralha sadina, não criava perigo e acabou por ser mesmo a turma da casa a primeira a ficar perto do golo, numa das raras ocasiões de golo do primeiro tempo.
Zequinha, contudo, não aproveitou e o Benfica melhorou um pouco a partir daí. Mas só já no período de descontos da primeira parte criou real perigo. Pizzi bateu um canto e Samaris cabeceou ao primeiro poste, errando o alvo por pouco.
Um início de segunda parte verdadeiramente louco
A calmaria dos primeiros 45 minutos tornou-se numa tempestade de emoções a abrir o segundo tempo. O Vitória abriu o marcador, na sequência de uma bonita jogada, com Zequinha a cruzar e Carlinhos a finalizar, mas onde uma vez mais - tal como vem acontecendo há vários (demasiados) jogos, ainda antes desta série de resultados negativos - a defesa (e os centrais) 'encarnados' não ficaram bem na fotografia.
Mas foram precisos apenas quatro minutos para o Benfica reagir. Na sequência de um canto, Rúben Dias apareceu estendido na grande área sadina, o VAR chamou João Pinheiro e o árbitro da partida, depois de visualizar o lance, assinalou grande penalidade.
Pizzi, que tinha falhado dois penáltis - marcara na recarga do segundo - frente ao Moreirense, partiu para a conversão do castigo máximo e, desta vez, não falhou. Depois de uma primeira parte sem golos, um golo para cada lado em apenas seis minutos a abrir o segundo tempo...
Depois da redenção, Pizzi voltou a falhar...e o Benfica voltou mesmo a não ganhar
Motivado, o Benfica viveu o seu período de maior fulgor nos minutos que se seguiram, mas não conseguiu marcar, com Makaridze a começar a evidenciar-se na baliza do conjunto do Sado, irritando ainda mais os adeptos visitantes, que tinham ainda bem presentes as palavras do guardião na passada semana.
E foi numa altura em que o Vitória até já tinha voltado a conseguir 'acalmar' o ímpeto do Benfica que as 'águias' a acabaram por beneficiar da sua segunda grande penalidade, desta feita a castigar uma mão na bola de Artur Jorge após cruzamento de Grimaldo. Mas Pizzi, que tão bem se tinha redimido dos penáltis falhados na jornada anterior ao converter o primeiro, falhou o segundo, atirando torto e ao lado.
Um rude golpe, que o Benfica acusou. Até ao fim foram raras as vezes em os pupilos de Bruno Lage voltaram a criar perigo, mesmo com Rafa e Dyego Souza já no ataque.
O encontro chegou ao fim e o Benfica somou mais um jogo sem ganhar. A angústia era bem visível no rosto dos jogadores quando, após o apito final, foram saudar os adeptos 'encarnados' que se deslocaram ao Bonfim, dos quais ouviram mais assobios do que aplausos. Não sabiam, ainda, que nem tudo seria mau neste sábado, e que do Estádio do Dragão viriam, algumas horas mais tarde, notícias que conferirão, certamente, algum alento para as 'águias'.
Momento-Chave: Pizzi e a malapata dos penáltis
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No Benfica, Samaris e Taarabt jogaram lado a lado no centro do meio-campo , com Weigl a começar no banco. E corresponderam. O grego foi dos mais esclarecidos enquanto esteve em campo - acabou rendido pelo alemão à passagem do minuto 72 - e na primeira parte até foram dele três dos remates mais perigosos do Benfica. Já o marroquino continua a mostrar que atravessa um bom momento de forma e, numa posição mais recuada do que aquela em que havia jogado contra o Moreirense, tentou variar o jogo da equipa em busca de soluções diferentes que surpreendessem os da casa.
Do lado do Vitória, Zequinha e Carlinhos mostraram criatividade e velocidade na frente, bem patente no lance do golo sadino. O primeiro esteve perto de marcar na primeira parte, o segundo marcou mesmo na segunda. E Makaridze mostrou sempre muita tranquilidade na baliza, com algumas intervenções seguras e exibiu uma calma notável sempre que teve de jogar a bola com os pés.
Os piores: Apostas de Lage que saíram 'furadas'
Chiquinho e Cervi, apostas de Bruno Lage para a titularidade, também não trouxeram nada de novo à equipa. Mostraram poucas soluções para criar desequilíbrios e viram-se pouco no jogo. Mas não foram só eles que estiveram aquém das exigências. Os defesas voltaram a não estar bem no lance do golo sofrido pelas 'águias', enquanto os dois principais goleadores da equipa, Pizzi e Vinícius, estão longe do fulgor que mostravam há dois meses.
No Setúbal, a 'ingenuidade' de José Semedo ao cometer a grande penalidade sobre Rúben Dias que valeu o empate ao Benfica é inadmissível para um jogador com a sua experiência.
As reações: Lage não atira a toalha ao chão
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