Ciente de que um triunfo lhe permitiria aproximar-se do Benfica, que saiu derrotado de Alvalade, o FC Porto não tinha outro cenário em mente senão o da conquista dos três pontos.
Contudo, diante do Vitória SC, adversário sobre quem se superiorizou no decorrer da semana, para a Taça, os dragões voltaram a tropeçar no campeonato e novamente com muita polémica à mistura. No total, são seis derrotas nesta edição da Liga. Depois do desaire na Amoreira, o terceiro desaire frente ao Estoril em quatro jogos esta época com os canarinhos, os azuis e brancos acabaram estendidos no chão aos pés dos conquistadores, que fizeram jus ao cognome que lhes é historicamente atribuído.
Depois de tanto desejarem chegar-se à frente, os dragões acabaram a olhar para trás. Sim, pelo retrovisor, onde vem a alta velocidade o destemido Vitória SC, com cinco triunfos consecutivos. Os vitorianos aproximaram-se - e de que maneira! - do FC Porto, estão agora a apenas dois pontos, e pelo caminho colaram-se ao SC Braga, agora em igualdade pontual com o eterno rival do Minho.
Depois das três expulsões no duelo com o Estoril, duas delas para os azuis e brancos, a equipa portista viu-se novamente em inferioridade numérica a partir do minuto 70. Por protestos, acompanhados de um gesto pouco simpático dirigido a Fábio Veríssimo, dando a entender que o juiz de Leiria via mal, Pepe acabou o jogo mais cedo, condenando - ou pelo menos dificultando muito - a concretização de uma reviravolta depois do 2-1 da primeira parte.
Foi nos primeiros 45 minutos que se marcaram os três golos da noite. Antes de marcar na baliza correta, aos 44 minutos, no golo que fez vislumbrar uma reviravolta, Galeno teve a infelicidade de marcar na própria baliza. Foi aos 12 minutos na sequência de uma apetitosa bola parada, que seguia em direção à baliza de Diogo Costa a pedir um desvio subtil. E de facto houve o tal desvio. O guardião portista só não esperava que a suave mudança de trajetória fosse da responsabilidade do colega de equipa.
Os minhotos chegavam à vantagem e espoletavam a expectável tremedeira portista face aos resultados e exibições recentes da equipa de Sérgio Conceição. A verdade é que o FC Porto não vergou, mas também não matou. A bola tinha-a, mas sem saber ao certo o que fazer com ela. Alan Varela chegou a colocar o outro Varela em sentido, o Bruno, mas o guardião ex-Benfica estava atento. Já do outro lado os vimaranenses pouco a tinham, mas quando a seguravam saíam disparados que nem flechas. E quando se fala em flechas, fala-se em Jota Silva. O alfabeto do Vitória arranca no J e por lá fica, encantado com tamanha beleza e tão humilde e esforçada letra, que só descansa quando marca. Lá marcou.
2-0, vieram os assobios, e o Dragão provava que é possível estar a gelar e a arder ao mesmo tempo.
Nas bancadas, um misto de impaciência e de conformismo. Assobios, aqui e acolá, mas sobretudo um estranho silêncio. Lenços brancos? Nenhum? Protestos? Muito poucos. Apenas apatia, enorme apatia que só era contrariada com alguma contestação às decisões de arbitragem. Do inferno para o céu, foi em poucos minutos que de lá caiu o golo da esperança. Galeno, agora na baliza certa, correspondeu da melhor forma ao excelente contributo de Pepê, primeiro, e de Namaso, logo depois, e atirou sem hipóteses para Bruno Varela. O golo cancelava de imediato as três substituições que planeava Sérgio Conceição já no final da primeira parte, apesar da notória insatisfação do técnico.
Na segunda metade, o técnico portista acabou mesmo por mexer, mas só uma vez, fazendo entrar o jovem central Zé Pedro para o lugar de Fábio Cardoso. Álvaro Pacheco mudava duas peças, saíram Tomás Handel e Afonso de Freitas, entraram Tomás Ribeiro e Ricardo Mangas. Sem muitas oportunidades a registar, o segundo tempo ficaria marcado, inevitavelmente, pela expulsão de Pepe aos 70 minutos, por protestos, deixando a equipa portista em inferioridade numérica até ao apito final. Pelo meio, e quase sempre às costas de Francisco Conceição, os dragões tiveram duas oportunidades dignas de registo e muitas queixas em lances distintos na área do Vitória. Mehdi Taremi esteve no olho do furacão duas ocasiões, depois de ter regressado aos convocados, mas uma queda de Galeno e uma alegada mão na bola de Manu também motivaram queixas do banco portista.
No final? Palco para a festa vitoriana em pleno dragão e para a tristeza inconsolável dos jogadores do FC Porto, que percebiam o pesado significado de mais um duro golpe nas aspirações para a o que falta da época. A seis jornadas do fim, os dragões estão a 13 pontos de distância para o Sporting (que tem menos um jogo) e mantêm-se a 9 pontos do Benfica. A 19 dias das eleições, o que restará desta época?
O melhor: Jota Silva
Autor do 2.º golo do Vitória, apontou o 15.º remate certeiro esta época. O já internacional português continua a dar uma lição de humildade, competência e um imenso espírito de sacrifício. Quase nunca está parado, é inteligentíssimo a ler o jogo e tem golo. A forma como não se deixa apanhar por Pepe no golo marcado aos 33 minutos é exemplo da sua força e pujança física, coroadas com um remate exímio, com poucas ou nenhumas críticas a deixar a Diogo Costa. Jota Silva está a crescer, mas a pulso. E tem todo o mérito nisso.
O momento (protagonizado pelo pior do encontro): A expulsão de Pepe
Tantas vezes elogiado pelo que continua a jogar (e como não elogiar o capitão portista?), também é justo reconhecer que a atitude do experiente central aos 70 minutos de jogo foi irresponsável e deitou por terra a possibilidade do FC Porto dar a volta ao resultado. Pepe recebeu um cartão vermelho direto por protestos - algo de que não me recordo na I Liga, pelo menos recentemente - mas não deixa de ser óbvio que a atitude de Pepe, ainda para mais sendo capitão de equipa, está revestida de uma imaturidade e irracionalidade inaceitáveis, sobretudo pelo facto da atitude não ser coadunável com a longa e consistente experiência do internacional português. É o momento do jogo porque acontece a 30 minutos do fim e parece ter representado a machadada final nas aspirações portistas, pese embora o admirável espírito combativo demonstrado até ao apito final.
O que disseram os protagonistas
Sérgio Conceição: "Os jogadores sentem-se muito prejudicados e isso começa a criar nervosismo"
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