Se o empate aos 90+4 já era bom para o Benfica, o que dizer da vitória aos 90+7? O dérbi da Segunda Circular caiu para o lado encarnado no domingo, num jogo onde o resultado foi muito melhor que a exibição para os lados da Luz, mesmo que Roger Schmidt discorda da ideia.
Os três pontos permitem ao Benfica igualar o Sporting na liderança da Primeira Liga, ambos com 28 pontos ao cabo de 11 rondas. Expulsão de Gonçalo Inácio aos 51 minutos foi crucial.
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O Jogo: Águia até ao fim
Não se pode dizer que tenha sido a vitória da equipa que mais mereceu, ou da quem mais fez pelos três pontos. Aconteceu futebol. Pura e simplesmente futebol, desporto onde nem sempre impera a lógica.
O jogo foi muito mais do que aqueles três minutos fatais para os leões e loucos para o Benfica. Na Luz, o Sporting foi melhor, controlou o jogo, perante um Benfica indeciso na zona intermédia.
Com dificuldades em definir as zonas de pressão, o Sporting chamava o Benfica a um flanco - quase sempre o direito - para depois encontrar alguém nas costas dos médios encarnados para ligar o jogo para o flanco contrário, sabendo das dificuldades de Di Maria a nivel defensivo.
Foram várias as vezes em que Matheus Reis apareceu completamente solto no seu corredor, com muito espaço para conduzir e criar perigo. Quando não era Matheus Reis na ala, era Marcus Edwards, a aparecer na zona central para receber e atacar os defesas de frente, em velocidade.
O Benfica vivia de rasgos individuais, mas muitos dos seus jogadores estão em baixo de forma. Vivia ainda da capacidade de combate do pequenino João Neves, da intensidade de Aursnes, da luta de Musa entre os centrais do Sporting, das acelerações de Rafa pelo meio mas também pelos corredores. Defensivamente, a equipa esteve bem, com António Silva e Morato em bom plano nos duelos.
Coletivamente, era o Sporting quem estava melhor, perante as dificuldades do adversário. Ao intervalo, o Benfica não tinha feito qualquer remate enquadrado com a baliza e até perdia na posse de bola (45% contra 55%).
A perder e em superioridade numérica, após a expulsão de Gonçalo Inácio aos 51 minutos, esperava-se que o Benfica caísse em cima do Sporting, que empurrasse o rival para perto da sua área na procura da reviravolta. Puro engano. O controle de jogo continuava a ser dos leões, embora com menos capacidade para ligar para sair. Apesar disso, Gyokeres continuava a dar muito trabalho a Otamendi e António Silva, com arrancadas difíceis de travar.
Para se perceber as dificuldades do Benfica no último terço, as únicas duas oportunidades criadas após a expulsão de Gonçalo Inácio foram dois remates de fora da área, de João Mário (passou muito perto do poste) e de Di Maria (grande defesa de Adán).
Os deuses do futebol quiseram ser justos com o intenso e abnegado João Neves, autor do empate aos 94 minutos - um resultado já de si lisonjeiro para o Benfica - e cruéis com os leões, quando Tengstedt usou do calcanhar para confirmar a reviravolta, aos 90+7, um minuto depois dos seis de compensação dados pelo árbitro Artur Soares Dias. O jovem avançado nórdico aproveitou a simulação de Rafa, que estava em jogo por quatro centímetros.
Roger Schmidt respira melhor, vai para mais uma pausa das seleções no 1.º lugar lugar, em igualdade pontual com o Sporting. O técnico alemão afasta assim os fantasmas de um despedimento precoce. Os adeptos do Benfica ainda não esqueceram a eliminação na fase de grupos ao cabo de apenas quatro rondas, mas, nos próximos dias, falar-se-á na vitória arrancada a ferros diante do rival da cidade de Lisboa.
Momento-chave: Expulsão de Gonçalo Inácio deixou o leão coxo
Ainda só se tinham jogado cinco minutos do segundo tempo quando Artur Soares Dias considerou que Gonçalo Inácio fez falta sobre Rafa e mostrou amarelo, o segundo na partida, e consequente vermelho, aos 51 minutos de jogo. O Sporting teve de recuar, manteve a solidez defensiva mas ficou com menos um homem no ataque. E isso foi fatal.
Os Melhores: Os incansáveis Gyokeres e João Neves
O golo do jovem médio era um prémio justo pelo que tinha feito em campo, incansável na pressão, na recuperação de bolas (17 duelos ganhos, de acordo com o GoalPoint). Rafa foi o único a acompanhar João Neves na vontade de dar a volta ao texto.
Além do golo marcado, aos 45, Gyokeres foi uma grande dor de cabeça para os defesas encarnados. Mesmo quando os leões estavam em inferioridade numérica, arranjou formas de, sozinho, deixar a defensiva encarnada em sentido.
Em noite 'não': João Mário e Roger Schmidt
João Mário foi dos mais contestados pelos adeptos do Benfica e quando foi substituído, ouviu uma monumental assobiadela. Perdeu a bola no golo do Sporting, somou mais um par de bolas perdidas, que mostram o quão em baixo de forma está.
Em superioridade numérica desde os 55, pedia-se que Roger Schmidt fizesse outra leitura que não fosse colocar dois centrais e meter a equipa a fazer cruzamentos, sabendo que Coates domina pelo ar e que o Sporting defendia com defesas muito altos como St. Juste, Diomande, Matheus Reis. O Benfica bateu o seu recorde de cruzamentos na prova esta época (somava 23 aos 88 minutos) mas só aproveitou o último, fruto do mau posicionamento da linha defensiva do Sporting, demasiado subida para a posição de St. Juste, o homem que colocou Rafa em jogo no 1-2 por... quatro centímetros, antes do desvio de Tengstedt.
Reações:
Schmidt diz que foi a forma perfeita de vencer o dérbi, Casper Tengsted viveu "sonho"
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