Há dois anos que não têm derrotas no campeonato nacional e setenta por cento das jogadoras do 1.º de Dezembro são internacionais pela selecção portuguesa.
Amadoras, nos treinos partilham o campo com as camadas jovens do futebol masculino, mas são elas que trazem à baila o nome do clube criado há mais de 120 anos.
A equipa de futebol feminino do 1.º de Dezembro ultima os preparativos para disputar a qualificação para a Liga dos Campeões Europeus, a prova rainha do futebol feminino de clubes.
O torneio arranca a 5 de Agosto, em Osijek, Croácia, e numa fase de transição da equipa, em que algumas das melhoras jogadoras preparam o término da carreira, a esperança de elevar o nome de clube é muita.
Capitã da equipa onde joga há 14 épocas, a guarda-redes Carla Cristina, veterana de 36 anos e antiga internacional portuguesa, faz neste torneio os últimos jogos de uma carreira repleta de sucessos.
“Já participei nove vezes na Liga dos Campeões. Como todos os anos as perspectivas são as melhores. Vou cheia de esperança, acredito no valor da equipa e acredito que este ano é possível”, disse a atleta à agência Lusa.
O amadorismo das jogadoras contrasta com a qualidade de jogo e a posição que o clube ocupa na Europa, o 32.º lugar do 'ranking'.
No 1.º de Dezembro, e nas restantes equipas femininas portuguesas, no final do mês as atletas recebem somente ajudas de custo para as deslocações, mas isso não as demove de quererem enveredar no clube de topo das competições de Portugal.
Natural de Santarém, trocou o futsal pelo futebol de 11 há apenas dois meses. A estudar em Lisboa, Joana Gomes procurou o 1.º de Dezembro, foi contratada e é uma das esperanças do clube que está em vias de perder a atleta nacional com mais internacionalizações do desporto português, Carla Couto.
Segundo o treinador da equipa, Nuno Cristóvão, apesar de o 1.º de Dezembro seja dos poucos clubes em Portugal que têm formação de jogadoras, as transferências existem, embora se encontrem longe das verbas astronómicas pagas no mundo do futebol masculino, uma vez que não envolvem dinheiro.
“Quando há interesse questiona-se se a jogadora tem interesse [em jogar no clube]. A transferência processa-se de uma forma normal, com respeito para com os clubes onde estão e pelas jogadoras. A este nível vamos buscar as jogadoras que queremos”, disse.
No entanto, o fosso entre o futebol masculino e o feminino não se restringe somente aos valores das transferências e dos salários dos jogadores, uma vez que o mediatismo de um contrasta com a falta de condições e de apoios de outro.
Treinador há mais de 20 anos, Nuno Cristóvão considera que entre homem e mulher, além da capacidade física, existem diferenças sobretudo a “nível psicológico”.
“Tem mais a ver com questões do ponto de vista emocional. As mulheres são mais curiosas, questionam mais, enquanto que os homens nós mandamos executar e eles executam”, sublinha.
O presidente do clube, Fernando Cunha, lamenta “os poucos patrocínios” dados a uma equipa que, comparativamente com o futebol masculino, seria “um Benfica, um Sporting ou um Porto”.
“Vivemos da carolice de alguns elementos que têm dado tudo por isto, mas o que é certo é que vivemos com algumas dificuldades. Temos o patrocínio da Câmara Municipal de Sintra, da Federação Portuguesa de Futebol e da CME, o nosso patrocinador”, adiantou.
O 1.º de Dezembro vai defrontar a partir de 5 de Agosto as equipas do FC Rossiyanka, da Rússia, as croatas do NK Osijek, e as irlandesas do ST Francis FC.
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