Embora não visite a casa que o viu nascer, no bairro da Mafalala, a figura de Eusébio está sempre presente junto dos populares do local: desde os mais novos aos mais idosos, todos sabem apontar, sem rodeios, a casa e o campo de futebol onde deu os primeiros toques de bola.
Ailton, um futebolista de 14 anos que já ganhou três vezes um torneio juvenil realizado na Mafalala, quando questionado sobre o local onde nasceu Eusébio, aponta, sorridente.
“É ali. Sei que ele foi um grande jogador, foi maestro, jogou bem e mostrou aos seus colegas como jogar. Gostava de ser como ele”, diz à agência Lusa.
Também Bento, 12 anos, refere-se a Eusébio como tendo sido “um bom jogador”, embora ignore o seu clube na Europa.
“Eusébio foi um bom jogador e esteve cá em Maputo. Gostava de ser igual a ele. Ele foi muito bom jogador, mas não sei para que equipa jogava lá [em Portugal]”, afirma Bento.
Um dos melhores futebolistas de todos os tempos, Eusébio da Silva Ferreira tem agora uma rua com o seu nome em Maputo, bem próxima a um dos poucos campos de futebol que ainda existe na Mafalala.
O campo onde Eusébio marcou o primeiro golo da vida é, até agora, um espaço sem relvado, com balizas sem redes, mas é lá que as crianças se divertem diariamente.
O antigo craque do Benfica desloca-se anualmente a Moçambique, mas já não fica na residência da infância, onde nasceu.
Pela Mafalala, o ex-avançado benfiquista só passa quando vai visitar o amigo e primo Armando Silva, que o acompanhou a Portugal há cinco décadas.
Na “inóspita” casa, vive hoje apenas um seu irmão: Fernando da Silva Ferreira.
“Isso está inóspito”, alerta o filho mais novo da família Da Silva Ferreira logo no início da visita que a Lusa fez à casa de Eusébio, mostrando, de seguida, o quarto onde o irmão dormia até ingressar no mundo futebolístico na Europa.
No pátio da casa, sem vedação, com capim alto e água turva em redor, há novos amigos da família que não ligam para a história do sítio, importando-se somente com as ruínas para fins comerciais. Um grupo de quatro homens bate blocos de construção, num negócio do Fernando.
“É um negócio que associei com um amigo”, conta Fernando, enquanto apresenta o interior da casa número 208 da zona de Mafalala, localizada numa rua sem nome.
“Eu tinha quatro anos quando ele [Eusébio] saiu de casa”, por isso, “não lembro de muitas coisas...Foi em 1966 [1960]”, diz, a seguir, pensativo.
Mas Fernando sabe qual é a opinião generalizada sobre o seu irmão: “Todos dizem que é um homem excelente, porreiro e bom”.
Sentado sobre um banco no corredor da casa, de boné, t-shirt e chinelos, Fernando lembra os bons momentos de Eusébio, quando visitava frequentemente a família, situação que mudou aquando da morte da mãe.
“Ele já não vem cá a casa. Algumas vezes [apenas] dá um salto à casa do Armando Silva [primo e vizinho]. Isto dói”, lamenta.
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