Em 1966, a televisão a preto e branco dava conta de uma seleção de futebol que batia o pé aos melhores e fazia história jogo após jogo. Essa seleção desconhecida para o mundo era Portugal, comandada no Mundial por um Bola de Ouro chamado Eusébio.
O Campeonato do Mundo disputado em Inglaterra, considerada a pátria do futebol, apresentou uma “geração de ouro” do futebol português, construída sobre os êxitos europeus de Benfica (1961 e 1962) e Sporting (1964). Sob o cognome “Magriços”, Portugal ganhou o respeito do futebol mundial, ao terminar a prova no último lugar do pódio. Foram seis jogos repletos de emoção e 17 golos que marcaram a aventura lusitana.
Como a maioria das histórias, esta também começa pelo início. Foi no dia 13 de julho, em Old Trafford, o recinto que hoje nos habituámos a conhecer como o “Teatro dos Sonhos”, que Portugal começou a sonhar alto na prova. Perante a poderosa seleção húngara, a equipa das quinas venceu por 3-1, com golos de José Augusto (2) e Torres. O extremo do Benfica inaugurou o marcador logo no primeiro minuto e voltaria a dar vantagem à seleção aos 67’, apenas sete minutos depois do empate magiar. A conclusão desta estreia ficou guardada para o minuto 90, por Torres.
Três dias depois foi a vez da Bulgária. No mesmo estádio de Manchester, a equipa treinada pelo brasileiro Otto Glória aplicou uma vez mais a “chapa 3” e saiu vencedora por 3-0. A um primeiro autogolo de Vutsov (17’) seguiram-se os tentos de Eusébio (38’) e Torres (81’). O ‘Pantera Negra’, como seria batizado semanas mais tarde, iniciara assim a sua lenda ao segundo jogo e só pararia de marcar no jogo de despedida.
O arranque de sonho no grupo C do Mundial seria finalmente posto à prova com o campeão do Mundo, o Brasil. A viagem de Manchester para Liverpool, a cidade que deu a conhecer os Beatles, foi inspiradora para uma vitória memorável por 3-1. Vicente “secou” Pelé no ataque brasileiro e Simões e Eusébio (2) construíram os golos do triunfo. O avançado do Benfica começava a chamar as atenções na prova, mas guardaria o melhor para o jogo seguinte, nos quartos de final.
Do outro lado estava a misteriosa Coreia do Norte, protagonista de um dos maiores escândalos de sempre, após a vitória sobre a Itália na fase de grupos. E ao primeiro escândalo parecia seguir-se outro: com 25 minutos de jogo, os norte-coreanos já venciam por 3-0 e punham os jogadores portugueses a discutir entre si. Porém, Eusébio quis reescrever a história do jogo e iniciou a reviravolta ainda antes do intervalo. Quatro golos mais tarde do craque lusitano, a que se somou ainda outro de José Augusto, confirmaram uma recuperação memorável por 5-3 e a passagem às meias-finais do Mundial.
Depois de quatro jogos de festa chegou finalmente o jogo mais triste da campanha dos “Magriços”. Contra a anfitriã Inglaterra, o jogo começou a ser perdido ainda antes do apito inicial. Portugal foi obrigado a deixar Liverpool na véspera da meia-final para ir jogar a Wembley, em Londres, e no jogo foi aniquilado pela inspiração de Bobby Charlton. O internacional inglês apontou os dois golos do triunfo (2-1) inglês, de pouco valendo o tento de Eusébio nos derradeiros minutos. Portugal passava ao lado do sonho da final e o país guardava na memória a imagem de Eusébio em lágrimas.
Como todas as histórias têm de ter um fim, a Seleção encarregou-se de oferecer um “final feliz” aos portugueses. No desafio de atribuição do 3º e 4º lugar, Portugal venceu a cotada União Soviética por 2-1, com golos do inevitável Eusébio e do “Bom gigante” Torres. E assim a seleção regressou a casa com a medalha de bronze ao peito.
Para a história ficou uma epopeia de 17 golos históricos em Portugal. A produção dos “Magriços” foi distribuída pelo Bota de Ouro Eusébio (9 golos), José Augusto e Torres (3 golos), Simões (1 golo) e um autogolo do búlgaro Vutsov. O registo – com uma média próxima dos 3 golos/jogo - perdura como o melhor de sempre de Portugal em Mundiais. Podia ter sido uma prestação perfeita, mas se fosse preciso atribuir uma classificação valeria pelo menos… 17 valores.
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