É de Héctor Castro o último golo do primeiro Mundial de futebol, uma tradição iniciada em 1930 e repetida de quatro em quatro anos, quando o mundo da bola junta-se num palco para celebrar a amizade, o fair-play, o desportivismo. A tradição, de se juntar os melhores de cada país para coloca-nos num relvado à procura da glória em Glasgow, iniciou-se num Escócia-Inglaterra, em 1872.
Em 1904 nasceu em Paris a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) e, 26 anos depois, disputou-se no Uruguai o primeiro campeonato do Mundo, um ideia de Jules Rimet, na altura presidente da FIFA. A escolha do Uruguai não foi por acaso: o país festejava o centenário da independência, era o bicampeão Olímpico em título, e partilhava com a Grã-Bretanha o título de maior potência de futebol nesses anos.
Tudo sobre o Mundial2022: jogos, notícias, reportagens, curiosidades, fotos e vídeos
1930 consagrou o Uruguai como o primeiro campeão do Mundo, num mundial onde a cerimónia de abertura aconteceu cinco dias depois do primeiro jogo. Isto porque o Estádio Centenário, em Montevideu, construído para o evento, foi entregue depois do prazo e a seleção casa só viria a estrear-se a 18 de julho de 1930, numa vitória por 1-0 diante do Peru. O primeiro golo apontado no mítico palco foi obra de Héctor Castro, um jogador que não tinha uma mão.
Héctor Castro foi um dos muitos filhos deste pequeno país da América do Sul nascidos para o futebol. Com pouco mais de 3,4 milhões de habitantes, o Uruguai parece destinado a produzir futebolistas de qualidade. Uma qualidade que o escritor da terra, Eduardo Galeano (falecido em 2015, aos 74 anos) deixou vincada na obra "Futebol ao Sol e à Sombra" (1995). "Todos os uruguaios nascemos a gritar e por isso há tanto barulho nas maternidades".
Nascido em Montevideu a 29 de novembro de 1904, Héctor Castro cedo deixou a escola para vender jornais. Aos 13 anos, perdeu a mão direita num acidente com uma serra elétrica numa serralharia onde arranjara emprego. O seu sonho de ser guarda-redes terminava ali. Mas não o de futebolista.
Apelidado de Manco Castro, começou a carreira no extinto Clube Atlético Lito. E cedo as suas atuações, assim como os seus 145 golos em 231 jogos, chamaram a atenção do Nacional que o contratou, quando tinha 20 anos. Podia não ter uma mão mas a técnica, a raça e o talento eram inegáveis.
Do Nacional de Montevideu salta para a Seleção, onde vence a Copa América de 1926 e entra nos convocados da Seleção que viria a vencer o torneio Olímpico de futebol Jogos de 1928 (foi suplente). A sua estreia na Seleção foi diante do Brasil, numa vitória por 2-1 em 1923.
Marcou o primeiro e o último golo do Uruguai no primeiro título mundial da Celeste (4-2 diante da Argentina na final), num total de três, numa prova onde ficou conhecido por Divino Manco.
A final diante da Argentina era uma oportunidade para a Albiceleste vingar a derrota na final do torneio olímpico, em Amesterdão. Héctor Castro, que tinha sido titular apenas no primeiro encontro, assistiu e marcou no triunfo por 4-2, num jogo onde a Argentina esteve a vencer por 2-1.
A classe e talento do Divino Manco chamou a atenção do Estudiantes de La Plata, da Argentina, que o contratou em 1932. Ficaria apenas um ano, para voltar em 1933 ao seu Nacional de Montevideu para voltar a ser campeão do Uruguai. No seu clube do coração venceu o campeonato uruguaio em 1924, 1933 e 1934.
Despediu-se da da Seleção do Uruguai a 15 de agosto de 1935, numa derrota diante da Argentina por 3-0 em Avellaneda, pela Copa Juan Mignaburu.
Deixaria o futebol em 1936 como o sétimo melhor marcador do do campeonato uruguaio, com 107 golos e 101 jogos.
Foi treinador-adjunto e treinador principal do Nacional. Como treinador, venceu o campeonato uruguaio em 1940, 1941, 1942, 1943 e 1952. Orientou ainda a seleção uruguaia em 1959, na primeira das duas Copas América daquele ano, realizadas na Argentina. O Uruguai terminou em penúltimo.
Hector 'Divnio Manco' Castro morreu a 15 de setembro de 1960, aos 55 anos.
O SAPO está a acompanhar o Mundial mas não esquece as vidas perdidas no Qatar. Apoiamos a campanha da Amnistia Internacional e do MEO pelos direitos humanos. Junte-se também a esta causa.
Comentários