No futebol, os jogadores facilmente conseguem ascender a heróis. Um golo decisivo e uma conquista pode mudar por completo o destino de um atleta que, de um momento para o outro, passa apenas de mais um para ídolo.
Nesta história, Saaed Owairan tornou-se herói e ídolo da Arábia Saudita, mas durante pouco tempo. Os acontecimentos fora das quatro linhas com a prisão e a expulsão definitiva do mundo do futebol ditaram que o jogador passasse a vilão.
Vamos então recordar todo o contexto histórico dos acontecimentos. Estávamos no Mundial de 1994, com sede nos EUA, e a Arábia Saudita cumpria a sua primeira participação naquela que era a 15ª edição da prova. Os Sauditas estavam no grupo F, juntamente com Marrocos, Bélgica e Países Baixos, mas o jogo de destaque foi mesmo frente aos belgas.
A equipa liderada por Jorge Solari pôde contar com um super inspirado Saaed Owairan que terá feito o jogo de uma vida. Aos cinco minutos, o médio passou por cinco adversários e bateu de forma brilhante o histórico guardião Michel Preud'homme para o 1-0 final.
Escusado será dizer que este foi um dos melhores momentos da Arábia Saudita em Campeonatos do Mundo, ao qual podemos juntar agora o mais recente triunfo frente à Argentina na primeira jornada da fase de grupos da edição de 2022.
Saaed Owairan ficou na história não só pela importância do golo marcado como pela relevância do resultado que ajudou os Sauditas a qualificarem-se para os oitavos de final, onde caíram aos pés da Suíça (1-3).
Tudo parecia um conto de fadas até Owairan se deixar levar pelos problemas que afetam muitos jogadores fora das quatro linhas.
O médio foi recebido como uma celebridade no regresso ao país e foi premiado com um carro de luxo oferecido Fahd. O que é que aconteceu a seguir? Owairan não lidou da melhor forma com o luxo e com a fama, arruinando o resto da carreira.
Dois anos depois do Mundial, Saaed Owairan bateu mesmo no fundo ao ser apanhado a consumir álcool na companhia de várias mulheres. Se a situação já era grave, pior se tornava por ser em pleno período de Ramadão.
O jogador não se livrou de uma pena de prisão de seis meses e da suspensão do futebol durante um ano. Apesar de a Arábia Saudita ter conquistado a Taça Asiática em 1996 sem Owairan, o perdão chegou na altura em que a seleção se preparava para disputar o Mundial de 1998 em França.
O médio, já com 30 anos, não conseguiu o mesmo desempenho de há quatro anos atrás e perspetivava-se cada vez mais o final da carreira. Na história, ficou o herói que se tornou vilão e que nunca conseguiu ir mais além do futebol da Arábia Saudita, devido às regras que impediam os jogadores do campeonato local se transferirem para outros palcos.
Saaed Owairan não deixa, contudo, de estar entre os melhores marcadores de sempre do futebol saudita.
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