Não é segredo para ninguém que os treinadores de futebol de hoje têm de contar e analisar todos os aspetos do jogo até ao mais ínfimo pormenor: desempenho antes, durante, e até após o jogo, os mais variados dados estatísticos e até o perfil psicológico da sua equipa e do adversário, tudo para poder saborear o doce néctar da vitória.
Ao longo de um jogo, os técnicos têm de estar atentos a tudo o que se passa, e até antecipar cenários e probabilidades; algo visto como totalmente normal e que ganha outra dimensão e 'pathos' quando falamos de um Campeonato do Mundo.
No Mundial de 2014, disputado no Brasil, o selecionador neerlandês Louis Van-Gaal, levou todo este processo de análise e previsões para um patamar de puro pragmatismo. Os quartos de final da prova pôs frente-a-frente os Países Baixos e a Costa Rica, seleção que estava a ser a surpresa do torneio.
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Num jogo marcado pelo equilíbrio, o nulo teimava em manter-se, isto apesar de ambas as equipas terem criado oportunidades de golo. A desinspiração ofensiva das duas seleções levou o jogo para o prolongamento, onde se manteve a mesma toada.
Tim Krull: O neerlandês voador
Foi então que, ao minuto 121, quando já todos se preparavam para o desempate através de grandes penalidades, Louis Van-Gaal decidiu surpreender tudo e todos quando resolveu fazer a sua última substituição...trocando de guarda-redes.
À boa maneira do andebol, quando um guarda-redes entra exclusivamente para defender livres de sete metros, Tim Krull, guardar-redes do Newcastle, substituiu Jasper Cillessen, para poder defender os penaltis diante dos costa-riquenhos. Na altura poucos conseguiam perceber qual o raciocínio por detrás daquela inédita decisão, uma vez que não se vislumbrava qualquer problema físico com Cilessen que a justificasse.
A aposta em Krull acabou por ser acertada, já que o guardião parou os penaltis de Bryan Ruiz e Michael Umana para levar os Países Baixos para as meias-finais do Campeonato do Mundo.
No final da partida, Van-Gaal revelou a ideia por detrás da entrada de Krull para as grandes penalidades.
"Pensámos muito bem. Todos os jogadores têm certas aptidões e qualidades e nem sempre coincidem. Sentimos que o Krul seria mais apropriado para defender penáltis. Não lhe dissemos nada porque não queríamos que soubesse antes do jogo. Mas, como expliquei, cada jogador tem as suas qualidades específicas. O Tim tem um alcance maior e um melhor registo nos penáltis do que o Jasper. Falámos com ele. Sabia que tinha de estar preparado e resultou. Se não tivesse resultado, o erro teria sido meu", disse o selecionador.
Já o próprio Tim Krull descreveu o que vivenciou ao longo do jogo e o momento em que foi chamado para entrar.
"Não me apercebi que o jogo estava mesmo quase a acabar. Passei o jogo todo no banco, tivemos oportunidades atrás de oportunidades e não as aproveitámos. De repente, mandam-me lá para dentro e nem há tempo para pensar, defende-se dois penáltis e agora estamos nas meias-finais do Mundial", afirmou.
Curiosamente as meias-finais diante da Argentina também foram decididas através de penaltis, todavia, aí Van-Gaal já não utilizou o mesmo expediente, já que tinha esgotado todas as substituições no início do prolongamento. Cilessen não foi capaz de travar qualquer penalty argentino e os falhanços de Vlaar e Sneijder ditaram a eliminação dos Países Baixos.
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