A história remete-nos para 1930, há 92 anos. Decorria aquele que era o primeiro Mundial de sempre, disputado no Uruguai entre 13 a 30 de julho - um período que se tornou um clássico para a competição que, salvo este ano, nos habituou a ser disputada no verão.

O grande vencedor acabou mesmo por ser o anfitrião depois da vitória numa final sul-americana frente à Argentina (4-2) e o primeiro troféu foi levantado no Estádio Centenário, um palco que batizou assim o primeiro Campeonato do Mundo e que se mantém como casa da Seleção do Uruguai.

No total, foram 13 os países que participaram na competição, entre os quais a Roménia e com uma história bastante curiosa, que envolveu... um descendente da Monarquia portuguesa.

Carlos II tinha sido coroado em junho desse mesmo ano e acabou por ter um papel ativo na participação da seleção romena no Campeonato do Mundo. O Monarca, refira-se, era bisneto de D. Maria II (antiga Rainha de Portugal).

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Com um espírito bem diferente daquilo que era esperado para um Rei, Carlos II preocupava-se acima de tudo com a presença da Roménia no Mundial do Uruguai.

Os tempos eram outros e, com o aproximar da data de arranque da competição, havia a preocupação de como a equipa se ia deslocar para o palco de todas as decisões. A viagem de barco, que era a única possibilidade na época, teria uma duração de mais de duas semanas. A comitiva acabou por seguir no SS Conte Verde juntamente com o Rei.

Mas este não foi o único problema a ser resolvido pelas mãos de Carlos II. Por se tratar do primeiro Campeonato do Mundo, e ao contrário do que acontece hoje em dia, havia um claro conflito entre os interesses dos clubes e postos de trabalho em relação aos compromissos internacionais dos jogadores. Este foi também um motivo que ajudou a Roménia a apurar-se para o Mundial, face às desistências de alguns países.

Carlos II assumiu, neste caso, um papel de gestor em toda a situação, sem desistir de levar a Roménia ao Mundial. A equipa era inexperiente ao nível do futebol, mas ainda assim foi possível selecionar uma lista de 19 jogadores a seguir para o Uruguai. Há quem diga que esta foi uma escolha da responsabilidade do Monarca, mas também foram muitos que não esqueceram o papel do selecionador da altura, Constantin Radulescu.

A verdade é que, para isto acontecer, teve de haver um acordo com uma empresa petrolífera britânica, que dava emprego aos jogadores e que, inicialmente, pretendia avançar com um despedimento caso se confirmasse a presença no torneio.

Depois de um aparente 'braço de ferro', Carlos II levou a sua avante e os jogadores passaram mesmo a receber um valor nos dias que estavam ausentes a representar a Seleção, sem qualquer tipo de prejuízo nem despedimentos. Para além disto, o Rei também se encarregou de todos os jogadores que estavam suspensos.

Já no Mundial de 1930, o registo da Roménia acabou por não ser o melhor. A seleção ficou-se pela fase de grupos, depois de um primeiro triunfo sobre o Perú (3-1), mas com uma consequente derrota diante o Uruguai (4-0), que viria a conquistar o troféu, e que atirou os romenos para o segundo lugar do grupo C.

De positivo também se retira, mais uma vez, a boa relação de Carlos II com os jogadores, ao replicar os exercícios que a equipa fazia com bola durante o torneio.

Um Monarca diferente, com uma paixão e um papel ativo no mundo do futebol, que mudou a história da Seleção Romena em 1930. Carlos II abandonou o trono em 1920 e acabou por morrer em Portugal em 1953.

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