Ao longo de um século de futebol, Brasil e Portugal nunca cortaram o cordão umbilical que une os dois países, protagonizando milhares de transferências entre si. Porém, a imensa maioria aterrou sempre em solo lusitano, “contando-se pelos dedos” os portugueses que arriscaram a sua sorte em terras de Vera Cruz. Desse lote restrito de jogadores, Fernando Peres é a mais honrosa exceção.
Formado nas camadas jovens do Belenenses, este extremo esquerdo português rapidamente deu nas vistas e chegou ao Sporting em 1965. Rezam as crónicas da década de 60 que Fernando Peres se destacava pela sua excelente técnica e grande visão de jogo, caraterísticas às quais aliava uma elevada eficácia diante da baliza, como atestam os 65 golos apontados em cerca de 200 jogos (seis épocas) nos leões (na fotografia é o quarto jogador em baixo).
Do Sporting para o Vasco da Gama
Contudo, o seu rendimento em campo foi ofuscado pelas divergências que começou a ter com a direção do clube de Alvalade e o desfecho dessa ‘guerra’ levaria o jogador a deixar o Sporting. Corria então o ano de 1972 e Fernando Peres - um dos ‘Magriços’ de 1966 - fazia parte da comitiva da Seleção Nacional que brilhou na MiniCopa, uma espécie de versão reduzida do Mundial e que reuniu algumas das maiores potências desse tempo.
Fernando Peres, de 30 anos, ajudou Portugal a chegar à final do torneio, na qual perderia para o anfitrião Brasil. Por essa altura já tinha chamado a atenção dos responsáveis do Vasco da Gama, que não o deixariam regressar mais ao seu país. E assim começou a aventura brasileira de Fernando Peres.
O ex-jogador dos leões conseguiu em 1974 o feito de se sagrar campeão num dos emblemas com mais raízes portuguesas no Brasil. Um feito que resiste até aos nossos dias e que não voltou a ser alcançado por outro português.
No entanto, o FC Porto, que já o desejava desde os tempos de Alvalade, gastou 500 contos para o ‘resgatar’ ao futebol brasileiro. O resgate duraria somente uma temporada, pois Fernando Peres receberia novo chamamento do Brasil, como o próprio contou ao SAPO Desporto.
«No final da época o FC Porto fez uma digressão ao Brasil e começa precisamente por Recife. Em Recife saiu-me tudo bem, “abri o livro”, como se costuma dizer. O treinador do Sport Recife era o técnico que na época transata tinha estado no Fluminense e portanto conhecia-me bem. Pediu ao presidente para me contratar e assim foi. Quando fui para o FC Porto já jogava com o passe na mão, o chamado ‘passe livre’. Quando regressámos da digressão, eu já tinha assinado pelo Sport Recife. Na altura, quando saí do Vasco da Gama, o presidente encontrava-se em Paris e pediu-me para eu esperar pelo regresso dele que ele resolveria a situação. Eu não esperei e, a partir daí, ele nunca mais me perdoou porque estou convencido de que se tivesse esperado, ele tinha-me dado a volta. Depois quis regressar ao Vasco, mas ele já não me perdoou e por isso assinei pelo Sport Recife», disse Fernando Peres, recordando a sua passagem pelo futebol pernambucano.
O regresso vitorioso ao Brasil
A verdade é que apesar de já ser então um veterano, o jogador português voltou a mostrar o seu talento e utilidade, contribuindo para o título estadual do Sport Recife em 1977. O Sport Recife foi o último marco da sua caminhada no Brasil, regressando posteriormente a Portugal para encetar uma carreira de treinador.
A história do futebol de Portugal e Brasil diz-nos que houve inúmeros jogadores brasileiros a marcar a nossa história. Fernando Peres atreveu-se a marcar a história do nosso futebol no Brasil.
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