Seja em casa, no trabalho ou em qualquer outro lugar, servir café árabe é uma tradição muito presente no Qatar e nos vizinhos na região do Golfo pérsico, até o ponto de ser considerado um símbolo da "hospitalidade" do país anfitrião do Mundial de 2022.
"Nem sabia que havia grãos de café aí dentro. Não tem o gosto do café que conhecemos", diz, surpreendida, Lanka Perera, cingalesa de 29 anos a residir no país há três.
A bebida amarelada, que tem consistência de chá, tem forte sabor de especiarias e "bebe-se quase todos os dias", acrescenta Perera.
"Os nossos companheiros cataris fazem-nos tomá-lo todos os dias, mas não sabia como era feito ou qual era sua origem", admite depois de uma sessão dedicada ao famoso "gahwa" na Embrace Doha, um centro cultural independente.
Todo o ritual de consumo é uma porta de entrada à cultura do emirado. A origem do "gahwa" se deu há pelo menos 600 anos, com a introdução do café etíope na região - a lenda diz que as propriedades dos grãos foram descobertas por um pastor do Iémen - e continua com a composição da bebida, a partir de grãos de café tostados e cozidos, além do cardamomo e açafrão.
"O café italiano é muito conhecido, mas sabiam que ele vem daqui, do mundo árabe? Estamos muito orgulhosos disso, pois muita gente o consome. Além do mais, é uma ótima forma de de iniciar uma conversa", explica Shaima Sherif, diretoria geral do Embrace Doha, localizado no coração de Al Wakrah, a sul da capital catari.
"Símbolo de generosidade"
Nas majlis (locais de receção e centros sociais, principalmente masculinos), é o chefe de família que prepara o "gahwa" para os convidados e a bebida é oferecida pelos filhos mais jovens.
A tradição dita que o café deva ser servido com a mão esquerda numa cafeteira tradicional chamada "dallah" e dividido em pequenas taças com o nome de "finjans", que devem ficar cheias até um quarto da sua capacidade para que não queimar a mão direita, utilizada para consumir a bebida. A degustação também é acompanhada de tâmaras.
A forma de comunicar que já se está saciado é agitando o "finjan", em vez de o dizer em voz alta. Este costume é uma herança do passado em que pessoas surdas serviam nos "majlis", uma forma de evitar o vazamento de assuntos políticos ou militares.
"O símbolo do café faz parte de nossa história. Em centenas de anos, o país mudou, mas o café, não", ressaltou Sherif.
Em 2015, uma iniciativa dos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Omã e Qatar fez com que o "gahwa" fosse considerado património cultural imaterial da Humanidade.
"Servir o café árabe é um aspeto importante da hospitalidade nas sociedades árabes e é considerado um símbolo de generosidade", acrescentou a Unesco.
É uma forma de "hospitalidade calorosa", dizem os organizadores do Mundial2022, especialmente em relação às preocupações de outros países sobre a receção de adeptos LGBTQIA+ no torneio.
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