A Federação Iraniana de Futebol pediu no domingo (27) a demissão do alemão Jurgen Klinsmann do grupo de estudos técnicos da FIFA após o antigo jogador acusar a seleção do Irão de influenciar o árbitro na vitória por 2-0 sobre o País de Gales, na sexta-feira (25).
"Além de ter feito várias considerações infelizes sobre a seleção iraniana e a sua equipa técnica, Klinsmann fez julgamentos sobre a cultura iraniana (…) a Federação Iraniana de Futebol pediu esclarecimentos à FIFA e exigiu um pedido de desculpas e a demissão de Klinsmann do grupo de estudos técnicos da FIFA", escreveu o órgão iraniano, num comunicado publicado no domingo.
Klinsmann tinha criticado a seleção iraniana, em declarações à BBC, após o triunfo dos iranianos sobre o País de Gales por 2-0, no Mundial2022.
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"O Carlos encaixa muito bem na seleção do Irão e na sua cultura. Não é uma coincidência. É tudo de propósito. Faz parte da cultura deles, é assim que jogam. Andam a 'trabalhar' o árbitro. Basta ver o banco, a forma como saltavam em cima do assistente e do quarto árbitro, sempre a dar-lhes na cabeça. Há muita coisa que não se vê. Esta é a cultura deles, tentam tirar-te o foco. Fazem-te perder a concentração e isso é algo importante. E aí tiram-te do jogo. Teria sido diferente com outro árbitro. Eles tinham cinco pessoas à volta do árbitro do jogo e isso não jogou a favor do País de Gales", disse à BBC o antigo selecionador da Alemanha e dos Estados Unidos da América, adversário do Irão na terceira ronda da fase de grupos, na na próxima terça-feira (29).
Carlos Queiroz deu a resposta, numa longa mensagem publicada na rede social Instagram.
"Mesmo não me conhecendo pessoalmente, questionas o meu carácter com um típico juízo preconceituoso de superioridade. Por muito que eu possa respeitar o que fizeste dentro do campo, essas observações sobre a cultura iraniana, a seleção iraniana e os meus Jogadores são uma vergonha para o futebol. Ninguém pode ferir a nossa integridade se não estiver ao nosso nível, é claro", começou por dizer.
"Gostaríamos de o convidar para vir ao nosso centro de treinos socializar com os jogadores iranianos e aprender com eles sobre o país, o povo do Irão, os poetas e a arte, a álgebra, toda a milenar cultura persa… E também ouvir dos nossos jogadores o quanto eles amam e respeitam o futebol", pode-se ler ainda.
Queiroz diz que compreende o não apoio de Klinsmann, num norte-americano/alemão.
"Apesar das vossas observações ultrajantes sobre a BBC, tentando minar os nossos esforços, sacrifícios e habilidades, prometemos-vos que não produziremos quaisquer julgamentos sobre a vossa cultura, raízes e antecedentes e que serão sempre bem-vindos à nossa família", escreveu ainda o português que comanda o Irão.
O português que treina o Irão também tinha pedido a demissão de Jurgen Klinsmann do Grupo de Estudos Técnicos do Qatar 2022
"Ao mesmo tempo, queremos apenas seguir com toda a atenção qual será a decisão da FIFA relativamente à sua posição como membro do Grupo de Estudos Técnicos do Qatar 2022. Porque, obviamente, esperamos que se demita antes da sua visita ao nosso centro de treinos", finalizou.
"Nunca critiquei o Carlos"
O Grupo de Estudos Técnicos da FIFA (TSG) é responsável por analisar todos os jogos do Mundial de 2022 e relatar as principais tendências de jogo e táticas.
A federação iraniana recordou que "como alemão, Klinsmann não será julgado pelo episódio mais vergonhoso da história de um Mundial de futebol (…) quando a Alemanha Ocidental e a Áustria fabricaram um resultado".
Horas mais tarde, o antigo avançado retratou-se, em declarações à BBC.
"Nunca critiquei o Carlos (Queiroz) nem o banco de suplentes iraniano. Alguns até pensaram que eu estava a criticar o árbitro porque ele não fez nada sobre o comportamento do banco. Tudo o que descrevi foi a sua maneira emocional de fazer as coisas, o que é admirável de certa forma. Todo o banco vive o jogo. Eles saltam e o Carlos é um treinador muito emotivo, está sempre atento para tentar dar energia aos seus jogadores", finalizou.
O Irão ocupa a segunda posição no Grupo B do Mundial e jogará na próxima terça-feira contra os Estados Unidos da América, um dos duelos decisivos não só para garantir quem se se apura para os oitavos de final, mas também pelo histórico político e social entre os dois países.
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