Fernando Santos deve ter sido o único português a ficar satisfeito com o empate de Portugal diante da República da Irlanda. É verdade que, matematicamente, empatar ou vencer iria dar ao mesmo já que Portugal teria sempre de não perder o derradeiro jogo com a Sérvia, mas a forma como os lusos se exibiram no Aviva Stadium deixa muitas questões no ar. Uma delas, a falta de qualidade de jogo (algo recorrente), numa seleção com jogadores com tanta qualidade.
Salvou-se o empate, que deixa Portugal a um ponto de se apurar para o Mundial2022. Domingo recebe a Sérvia na Luz, sem Pepe, expulso diante dos irlandeses.
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O Jogo: devagar, devagarinho, sem gastar muita energia. E sem ideias
A estatística final diz que Portugal fez 12 remates, três deles enquadrados. Mas é preciso explicar os mesmos. O primeiro é um desvio de André Silva aos 14 minutos, já sem ângulo que o guardião, Bazunu, pelo sim pelo não, desviou para canto; o segundo é um remate de Moutinho de fora da área aos 59 minutos, que bateu num adversário e chegou facilmente às mãos do guardião irlandês; o terceiro e último, é um lance de Cristiano Ronaldo no último minuto de compensação em que, na linha de fundo e sem ângulo, remata contra o guarda-redes que fechava o seu poste.
E está assim resumido o ataque de Portugal nos 90 e tal minutos diante da República da Irlanda.
Em campo, Portugal nunca deu sinais de querer vencer o jogo. A ideia que se fica é que se fosse apresentado aos jogadores uma proposta de assinar o empate antes do jogo e ninguém se desgastar em campo, todos assinariam sem pensar duas vezes.
Foram passes errados entre jogadores a seis metros de distância, falta de coordenação sobre quem acompanhava quem, falta de ideias sobre quem organizava o ataque, sobre que movimentos cada jogador faria com e sem bola…
Mas o primeiro sinal de apatia foi dado por Fernando Santos. Dos seis jogadores em risco de falhar o jogo com a Sérvia, caso vissem amarelo, só Palhinha jogou. Dos outros cinco, Renato Sanches foi lançado no segundo tempo (não é titular indiscutível), tal como José Fonte após a expulsão de Pepe. Rúben Dias, Cancelo e Diogo Jota não saíram do banco.
O crescimento de Portugal nos últimos jogos de qualificação para o Mundial2020 ficou longe deste jogo. Verdade seja dita que, com Fernando Santos, é difícil encontrar um jogo em que se pode elogiar a exibição de Portugal. Mesmo quando goleia, fica a ideia que seria possível fazer mais.
É que ninguém sabe qual é a ideia de jogo de Portugal. São quase sempre os mesmos jogadores, a trabalhar com o selecionador há muito tempo. Um selecionador que está à frente dos destinos da Seleção de Portugal desde setembro de 2014 e que, desde aí, ninguém sabe qual é o futebol de Portugal. Tempo mais que suficiente para apresentar uma ideia de como atacar e como defender, tirando partido da qualidade dos jogadores à sua disposição.
Como disse e bem Fernando Santos, ganhar por 5-0 ou empatar ia dar ao mesmo, em termos matemáticos. O problema não está no ganhar ou empatar, está na forma como é feito. E perante esta República da Irlanda, que somava apenas uma vitória nesta qualificação, exigia-se muito mais dos jogadores e do selecionador de Portugal.
Exigia-se que a construção ofensiva não fosse passes longos de Pepe para Cristiano Ronaldo correr. Que não fossem passes em profundidade à procura da velocidade dos da frente. Exigia-se que a construção fosse além dos passes de lateral para médio e médio para lateral. Exigia-se, acima de tudo, algo que fosse de encontro à qualidade dos jogadores lusos.
A única grande oportunidade de Portugal em todo o jogo nasce de um centro largo de André Silva que Cristiano Ronaldo desviou para fora, daquelas que nem ele costuma falhar, perto dos 70 minutos.
A expulsão de Pepe a 10 minutos do final deixou Portugal a defender a sua baliza perante a pobreza futebolística dos irlandeses, incapazes de criar algo a nível ofensivo em todo o jogo.
Agora é esquecer tudo o que aconteceu neste jogo e sacar o tal 'pontinho' diante da Sérvia na Luz no domingo para carimbar o passaporte rumo ao Qatar. Diante dos sérvios, não haverá Pepe. Mas seria bom apresentar outra cara, caso contrário, Portugal terá de disputar um play-off para tentar o apuramento.
Momento-chave: Até tu, Ronaldo?
Numa noite de desinspiração ofensiva, Cristiano Ronaldo conseguiu falhar a única oportunidade de golo de Portugal. Verdade seja dita, Portugal não merecia vencer. Não pelo que a Irlanda jogou, mas por aquilo que os lusos não mostraram.
Os Melhores: Não há cá melhores
Ninguém se safou no naufrágio de Dublin. Nenhum jogador se destacou dos demais, o que diz bem da péssima exibição em Dublin. Melhor mesmo talvez o árbitro espanhol Gil Manzano, pela coerência nos amarelos em lances de contacto na cara: a Pepe e a Ogbene.
De Portugal, a única coisa positiva foi mesmo o empate, que obriga a Sérvia a vencer na Luz no domingo e os lusos a contentarem-se com um empate para se apurarem.
Em noite 'não': Naufrágio geral
A exibição da República da Irlanda explica também o porquê de terem apenas uma vitória (3-0 fora diante do Azerbaijão) nos sete jogos realizados (exclui-se os amigáveis com o Qatar). É que esta era uma noite para se agigantar e bater Portugal, uma equipa sem nada em campo. Mas faltam argumentos técnicos aos irlandeses.
De Portugal, já se disse, nada se aproveita.
Reações: Fernando Santos gostou
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