Quando Faryd Mondragón entrou em campo Cuiabá, na goleada da Colômbia frente ao Japão por 4-1 na fase de grupos do Mundial2014, o guarda-redes dos ´caffeteros` acabava de estabelecer um recorde impensável: tornou-se no mais velho jogador de sempre a disputar uma fase final de um Mundial, com 43 anos. 20 anos antes do colombiano, Roger Milla tinha sido o mais velho de sempre a jogar e a marcar num Mundial. O atacante representou os Camarões com 42 anos, tendo até apontado um golo na competição.
Antes de El Hadary, houve Mondragón mas também Roger Milla
Ver guarda-redes jogarem ao mais alto nível até perto dos 40 anos não é propriamente novidade. Buffon, capitão da Juventus, tem 39 anos e continua dono e senhor da baliza da Vecchia Signora mas também da seleção italiana.
O que poucos imaginavam era que o recorde de Mondragón fosse batido tão cedo. Quatro anos depois, o egípcio Essam El Hadary pode tornar-se no jogador mais velho de sempre a disputar uma fase final de um mundial, com 45 anos, caso seja chamado pelo argentino Héctor Cúper, selecionador do Egipto. O guarda-redes foi decisivo na caminhada dos Faraós rumo a Rússia2018, selado este domingo com a vitória frente ao Congo. El Hadary fez todos os cinco jogos já disputados no Grupo E, liderado pelos Faraós com 12 pontos em cinco jogos, mais quatro que o Uganda, segundo colocado, num grupo que tem ainda o Gana e o Congo.
"Fiz quase tudo na minha carreira de futebolista. Ganhei 37 troféus e estive em alguns momentos memoráveis da Seleção do Egito, como a vitória sobre a Itália na Taça das Confederações em 2009. A única coisa que me falta é uma presença num Mundial de futebol", contou o jogador ao site da FIFA, pouco tempo antes de selar o apuramento para o Mundial2018.
Para o atual guarda-redes do Al-Taawoun, da Arábia Saudita, tudo se resume a paixão pelo futebol.
"Sempre fui muito determinado e persistente para continuar a jogar, esta é a minha forma de estar. No tempo em que estive no Al Ahly, o Ahmed Nagui [atual treinador de guarda-redes do Egito] dizia-me que eu só iria parar de jogar depois dos 50 anos. O facto de ainda poder ir a um Mundial deixa-me ainda mais motivado para continuar a jogar até realizar este sonho", completou.
Já tinha pendurado as botas até ser chamado para ser herói e bater recordes
Aos 44 anos e já com 153 internacionalizações, El Hadary já nem contava voltar à baliza do Egipto. Foi chamado para o CAN2017 como terceira opção, mas teve de ir a jogo frente ao Mali no jogo inaugural porque o habitual titular, Ahmed El-Shennawi, lesionou-se e o segundo guarda-redes, Sherif Ekramy, ainda estava a recuperar de uma mazela. Ao entrar em campo, bateu o recorde do seu antigo colega, Hossam Hassan, que, com 39 anos, era o jogador mais velho de sempre a disputar uma fase final de um CAN.
E, mesmo com 44 anos, mostrou que ´velho são os trapos`. Foi o ´herói` nas meias-finais do CAN2017 ao defender duas grandes penalidades frente ao Burquina Faso de Paulo Duarte, num jogo em que o Egito só venceu [4-3] no desempate a partir da marca dos onze metros, depois de 1-1 nos 120 minutos.
Ainda no que a recordes diz respeito, El Hadary esteve dez horas e 53 minutos sem sofrer qualquer golo numa fase final de uma Copa de África, até ser batido por Aristide Bancé, nesse jogo da meia-final do CAN2017 frente ao Burquina Faso.
O apuramento do Egito é um prémio para este guarda-redes de 44 anos, depois de ver os Faraós ficarem com um pé na fase final da prova nas últimas duas edições: em 2009 o Egito foi eliminado nos play-off pela Argélia por 1-0. Em 2003, na mesma fase, a equipa tinha sido ´dizimada` pelo Gana ao perder por 7-3 no conjunto das duas mãos do play-off.
Títulos, títulos e mais títulos
Entre outros títulos, El Hadary venceu a Taça das Nações Africanas em quatro ocasiões (1998, 2006, 2008 e 2010), tendo integrado o melhor onze da prova por três vezes (2006, 2008 e 2010). Venceu ainda a Liga dos Campeões Africanos pelo Al Ahly em 2001, 2005, 2006 e 2008, a Supertaça Africana em 2002, 2006 e 2007, além de vários títulos no Egito.
Essam El Hadary começou a jogar no Gazl Domyat, do Egipto, na época 1995/1996. Na época seguinte mudou-se para o Al Ahly (fez 11 temporadas seguidas) onde fez a sua estreia na seleção do Egipto em 1996. Jogou ainda Ismaily, Zamalek e Wadi Degla, todos do Egito. Representou ainda o Al-Merreikh do Sudão e o Sion da Suíça, naquela que foi a sua única aventura na Europa. Atualmente defende as cores do Al Taawon da Arábia Saudita.
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