O futebolista português Rui Pires mostrou-se hoje descontente com a impossibilidade de o Troyes lutar pelo regresso à Liga francesa, após o cancelamento antecipado dos campeonatos com promoções e despromoções, devido à pandemia de COVID-19.
“Como faltavam 10 jogos acho que se deveria continuar a II Liga, caso contrário terminava de vez sem subidas nem descidas. Seria o mais justo, até porque tínhamos disputado bastantes jogos com as equipas de cima e podia ser uma grande oportunidade para nós. Estávamos no quarto lugar, a dois pontos do segundo [Lens] e a três do primeiro [Lorient], o que não é nada. Esses dois clubes acabaram por subir diretamente e são decisões que temos de respeitar”, referiu à agência Lusa o médio, de 22 anos.
Face à evolução do novo coronavírus, o escalão secundário do futebol francês ficou suspenso por tempo indefinido em 13 de março, quando estavam decorridas 28 rondas e o Troyes seguia no quarto lugar, com 51 pontos, um acima do Clermont e menos dois que o Ajaccio, três emblemas posicionados nos lugares do ‘play-off’ de acesso à elite.
“Ainda tínhamos essa hipótese, em conjunto com o antepenúltimo classificado da I Liga. Como subiram duas equipas, deveríamos ter tido a oportunidade mínima de disputar os ‘play-offs’ para tentar aceder à I Liga, mas não sou eu que decido nem as pessoas do nosso clube”, lamentou Rui Pires, que jogou 14 partidas no nordeste gaulês.
Dois dias após o primeiro-ministro gaulês, Édouard Philippe, ter anunciado a impossibilidade de retomar a temporada dos desportos profissionais, a Liga francesa de futebol oficializou o encerramento dos dois escalões profissionais, declarando o Paris Saint-Germain e o Lorient como campeões do primeiro e segundo escalões, respetivamente.
O Lens vai acompanhar a formação da região da Bretanha no regresso à elite, substituindo os primodivisionários Amiens e Toulouse, que ocupavam os dois postos de descida direta na altura da interrupção, num conjunto de decisões que poderão desencadear uma onda de litígios perante a justiça desportiva.
“Claramente cada um vai lutar para o seu lado, porque havia equipas que queriam jogar e outras não. As decisões nunca vão ser acertadas para todos, mas concordo com o cancelamento dos jogos de futebol, que têm uma logística muito grande. A saúde continua sempre em primeiro lugar”, sustentou o centrocampista formado no FC Porto.
Com a declaração de pandemia, em 11 de março, inicialmente alguns eventos desportivos foram disputados sem público, antes de serem cancelados, adiados ou suspensos, mas esse contexto pouco afetou os horizontes de Rui Pires, vencedor de um campeonato de juniores e duas Premier League International Cup numa década ao serviço dos ‘dragões’.
Natural de Mirandela, o médio transferiu-se para o Troyes em julho e culminou uma estreia “muito positiva” no estrangeiro da “pior forma”, ao sofrer uma rotura dos ligamentos cruzados do joelho direito em 30 de novembro, na reta final do triunfo sobre o Sochaux (1-0), da 16.ª jornada da II Liga, cuja recuperação deve terminar no verão.
“Mal tive a lesão vim para Portugal e fui operado pelo professor [José Carlos] Noronha. Dois ou três meses depois estava com viagem marcada para França, mas coincidiu com o aparecimento do vírus e decidimos que era melhor continuar por cá. Ainda não tenho datas para nada, porque a situação está mais complicada lá”, partilhou.
Capitão da seleção portuguesa na final do Euro2017 de sub-19, perdida para a Inglaterra (1-2), Rui Pires tem trabalhado com um fisioterapeuta no Porto para debelar uma lesão “bastante chata”, prognosticada com oito meses de reabilitação, que farão com que regresse “muito mais forte física e psicologicamente” aos relvados.
“Nos primeiros tempos não conseguia fazer quase nada com as muletas e precisava sempre da ajuda das pessoas que estavam comigo. Nem sequer conseguia andar bem, mas já comecei a dar os primeiros passos no campo com cautela. Ainda estou numa fase de recuperação e daqui a dois ou três meses estarei pronto para jogar”, afiançou.
Sem cumprir o “sonho” de representar a equipa principal do FC Porto, o médio defensivo deparou-se com várias propostas de clubes portugueses, espanhóis e italianos no verão e optou por um contrato de três anos com o Troyes, que já tinha falhado a subida na última época através dos ‘play-offs’, sob liderança do treinador português Rui Almeida.
“Ninguém está parado e tentamos improvisar. Aliás, mesmo lesionado, tenho dois treinos todos os dias. Vamos tentar subir na próxima época, que é o grande objetivo da cidade, dos adeptos e do clube”, apontou Rui Pires, que representa uma instituição centenária, com 17 presenças no principal campeonato francês, a última em 2017/18.
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