Leizpig e PSG estão longe de reunir consenso nos respetivos países. A forma como os dois emblemas cresceram nos últimos anos, à base de investimentos externos, cada um à sua maneira, não agrada aos amantes do futebol na Alemanha e França. Seja como for, um deles marcará presença na final da mais prestigiante prova de futebol a nível de clubes no próximo domingo. O sonho é agarrar a 'orelhuda' e 'montar' acampamento no topo do futebol mundial. Pelo menos durante um ano.
Apesar de serem dois clubes ricos, a riqueza de ambos tem origem diversa: o Leipzig, assente num projeto de valorização de jovens promessas que depois são vendidos para os colossos do futebol europeu. o PSG em comprar os melhores do Mundo com petrodólares.
Especial Liga dos Campeões: Acompanhe todas as decisões com o SAPO Desporto!
Fundado apenas em 2009, quando a gigante de bebidas energéticas Red Bull resolveu comprar o modesto Markranstädt (que passou a ser RB Leipzig e depois Rasenballsport que, em alemão, significa 'desporto com bola na relva'), o Leipzig volta a das mostras de que os projetos sustentados, alicerçados em ideias sólidas, podem dar resultado. Basta acreditar e ter as pessoas certas nos cargos. Em apenas sete anos, o subiu da 5.ª divisão do futebol alemão até estar prestes a garantir uma final de Champions.
Em França poucos morrem de amores pelo PSG, tornado num dos clubes mais ricos do mundo através de petrodólares, depois de ser comprado pela Qatar Sports Investments, um fundo de investimentos ao governo do Qatar. O seu presidente, Nasser Al-Ghanim Khelaïfi, quer transformar o gigante de Paris no melhor de França, onde já domina, e num dos melhores da Europa.
Apesar do forte investimento no plantel, onde se destacam os 222 milhões de euros pagos para ter Neymar, os 180 ME por Kylian Mbappé ou os 64 ME por Cavani (deixou o clube), só esta época o clube que domina o futebol francês conseguiu chegar às meias finais da Liga dos Campeões.
Nascido em 1970, da fusão entre o París FC e o Stade Saint-Germain, o PSG está longe de ter a história do Olympique Marselha ou do Olympique Lionnais. Num inquérito realizado pelo jornal 'L' Equipe' em 2015, o PSG aparecia como o clube mais odiado de França, com 25,19 por cento dos inquiridos a manifestarem-se contra o emblema de Paris, contra 13,5 por cento que reuniu o segundo mais odiado, o Olympique Marselha.
Ódios a parte, ambos os emblemas perseguem o título mais cobiçado na Europa de clubes, de forma a sustentar ainda mais as suas filosofias
Jogo de reencontros
Este será o primeiro dos dois confrontos franco-alemães nas meias finais da principal competição europeia, já que o Lyon e o Bayern de Munique defrontam-se na quarta-feira na luta pela outra vaga na final.
Pela primeira vez desde 2005, nem Lionel Messi nem Cristiano Ronaldo, vencedores de nove das últimas 15 edições com os respectivos clubes, vão estar presentes nas meias finais, que este ano também não contará com nenhum representante inglês, espanhol ou italiano, algo que não acontecia desde 1996.
Na ausência de Real Madrid, Milan, Liverpool ou Barcelona, apenas o Bayern Munique resiste ao aparecimento das novas potências europeias, encarnadas no PSG de Neymar e na versão Red Bull de Leipzig.
Além do duelo entre duas equipas com as mesmas ambições na Europa, o confronto entre PSG e Leipzig também será marcado por várias reencontros entre ex-companheiros e ex-mentores.
Além de Nkunku, que saiu da formação do PSG e tornou-se num dos arquitetos da temporada de sucesso da equipa alemã, o seu treinador Julian Nagelsmann (33 anos) tentará mostrar que pode superar o seu ex-mentor Thomas Tuchel (46 anos), o homem que o levou a ser treinador aos 20 anos.
Nagelsmann, um antigo central fisicamente imponente, no alto dos seus 1,90 metros, abandonou cedo o futebol devido às muitas lesões. Quando estava a pensar em desistir, Thomas Tuchel, seu adversário desta terça-feira, deu-lhe a mão e ofereceu-lhe o cargo de observador no Augsburgo, na Segunda Divisão alemã. O seu desempenho foi tão bom que passou a treinar os sub-17 do TSV 1860 Munique, o seu clube de formação.
“Era um jogador ‘desconfortável’, queria sempre saber porque fazíamos isto ou aquilo. Os relatórios dele mostravam que era muito atento aos pormenores”, recorda Tuchel.
Perante o jovem Nagelsmann, amante de um futebol de posse e sem complexos e que fez o Atlético de Madrid de Diego Simeone 'cair de joelhos' na última quinta-feira (2-1), a pressão do jogo recai sobre os comandados de Tuchel. Essa é, pelo menos, a opinião do austríaco Marcel Sabitzer: "Claro que o PSG é o favorito."
Ja Ander Herrera reconheceu que os jogadores do Leizig "não têm pressão para vencer a Liga dos Campeões ou chegar à final". "Isso pode ser mais perigoso para nós, porque sem essa pressão joga-se de forma mais livre", acrescentou o espanhol.
Neymar vs Nagelsmann: hora das estrelas brilharem
É inegável o 'dedo' de Nagelsmann neste Leipzig. O jovem técnico, de apenas 33 anos, começou a sua carreira como treinador-adjunto nos sub-17 do TSV 1860 Munique, em 2008/09, um ano depois de ter integrado a equipa técnica do Augsburgo com observador, pelas mãos de Thomas Tuchel. Foi adjunto e treinador principal dos sub-17 do Hoffenheim, outro clube odiado na Alemanha por causa do seu dono, antes de chegar a treinador principal a meio da época 2015/16, após três temporadas como treinador principal dos sub-19 (campeão alemão de sub-19 em 2014). Na época 2015/16 permaneceu como treinador principal, tornando-se no mais jovem de sempre a treinar uma equipa da primeira divisão da Alemanha.
Após o seu fantástico trabalho no Hoffeinheim (4.º na Bundesliga em 2016/2017 e 3.º em 2017/2018), acabou por ser contratado pelo Leipzig, um emblema com outros recursos com mais ambição.
O seu fantástico percurso poderá conhecer mais um capítulo histórico, isto se outra estrela assim o permitir. Neymar está cada vez mais maduro, a jogar mais para a equipa, como se viu frente a Atalanta, pelo que pode desequilibrar em qualquer momento, quer com um drible ou um passe para o endiabrado Mbappé. Os dois treinadores estão conscientes da influência do craque brasileiro.
“Neymar foi sempre um líder, já o era quando vim para este clube. Talvez tenha mudado um pouco nas suas características como líder, mas quer sempre ganhar e tem fome de sucesso, é assim que um líder atua em campo. Ele adora competição e estes são os desafios necessários para ser um líder. Ele sabe que não consegue ganhar sozinho e estamos muito contentes por ter juntado estes jogadores e criado a atmosfera que tornou este momento possível”, frisou Tuchel, na conferência de imprensa de antevisão do jogo.
A ‘química’ futebolística entre o jogador brasileiro e o avançado francês Kylian Mbappé foi também enaltecida por Tuchel, que admitiu que a relação das duas ‘estrelas’ é um dos pontos fortes do PSG.
“A relação entre Neymar e Mbappé é clara e eles fazem a diferença em campo, são uma grande mistura: Neymar, o driblador, e Kylian, muito rápido e com grande fome de golos. É seguramente uma das nossas forças, não há qualquer problema em admitir isso. Todas as equipas têm as suas forças e relações especiais entre jogadores”, explicou.
Julian Nagelsmann admitiu que “não é fácil parar” os avançados Neymar e Mbappé. Por isso, reiterou a importância de o Leipzig não se remeter a uma posição submissa no jogo.
“A sua qualidade é muito grande e gostam de surpreender, pelo que será um esforço coletivo. Vamos tentar impor o nosso jogo e sermos corajosos. Queremos tentar colocá-los sob pressão, temos esse potencial, com muitos jogadores jovens, e vamos mostrar as nossas virtudes. No final, quem marcar mais um golo irá passar”, observou Nagelsmann.
PSG: Keylor Navas fora, Di María a jogar 'em casa'
Com o regresso de Kylian Mbappé e Ángel Di María, que cumpriu suspensão contra a Atalanta, nos quartos de final, Thomas Tuchel finalmente tem todo o seu arsenal ofensivo à sua disposição e poderá escolher a melhor fórmula para acompanhar Neymar.
Se Mbappé já demonstrou a sua extrema importância na equipa parisiense, Di María tem uma nova oportunidade de brilhar no Estádio da Luz, em Lisboa, local onde jogou o seu melhor futebol.
Pelo Benfica, o argentino de 32 anos surpreendeu os adeptos lisboetas durante três temporadas (2007-2010) no mesmo relvado onde irá jogar as meias-finais.
E foi neste estádio que conquistou, com o Real Madrid, a sua única Liga dos Campeões em 2014, a famosa 'Decima' dos merengues, após vitória sobre o Atlético Madrid, sendo eleito o Homem do Jogo nessa final.
O talento de Di María será necessário para aliviar as perda de Keylor Navas e a provável ausência de Idrissa Gueye.
O PSG vai ficar sem a experiência do guarda-redes costa-riquenho, tricampeão da Liga dos Campeões (2016, 2017, 2018), substituído por Sergio Rico, campeão da Liga Europa pelo Sevilha. Caberá a Rico fechar o caminho para a sua baliza e ajudar o PSG a alcançar finalmente a tão desejada final de Champions.
Na fase a eliminar, o PSG afastou o Borussia Dortmund nos oitavos de final (ainda a duas mãos) e a Atalanta nos quartos de final. Já o Leipzig eliminou o Totteham de José Mourinho nos 'oitavos' e o Atlético Madrid nos 'quartos'.
PSG e Leipzig medem forças esta terça-feira, às 20h00, no Estádio da Luz, em Lisboa, em jogo único da meia-final da Liga dos Campeões, com o vencedor a garantir um lugar na final, na qual irá defrontar Bayern Munique ou Lyon.
Comentários