Não podia ter corrido pior o primeiro jogo do Sporting na Liga dos Campeões desde finais de 2017. Entre baixas importantes no 'onze', a natural ansiedade da estreia nestes palcos e um adversário que mostrou um andamento muitos patamares acima em termos de velocidade e acutilância ofensiva, o Sporting viveu um autêntico pesadelo no arranque do Grupo C, em Avalade.
Mas vamos por partes, e comecemos pelas tais baixas no 'onze'. A primeira deriva, curiosamente, da última derrota que o Sporting tinha sofrido a jogar em casa, há quase um ano, também numa noite europeia para esquecer. Efetivamente, o Sporting não perdia em Alvalade desde o desaire por 4-1 ante o LASK Linz. Um jogo no qual Sebástian Coates foi expulso, tendo de cumprir frente ao Ajax o consequente castigo.
E que falta fez o uruguaio, habitual patrão da defesa, capitão de equipa e um dos poucos do plantel que sabia o que era jogar na Liga dos Campeões (a maior parte dos colegas teve agora a primeira - dura - lição do que é a 'Champions'). Sem Coates a comandá-lo, o setor mais recuado dos 'verdes e brancos' acumulou erros posicionais e outras falhas que 'El Patrón' costuma compensar.
Também faltou Pedro Gonçalves, claro, e a classe que este oferece no ataque. Faltou ainda um Gonçalo Inácio a 100% (viria a ser substituído aos 22 minutos). E faltou (porque já foi embora) Nuno Mendes. Uma ausência de que, se calhar, ninguém se lembraria se não tivesse sido pelo flanco esquerdo da defesa leonina que o Ajax construiu praticamente todos os seus golos. Rúben Vinagre teve um jogo (ou os 45 minutos que esteve em campo) para esquecer...
Depois, a inexperiência da maior parte dos jogadores a nível de Liga dos Campeões. Dos onze que entraram em campo, apenas três - António Adán (4 jogos), Luís Neto (12 jogos) e João Palhinha (2 jogos) - já sabiam o que era disputar um encontro da mais importante prova europeia de clubes. A ansiedade causada pelo peso da estreia, aliada à parca experiência a este nível também, custaram caro ao Sporting. E o golo madrugador, logo primeiro minuto, não ajudou nada.
Por fim, a qualidade do adversário, que imprimiu um ritmo alucinante desde o apito inicial, soube explorar na perfeição todas as lacunas do Sporting e contou com uma dupla especialmente endiabrada: o brasileiro Antony esteve verdadeiramente imparável, com duas assistências e meia, e Sébastian Hollier foi mortífero no capítulo da finalização, assinando um 'poker'.
Estas justificações, contudo, não tornam aceitável que o Sporting, campeão português em título, acabe derrotado de forma tão clara pelo atual campeão dos Países Baixos. Mesmo que a sorte também não tenha estado do lado dos 'leões' - seja pelo golo sofrido logo a abrir, num lance infeliz, ou pelo golo invalidado (por um fora de jogo 'à pele') a Paulinho que colocaria o 2-3 a abrir a segunda parte - a verdade é que a turma de Rúben Amorim somou o seu terceiro jogo seguido sem ganhar. Algo que não sucedia desde o final da época 2019/20...
O jogo: Entrar a perder e não mais conseguir reagir
O encontro começou, praticamente, com o primeiro golo do Ajax. Pelo lado direito (esquerdo da defesa do Sporting), Antony desmarcou-se, fletiu para dentro, atirou em arco, a bola desviou em Luís Neto, embateu no poste e, na recarga, Haller dava início à sua noite memorável em Alvalade.
Sem saber muito bem o que lhe tinha acontecido, o Sporting não conseguiu reagir. A vantagem no tempo de posse de bola era avassaladora para o Ajax nos minutos iniciais e o 2-0 surgiu aos oito minutos: outra vez pelo mesmo flanco, Vinagre deixou fugir Antony, que assistiu Haller para o segundo. Logo depois, novo contratempo para Rúben Amorim, com Gonçalo Inácio a sair lesionado.
O Sporting até cresceu um pouco a meio do primeiro tempo e marcou. Matheus Nunes desmarcou Paulinho, que rematou rasteiro, por entre o corpo do guarda-redes do Ajax, reduzindo para 2-1. Só que, logo a seguir, o Ajax voltou a marcar, mas uma vez num lance iniciado na direita, por Antony, e desta feita finalizado por Steven Berghuis.
A segunda parte abriu com Sarabia em campo nos 'leões' e com Paulinho a fazer os adeptos da casa voltarem a celebrar, com um bonito cabeceamento. Um golo que, se tivesse contado, poderia ter dado novo alento ao Sporting e, quem sabe, mudado o rumo dos acontecimentos. Só que o avançado estava fora de jogo e, logo depois, foi o Ajax que marcou de novo. Trivela de Antony (...na direita) e 'hat-trick' de Haller. Foi o ponto final parágrafo na ilusão que o Sporting ainda teria de conseguir algo do jogo. Porro ainda rematou ao poste, mas com o dernorte dos 'verdes e brancos' a ser cada vez maior, o Ajax (e Haller) voltariam a marcar, fixando o resultado em 5-1 (em mais um lance que começou na direita do ataque dos de Amesterdão).
O momento: Golo logo a abrir foi golpe demasiado profundo
Minuto 2: Estavam decorridos apenas 68 segundos do regresso do Sporting à Liga dos Campeões quando este se viu a perder. Jogada rápida da equipa neerlandesa, remate de Antony à baliza. A bola ressaltou em Luís Neto, bateu no poste e Haller mergulhou para cabecear para golo. para uma equipa tão inexperiente nestas andanças como a dos 'leões', foi um golpe muito duro...
Os melhores: Matheus Nunes e Paulinho até disfarçaram, mas as estrelas estiveram do outro lado
Num jogo completamente para esquecer, Matheus Nunes foi quem mais correu e tentou criar desequilíbrios do lado do Sporting. E foi dele a assistência para o golo de Paulinho, o outro 'leão' que, não só pelo golo (o que marcou, para além do que foi anulado), mas também pela forma como se deu ao jogo, merece nota positiva.
Longe, claro, de merecerem o mesmo destaque que praticamente toda a equipa do Ajax, em especial os dois homens do jogo. Antony foi uma dor de cabeça para Rúben Vinagre desde o primeiro lance da partida e fez uma exibição de luxo, estando em quatro dos cinco golos dos de Amesterdão e só não foi o melhor em campo porque não marcou nenhum e Sébastien Haller marcou...quatro.
Os piores: Noite para esquecer para todos, mas para Rúben Vinagre, Feddal e Neto em particular
Não há como fugir à evidência: o Sporting esteve paupérrimo a defender desde o primeiro minuto e Rúben Vinagre foi o expoente máximo do desacerto leonino, com Antony a fazer dele o que quis. Em defesa de Vinagre, ainda assim, diga-se que as coisas não melhoraram muito (ou nada) com a sua saída ao intervalo.
Também Feddal e Neto comprometeram em demasia. Na ausência de Coates, exigia-se mais aos dois, face à maior experiência que a idade lhes confere, mas ambos acumularam erros e más abordagem. É bom lembrar, porém, que não é só aos defesas que cabe defender...
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