De um lado, o bom ambiente trazido de Paris que dá o conforto às estrelas para aparecerem. Do outro, a voracidade alemã vinda da Baviera, que procura sufocar o adversário e agredi-lo rapidamente.
Chegamos ao final desta (insólita) Liga dos Campeões, ao derradeiro encontro, marcado para o Estádio da Luz, que opõe Paris Saint-Germain e Bayern de Munique. Olhemos para o que poderão apresentar ambas as equipas quando subirem ao palco na noite de domingo, os seus pontos fortes e as debilidades adversárias que poderão atacar.
Mbappé e Di Maria apontam às costas da defesa e esperam pela magia de Neymar
O PSG de Neymar, Mbappé e companhia alcançou finalmente a tão desejada final da maior competição de clubes. A equipa parece viver toda no mesmo espírito, que se traduz numa alegria coletiva fora de campo e é transportada para dentro dos relvados. Orientados pelo alemão Thomas Tuchel, é difícil discernir na equipa parisiense um claro padrão ofensivo que se tenha vindo a verificar ao longo de toda a época. Desde os diferentes esquemas táticos ao perfil dos jogadores utilizados, o ex-treinador do Borussia de Dortmund foi sempre provocando várias mudanças na equipa.
No entanto, afigura-se como provável a repetição do esquema tático das meias-finais frente ao Leipzig. Assim, os parisienses deverão apresentar-se novamente num 4x3x3 com Neymar na frente de ataque, ladeado por Mbappé e Di Maria. O meio-campo parece ser a zona do terreno onde poderá haver mais alterações.
Face a uma equipa que procura povoar fortemente a zona entrelinhas, é possível que Tuchel opte por alinhar com um meio-campo “reforçado” e faça entrar Gueye no lugar de Herrera. Já sobre a esquerda, a boa exibição protagonizada por Leandro Paredes frente ao Leipzig, deverá ter garantido o lugar do argentino no 11 inicial, com Marquinhos a completar o trio de meio-campo. O brasileiro, que também pode atuar como central, poderá eventualmente oferecer alguma versatilidade, caso Tuchel pretenda realizar alterações no decorrer do jogo. A linha defensiva deverá compor-se com 4 elementos, com Bernat na esquerda, a dupla de centrais Kimpembe-Thiago Silva e Kehrer deverá ser o lateral-direito escolhido.
O Bayern de Munique é uma equipa que pressiona agressivamente a primeira fase de construção do adversário, adiantando muito o seu bloco e expondo a sua linha defensiva (é comum os médios serem atraídos pelas referências individuais aos médios contrários, deixando a linha defensiva com espaço livre à sua frente e imenso espaço nas suas costas).
Assim, o objetivo do PSG deverá passar por atrair essa pressão durante a sua construção e potenciar a procura das costas da defesa alemã por Mbappé e Di Maria, principalmente na zona dos laterais alemães. Para isso, será vital para o PSG ter jogadores com uma elevada resistência à pressão e capazes de encontrar soluções em zonas mais adiantadas no terreno. Desta forma, Paredes deverá desempenhar um papel similar ao que realizou frente ao Leipzig, juntando-se aos centrais numa primeira linha de 3 elementos, com Marquinhos à sua frente. Atrás dessa primeira linha de pressão será o espaço mais importante deste encontro.
Neste espaço, sobretudo na mesma linha vertical de Paredes, será onde maioritariamente aparecerá Neymar. O astro brasileiro chega pela segunda vez na carreira a uma final da Champions e aparece com uma aura de vencedor à sua volta. As eliminatórias frente a Atalanta e Leipzig tiveram o seu nome em destaque e na final Tuchel procurará criar o mesmo: espaço para o brasileiro aparecer, com liberdade para explanar toda a sua criatividade.
Acredito que a chave de uma possível vitória do PSG se prenderá com a capacidade de Neymar para aparecer nestes espaços e lançar Mbappé e Di Maria em velocidade. Estes dois terão um papel importante a fixar a defesa alemã, permitindo aumentar o espaço para Neymar, ao mesmo tempo que se preparam realizar movimentos de ruptura.
A equipa do Bayern deverá tentar contrariar o jogo posicional do PSG com o seu 4x2x3x1. Muller é quem controla os momentos de pressão e deverá ser o responsável por pressionar o central do meio, enquanto Lewandowski procurará condicionar a ação de Marquinhos. Os extremos Gnabry e Perisic deverão dividir entre centrais e laterais, enquanto os médios tentarão condicionar a ação de Neymar e Gueye, que tentarão aparecer entrelinhas. Tendo em conta a dimensão física de Goretzka, deverá ser ele o escolhido para seguir de perto as ações do brasileiro, tentando impedir que receba confortavelmente.
Um Bayern a alta velocidade pelo meio de Paris
Olhando agora para as intenções do Bayern, a equipa orientada por Hansi-Flick deverá manter-se fiel a si mesma. O treinador alemão entrou a meio da época para substituir Niko Kovac e após alguns ajustes introduziu um 4x2x3x1 que podemos de imediato identificar com a história do Bayern: Uma pressão alta muito intensa e agressiva e velocidade nos seus ataques, seja em contragolpes ou em ataque organizado.
O agora treinador dos bávaros conseguiu recuperar a dianteira na Bundesliga, tendo mesmo conquistado o troféu e trouxe a equipa até à final da maior prova de clubes europeus, triturando pelo caminho adversários como o Chelsea de Frank Lampard e o Barcelona nuns históricos 8-2 que ditaram o início de uma (esperada) revolução na Catalunha. Assim, fruto também do sucesso, não serão esperadas grandes alterações e adaptações para o derradeiro encontro desta temporada.
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Neuer deverá alinhar na baliza, fazendo acompanhar-se por Davies como lateral esquerdo e a dupla de centrais Alaba (em grande forma) e Boateng. Na direita o escolhido nesta fase final da temporada tem sido Kimmich, mas houve durante a semana alguma conversa sobre a utilização de Kimmich no meio-campo no lugar habitualmente ocupado por Thiago. A alternativa ao alemão costuma ser Benjamin Pavard. No meio-campo, como já referi, existem algumas questões sobre se jogará Thiago ou Kimmich, mas deverão desempenhar papéis semelhantes, junto a Goretzka. O ex-Schalke foi opção como médio mais avançado no 4x2x3x1 de Flick mas recuou no terreno para a entrada de Muller. O nome já clássico e histórico do Bayern será acompanhado na frente de ataque por Lewandowski (baterá o recorde de golos marcados numa só edição da Champions?), Gnabry e Perisic.
Ofensivamente há padrões facilmente identificáveis na equipa de Munique. Thiago (ou Kimmich) recua para junto dos defesas centrais, formando uma primeira linha de três, com Goretzka à sua frente, durante um dos momentos mais fortes deste Bayern: a primeira fase de construção. Tanto os centrais como o médio apresentam muita qualidade técnica, permitindo resistir à pressão adversária e encontrar, com passes verticais, elementos entre a linha média e defensiva contrárias. Este espaço costuma ser povoado sempre por 3 dos 4 elementos da dianteira bávara, com o último jogador a ficar responsável por realizar movimentos de ataque à profundidade.
Ao colocar 3 elementos próximos neste espaço, permite que estes consigam combinar rapidamente e resolver, de forma coletiva, os problemas que possam aparecer, tendo sempre imediatamente alguém pronto a explorar o espaço atrás da linha defensiva. A velocidade a que executam quando a bola chega a estas zonas tem sido o segredo deste Bayern. O posicionamento de Kimmich, atuando como lateral, permite chegar a estas zonas circulando por fora, nomeadamente quando o adversário consegue evitar passes verticais desde os centrais. O lateral alemão mostra um enorme critério com bola e procura os melhores momentos para combinar com elementos dentro do bloco adversário.
Do lado oposto, o posicionamento de Perisic será importante para manipular o lateral parisiense e abrir espaço para as incursões de Davies. Apesar de ainda demonstrar muitas arestas por limar, a velocidade e qualidade no drible do canadiano poderão ser uma arma importante para o Bayern de Munique.
O PSG deverá defender no seu 4x3x3 com Neymar na posição de ponta de lança. É possível que entrem com um bloco menos pressionante, com Neymar a condicionar a ação de Thiago, enquanto Mbappé e Di Maria dividem entre centrais e laterais do Bayern, com os 3 médios a terem uma postura mais conservadora, tentando diminuir o espaço entrelinhas onde aparecem os avançados alemães.
Tuchel conseguiu convencer as estrelas de que só defendendo como um todo a equipa pode ser bem sucedida e, por isso, não será surpreendente se virmos Mbappé e Neymar realizar esforços defensivos, cobrindo espaços deixados em vago. Será também importante observar a forma como a defensiva irá controlar os movimentos de ruptura de Gnabry e de Lewandowski.
Espera-se assim um jogo interessante e aberto, com um Bayern pressionante e a definir os lances com grande velocidade, o que pode criar bastante perigo para a defesa parisiense. Do outro lado estará um PSG com a moral em alta que terá de saber resistir à primeira pressão alemã para conseguir explorar as debilidades demonstradas no controlo da profundidade.
E, claro está, Neymar será um ponto fulcral nas ações francesas, pois será o elemento a posicionar-se nas costas da pressão do Bayern e que procurará lanças Mabppé e Di Maria em profundidade. Um duelo que contará com várias estrelas em campo, desde Mbappé e Neymar a Lewandoski, Muller e Thiago (que fará a despedida do colosso alemão) e para o qual as equipas chegam na máxima força e com bastante tempo de repouso.
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