Pode ser apenas um dado estatístico, mas é um alerta: das três vezes que o Benfica perdeu na ronda inaugural da fase de grupos da Liga dos Campeões, acabou por não se apurar para os oitavos-de-final da prova. Se a estatística assusta, a produção da equipa de Rui Vitória assusta ainda mais os adeptos ´encarnados` que viram o Benfica entrar com o ´pé esquerdo` na fase de grupos da Liga Milionária. Depois do golo de Seferovic, esperava-se que o Benfica ´encarrilasse` para uma boa exibição e conseguisse os três pontos, mas da Rússia estava preparado um ´balde de água fria` que foi despejado em cima de uma exibição nada Champions da formação da Luz. É preciso ir buscar estes pontos a outras paragens.
O jogo: parecia o prolongamento do Portimonense
Os 38 323 espetadores que marcaram presença na Luz saíram com a sensação de que viram o prolongamento do jogo de sexta-feira passada com o Portimonense (vitória sofrida por 2-1). Um Benfica demasiado apático, os médios a não conseguirem ligar com os homens da frente, uma defesa a dar muito espaço aos avançados contrários quando estes saiam em velocidade. A opção por Felipe Augusto em detrimento de Samaris pode entender-se na perspetiva de o Benfica querer mais qualidade na circulação da bola.
Mas essa qualidade só apareceu a espaços e quase sempre por Pizzi, ora a tentar tabelinhas nas laterais com os extremos e os laterais, ora a tentar procurar os avançados na zona central. E foi nesse processo que o Benfica perdeu inúmeras bolas que deram vários contra-ataques dos russos.
A equipa de Viktor Goncharenko, organizado em 3-5-2, tinha o brasileiro Vitinho e o nigeriano Olanare prontos para explorar a lentidão da defesa ´encarnada`, apoiados pela criatividade de Golovin e Dzagoev, dois homens de cariz ofensiva que chegavam a área sempre que podiam. No primeiro tempo terá faltado mais atrevimento e melhor decisão no último passe aos russos já que o espaço aparecia e conseguiam chegar à área de Varela com facilidade. Sem bola, a equipa organizava atrás com oito homens, com linhas juntas e bloco muito baixo, deixando apenas Vitinho e Olanare perto da zona do meio-campo. E sem espaços, o Benfica não tinha ideias.
Em termos ofensivos, os primeiros 45 minutos resumiram-se a um remate de Grimaldo que tirou ´tinta` do poste de Akinfeev, um remate mal feito por Salvio após passe de Pizzi e duas boas oportunidades de Golovin.
O Benfica entrou no segundo tempo a marcar, tomou a dianteira do marcador num dos poucos lances bem delineados (Zivkovic a ganhar o flanco e a cruzar para Seferovic desviar para golo) mas isso acabou por despertar o CSKA Moscovo que teve de ir à procura de algo mais. E a forma fácil como criava perigo na área do Benfica deixava antever que era uma questão de tempo até marcar. E depois de Bruno Varela negar o golo duas vezes, apareceu o empate, numa grande penalidade convertida por Vitinho, depois de o árbitro espanhol Undiano Mallenco assinalar mão de André Almeida num remate de um contrário. O 2-1 surgiu cinco minutos depois: Zhamaletdinov, que entrara aos 68, aproveitou uma defesa incompleta de Varela a remate de Vasin para fazer o 2-1.
Faltavam 20 minutos e o que fez Rui Vitória? Já tinha tirado o apagado Jonas e colocado Jiménez, aproveitou e colocou a ´carne toda no assador`, com Rafa e Gabriel Barbosa (estreia) em campo, nos lugares de André Almeida e Lisandro. Era tudo lá para a frente, sem discernimento, sem cabeça, sem ideias. O CSKA Mosco, por sua vez recuou ainda mais, meteu mais gente na área e foi aguentando o resultado até ao apito final.
A derrota não surpreende, depois da exibição do Benfica ante o Portimonense, mas também no desempenho da equipa no empate com o Rio Ave e a vitória suada diante do Chaves. É a primeira derrota do Benfica esta época em jogos oficiais (a última foi em março com o Dortmund para a Champions).
O CSKA Moscovo, que já tinha ´gelado` Alvalade em 2005 quando ganhou a Taça UEFA ao Sporting, ganha em Portugal pela segunda vez. Esta foi também a quarta reviravolta que a equipa sofreu com Rui Vitória ao leme (2015 Sporting naTaça; 2016 FC Porto para a Liga e 2017 Moreirense para a Taça da Liga).
Momento-chave: André Almeida deu uma ´mão` para a reviravolta
A vantagem do Benfica durou apenas 12 minutos. Aos 62, André Almeida travou um remate na área com a mão, de forma involuntária, mas o árbitro assinalou penálti que Vitinho converteu. Começa aí a reviravolta.
Polémicas: Benfica pede duas grandes penalidades
A arbitragem de Undiano Mallenco foi muito contestada pelo Benfica. Na primeira parte, aos 38 minutos, Seferovic caiu na área, depois de agarrado por um defesa mas o árbitro mandou seguir. No entanto é o suíço quem primeiro agarra e puxa a camisola do seu adversário. No segundo tempo é Gabriel Barbosa a cair na área dos russos aos 82 minutos, num lance onde parece haver falta. O juiz espanhol nada assinalou.
Melhores: Golovin ´encheu` o campo
Grande exibição do médio ofensivo de 21 anos, a levar a equipa para a frente. Dos seus pés saíram os principais lances de perigo do CSKA. Vasin, que fez tridente de defesas com os irmãos Berezutski (Aleksei e Vasili) fez uma exibição monstruosa e foi considerado o melhor em campo.
Piores: ninguém viu Jonas. E defesa do Benfica não está bem
Tal como ficou evidente frente ao Portimonense, o processo ofensivo do Benfica tem deixado muito a desejar. Os adversários entram em zona de finalização com muita facilidade. Os homens do sector recuado não têm conseguido acertar com as marcações e isso tem sido visto nos já seis golos sofridos em sete jogos oficiais.
Jonas voltou a fazer uma exibição muito pobre, muito aquém do que já mostrou. Foi o primeiro a sair no segundo tempo. As mexidas de Rui Vitória não trouxeram nada ao jogo.
Reações:
Rui Vitória: "A UEFA não vai mandar uma carta a justificar o trabalho do árbitro"
Rui Vitória: "Fizemos o que tínhamos a fazer, mas o CSKA aproveitou as bolas que teve"
Mário Fernandes: "Esta vitória dá-nos bastante ânimo"
Gabriel Barbosa: "É uma pena a derrota"
Grimaldo: “Triste por não termos vencido, mas contente por voltar"
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