A contratação do ‘astro’ português Cristiano Ronaldo pelo Al Nassr “pode gerar um impacto positivo” na abordagem dos jogadores locais ao futebol, refere o treinador Mariano Barreto, que comandou o clube da Liga saudita em 2005.
“Apesar de gostarem de futebol, eles não se dedicam como os jovens europeus no treino nem o encaram como uma atividade profissional, mas como forma de entretenimento. A ida do Cristiano Ronaldo poderá ser uma maneira de conseguir provar que com trabalho, entrega, dedicação e talento, é possível atingir algum nível. É claro que ninguém está a pensar que irão nascer Ronaldos na Arábia Saudita”, analisou à agência Lusa o técnico.
O capitão da seleção nacional, de 37 anos, encarará um inédito périplo no Médio Oriente quase um mês e meio depois de se ter desvinculado dos ingleses do Manchester United, ao qual tinha regressado em agosto de 2021, volvida uma passagem inicial (2003-2009).
“Antes de ele ganhar a sua primeira Bola de Ouro e já depois de ter a quinta, houve uma coisa que é unânime: é o primeiro e o último a sair do balneário, com um comportamento profissional impecável e sem mácula, que deixava marca nos seus colegas. Obviamente, isto irá ter um grandíssimo impacto no Al Nassr e reflexos nos outros jogadores, que vão ter a imagem na primeira pessoa do jogador que todos idolatravam e aplaudiam”, notou.
De acordo com a imprensa, Cristiano Ronaldo prepara-se para ascender ao topo da lista dos atletas mais bem pagos em todo o mundo, ao auferir sensivelmente 200 milhões de euros (ME) anuais até junho de 2025, para além de um prémio de assinatura de 100 ME.
“Claro que a ida dele para a Arábia Saudita não será indiferente a todos os cidadãos do reino. Falei com um alto dirigente do clube, que esteve na minha ida para lá e me disse que estão com uma grande expectativa pelo impacto, pois nem eles próprios têm noção da dimensão que esta vinda do Cristiano Ronaldo irá ter”, testemunhou Mariano Barreto.
O segundo de cinco técnicos portugueses da história do Al Nassr refere que a ligação da família real de Salman bin Abdulaziz ao clube “terá sido determinante ou utilizada como bandeira para o desenvolvimento do futebol no país” durante as negociações com ‘CR7’.
“Julgo que o impacto foi uma das razões consideradas pelas autoridades para que uma figura como ele pudesse vir para a Arábia Saudita envolvendo os números que envolve. Há tempos ouvi técnicos lusos que por lá passaram a dizer que o grande problema era conseguir que os jogadores viessem treinar sempre ou cumprissem horários”, apontou.
Apreciado como “melhor jogador do mundo” na segunda nação mais populosa do Golfo Pérsico, Cristiano Ronaldo deixou para trás duas décadas “na ribalta do futebol europeu”, quando “habituou todos a ser figura apenas comparável” com o argentino Lionel Messi.
“Nos últimos 20 anos, Ronaldo esteve sempre a discutir com ele o lugar de quem era o melhor do mundo. As opiniões dividiam-se, mas era algo normal para ele. O que também é normal para atletas deste nível é que mais ou menos acabam por perceber que o seu tempo chega ao fim. Julgo que Cristiano Ronaldo lutou muito para que esse tempo ainda não tivesse chegado. Infelizmente, estes últimos seis ou sete meses foram muito difíceis para ele e houve decisões que não correram no sentido daquilo que esperava”, avaliou.
Mariano Barreto diz que o vencedor de cinco Bolas de Ouro “sentiu que seria bem aceite” na Arábia Saudita, sem olhar “só aos milhões que causam espanto”, numa altura em que “não se proporcionou o clube que ele achava fundamental para se manter pela Europa”.
“Espero que consiga deslumbrar naquelas paragens como fazia nesses palcos europeus. Ele tem uma fundamental necessidade de ser feliz no que faz, mas, se não estiver assim, dificilmente vai continuar até ao fim do contrato. Julgo que vai encontrar essa felicidade, pois à primeira vista parece que é isso que os sauditas lhe estão dispostos a dar”, frisou.
O madeirense chegou na segunda-feira a Riade e é apresentado às 19:00 de hoje (16:00 em Lisboa), no Mrsool Park, com 25.000 lugares sentados, sob o tema ‘Hala Ronaldo’, com a receita somada na venda de bilhetes a reverter para uma instituição de caridade.
“Naqueles estádios fantásticos e do melhor que há costumam estar 100 ou 200 pessoas. As bancadas acabavam por ser compor ligeiramente nos jogos grandes. Com esta vinda de Cristiano Ronaldo, não tenho dúvidas de que em qualquer ponto da Arábia Saudita os recintos vão estar completamente cheios enquanto ele for novidade e capaz de mostrar que ainda consegue entusiasmar e maravilhar os fãs que o forem ver jogar”, assegurou.
Treinado pelo francês Rudi Garcia, o Al Nassr, de Majed Alammari (ex-Anadia), do costa-marfinense Ghislain Konan (ex-Vitória de Guimarães), do brasileiro Anderson Talisca (ex-Benfica) e do camaronês Vincent Aboubakar (ex-FC Porto) está na frente da Liga saudita ao fim de 11 jornadas, com 26 pontos, um acima do Al Shabab, que tem menos um jogo.
“O campeonato tem sido testemunha da passagem de jogadores sonantes, que estão já numa fase descendente da carreira, fundamentalmente pela idade. É difícil ver jovens a serem contratados em início de carreira e com potencial elevado, independentemente do seu valor”, ilustrou Mariano Barreto, que orientou ainda o Al-Qadisiyah, de 2011 a 2013.
O limite de estrangeiros por clube cresceu para oito numa temporada em que o Al Nassr procura o 10.º cetro para quebrar a hegemonia do outro rival “de dimensão nacional”, o atual tricampeão saudita e campeão continental em título Al-Hilal, que detém mesmos os recordes de êxitos no campeonato local (18) e na Liga dos Campeões asiática (quatro).
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