O debate controverso sobre a chave de repartição entre clubes dificultou a venda centralizada dos direitos de transmissão audiovisual dos jogos da Liga espanhola, admitiu hoje Javier Tebas, presidente do organismo regulador do futebol profissional local.
“Estive quase um ano e meio a negociar com o governo e os clubes estavam sempre a perguntar-me como é que íamos dividir. Disse-lhes sempre para não se preocuparem, porque iam ficar incomodamente satisfeitos. Não confortáveis, mas satisfeitos. Talvez quisessem mais, mas a divisão nunca seria má e era necessária. É muito difícil convencer todos os clubes sobre a forma como tem de ser feita a distribuição. É normal que uns achem que merecem mais do que outros”, partilhou, sobre um processo efetivado em 2015.
Javier Tebas falava na abertura do segundo dia da terceira edição da cimeira Thinking Football, que promove debates sobre a modalidade com oradores nacionais e internacionais entre quinta-feira e sábado, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, sob organização da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).
“O futebol e quase todos os grandes desportos têm os direitos audiovisuais centralizados na organização que gere a competição. Isso terá uma razão de ser. Os portugueses não serão melhores por terem a venda individualizada, quando o resto do mundo não o tem. Acima de tudo, gera-se eficiência e temos um produto melhor, com qualidade superior e maiores proveitos para os clubes. Procuramos um negócio em que todos ganhem”, frisou.
De acordo com o decreto-lei validado em Conselho de Ministros, em fevereiro de 2021, a centralização audiovisual vai ficar concluída nos dois escalões profissionais do futebol português até 2028/29 e inviabilizará os clubes de comercializarem individualmente os direitos de transmissão dos seus jogos.
“Isto faz com que haja um espaço, que é muito importante e que não aconteceu em Espanha ou em Itália, para estabelecer como é que serão divididos os direitos audiovisuais pelos clubes. Esse é o grande problema. Em Espanha, precisámos de 13 anos para que o governo entendesse que os clubes queriam uma venda centralizada, mas, quando se falava da distribuição, já não a queriam”, recordou Javier Tebas.
O debate da centralização tem sido redimensionado em Portugal desde a chegada à presidência da LPFP de Pedro Proença, igualmente líder das Ligas europeias, numa altura em que o acesso ilegal aos conteúdos futebolísticos floresce em plataformas digitais.
“Se não soubermos lutar corretamente contra a pirataria, não vamos crescer. Quem pagou pelos nossos direitos tem menos subscritores, porque estes veem por outros meios. A curto prazo, é um problema dos operadores. Quando os contratos acabarem, o problema passa a ser dos titulares de direitos. Se a pirataria levou a uma redução de 10%, os operadores vão querer pagar menos 10%.”, sinalizou.
Na liderança da Liga espanhola desde 2013, Javier Tebas admite que o futebol “estará a fazer alguma coisa mal” perante o crescimento da pirataria na última década, mas revelou ter mantido “contactos bastante duros” com grandes multinacionais tecnológicas para mitigar consequências.
“Se a Google quisesse, eliminaria 90% da pirataria. As grandes companhias podem solucionar isto, mas não querem. Enquanto não estivermos conscientes destes atores que nos estão a roubar, não haverá solução. Só no início desta época, a pirataria aumentou 20%. Uma em cada três pessoas vê futebol de forma gratuita em Espanha. Em Portugal, é uma em cada duas”, ilustrou.
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