O antigo futebolista internacional português Rui Jorge reconhece, 12 anos depois da eliminação na meia-final do Euro2000, frente à França, que o penalti assinalado a Abel Xavier não parece «uma injustiça tão grande».
Suplente utilizado no polémico jogo de Bruxelas, onde Portugal foi afastado com um golo de ouro, no prolongamento, o atual selecionador luso de sub-21 recorda em entrevista à Agência Lusa que o fiscal de linha, na altura, «assinalou algo que o árbitro não tinha assinalado».
«Eu, inclusive, pensei que era um pontapé de baliza em vez do canto o que o árbitro estava a assinalar, mas, para minha surpresa, tinha sido assinalada uma grande penalidade. Obviamente, na altura, pareceu-nos uma tremenda injustiça, com o passar dos anos e com as milhentas repetições que vimos, eventualmente não nos parece uma injustiça tao grande quanto pareceu na altura», assumiu, alegando que, 12 anos depois, pode ser dado o «benefício da dúvida à equipa de arbitragem».
Na cabeça de Rui Jorge está claro que «as boas memórias superam as más», embora uma derrota com um “golo de ouro”, que deixou os jogadores lusos revoltados por nada poderem fazer a partir do momento em que o francês Zinedine Zidane converteu a grande penalidade, não se ultrapasse facilmente.
«Não se supera, vive-se. Depois, acabamos por ultrapassar, mas os momentos que se seguem, os dias que se seguem, são momentos de muita tristeza, porque é o estar muito próximo de conseguir algo que todos ambicionamos, para o qual todos trabalhámos, muitas vezes durante uma vida, uma carreira, e que, por pormenores, se esvaiu das nossas mãos», lamentou.
Agora, o antigo internacional português admite que, apesar da derrota, Portugal teve uma boa prestação.
«Como fazia parte desse grupo - nesse jogo até cheguei a entrar –, fiquei, obviamente, triste pela derrota, mas orgulhoso pelo trajeto», acrescentou.
Quatro anos depois, com o país mobilizado pelo Euro2004, a história repetiu-se. «Depois de conseguir o que conseguimos – chegar a uma final, disputada no nosso país, com a mobilização que existiu, sem precedentes – é evidente que fica um sabor amargo por aquele momento», reconheceu.
Nesse campeonato da Europa, para Rui Jorge, falhou apenas «um pormenor», porque Portugal sofreu um golo de bola parada, num canto, numa situação em que sabia que a Grécia era «especialmente forte».
Para o selecionador dos sub-21, foi um pormenor que ditou o resultado final, um desfecho que, no entanto, não invalida que a seleção tenha feito um percurso «muito interessante, que encheu de orgulho o público português».
Em 2004, Rui Jorge e os companheiros viveram momentos inesquecíveis, mesmo que nem sempre tivessem noção da onda de apoio que percorria o país.
«Quando os Europeus, os Mundiais são fora, estamos fora da realidade do que se está a passar aqui. Mesmo quando foi cá, nós estávamos em Alcochete e nos trajetos para os jogos sentíamos uma mobilização anormal, mas quando lá estávamos dentro não pensávamos que estivesse a ter a repercussão que estava a ter no resto do país», contou.
Titular no jogo inaugural, frente à Grécia, acabou por perder o lugar – para Nuno Valente -, depois de um jogo em que a seleção nacional foi alvo de todas as críticas.
«A realidade é que a Grécia, não sendo uma equipa espetacular, era uma equipa forte, que coletivamente funcionava muito bem e depois veio a demonstrá-lo ao longo do campeonato. Perdemos contra uma equipa bastante forte e organizada. Poderíamos ter ganho, acho que tínhamos equipa para o fazer. A realidade é que, das três vezes em que jogámos contra a Grécia, em nenhuma vencemos», lembrou.
Sem “receitas” para o sucesso e sem querer comparar esta seleção com as suas antecessoras – «não gosto de o fazer. Estamos a falar de 12 anos de diferença» -, Rui Jorge espera apenas que Portugal seja forte no Euro2012, tenha sorte e se una em torno do mesmo objetivo.
«Em 2000, tínhamos uma primeira fase bastante complicada e depois acabou por ser um Euro em que conseguimos um bom resultado. E, depois, no Mundial, tínhamos um grupo mais fácil e não conseguimos passar a primeira fase. Não posso dizer até onde podemos ir. Posso dizer até onde gostava que fossemos, acho que isso é geral», rematou o antigo internacional que ainda não quer pensar na possibilidade de chegar a selecionador “AA".
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