O Championship, a segunda divisão inglesa, por muitos considerada uma das ligas mais interessantes do mundo, jogou ontem a sua última jornada, decisiva para muitos clubes que olham para a subida ao lugar mais alto do futebol inglês, a Premier League.
O Leeds, de Bielsa, já tinha arrecadado a promoção direta e o troféu de campeão, enquanto que o West Brom, de Matheus Pereira, carimbou o segundo lugar, o último com acesso direto à 'Premier'.
Brentford, Fulham, Cardiff e Swansea ocupam os lugares de playoff e vão jogar entre si pela última vaga no 'elevador' para o principal escalão inglês.
Mas não foi só no topo que houve suspense até ao último minuto. Na fuga à despromoção sete clubes entravam em risco de caírem para a League One (terceiro escalão), uns de forma mais improvável - como o Middlesbrough e o Birmingham ambos com 50 pontos, mais dois que os antepenúltimo classificado, o primeiro a descer - outros a precisarem de autênticos milagres - como o Hull City, que ocupava o último lugar com 45 pontos e precisava de vencer e reverter uma diferença de golos de -16 para se manter na segunda divisão.
Contudo, os clubes em risco olhavam também mais acima na tabela, mais precisamente para o 13.º classificado à entrada da última jornada, o Wigan Athletic, que estava a uns confortáveis 10 pontos da linha de água. Tudo por causa de uma penalização de 12 pontos que só entrou em ação no apito final do Championship.
Do céu ao inferno graças à pandemia
Deverá recordar-se do Wigan Athletic como a equipa que bateu o poderoso Manchester City na final da Taça de Inglaterra de 2013, por 1-0 em Wembley graças ao golo de Ben Watson aos 88 minutos, o momento mais alto da história do Wigan.
Apesar da conquista, que lhes valeu um lugar na fase de grupos da Liga Europa, a equipa acabou por regressar ao Championship na última jornada da Premier League.
Depois da queda, a equipa da região de Manchester andou num sobe e desce entre o Championship e a League One, sendo a época de 2019/2020 a segunda consecutiva no segundo escalão, depois de uma época no terceiro.
A época do clube não foi fácil, começando 2020 no último lugar da tabela da competição. Contudo, com o ano novo chegou uma equipa que em 21 jogos, venceu 11, perdeu quatro e empatou seis, o suficiente para os colocar bem longe do último posto à entrada da última jornada, com mais 13 pontos que o Hull City - ao qual impôs uma goleada por 8-0 na antepenúltima jornada - e dez acima da linha de água.
Contudo, isto não era suficiente para a manutenção, no caso do Wigan. A 1 de julho, e já com o Championship retomado pós-pandemia - o clube declarou falência, algo que surpreendeu os adeptos do emblema, uma vez que a administração do clube tinha sido assumida com um novo consórcio de Hong Kong apenas um mês antes.
O clube foi detido por Dave Whelan, antigo jogador e empresário, durante mais de 20 anos. O antigo defesa construiu um novo estádio à equipa, levou o emblema à Premier League pela primeira vez na sua história em 2005 e foi ainda sobre a sua liderança que o Wigan conquistou a Taça de Inglaterra, uma conquista que lhe mereceu uma estátua à entrada do estádio.
A conquista foi especial para Whelan por outro motivo. Na única final da Taça de Inglaterra que disputou enquanto jogador, com a camisola do Blackburn Rovers, frente ao Wolverhampton em 1960, saiu lesionado ainda antes do final da primeira parte. O Rovers perdeu essa final por 3-0 e a carreira de Whelen nunca recuperou totalmente dessa lesão. O ciclo ficou completo: 53 anos depois, o 'David' batia o 'Golias' Manchester City, a vitória de um 'underdog', algo sempre apreciado no mundo do futebol.
Em 2015 e com o clube no Championship, Whelan deixava a liderança do clube, passando-a para o neto David Sharpe. Três anos depois, o clube foi vendido à International Entertainement Corporation, de Hong Kong, que em junho deste ano, vendeu a maioria do Wigan a outro consorcio de Hong Kong, desta vez o Next Leader Fund.
A venda aconteceu já depois da pandemia ter parado o Championship e o Wigan olhava para a retoma com otimismo face à vantagem que tinha face aos lugares de despromoção. A verdade é que julho trouxe o inesperado, com a administração do clube a declarar insolvência, o primeiro em Inglaterra a fazê-lo devido à pandemia.
A suspensão da competição teve um impacto significativo nas receitas do clube, como explicaram os donos do clube em comunicado citado pela BBC.
"Comprámos o Wigan Athletic com as melhores intenções: criar uma equipa que levasse o clube de volta à Premier League. Infelizmente, a crise da COVID-19 teve um grande impacto nas pessoas e nas empresas à volta do mundo - e os clubes do Championship, que dependem dos adeptos nas bancadas não são excepção. Isto afetou bastante as nossas possibilidades de financiar o clube e, depois de lutarmos para encontrar uma solução, no final tomámos a difícil decisão de declarar a falência do clube para assegurar a sua sobrevivência", disseram.
Desta forma, e de acordo com os regulamentos da Liga Inglesa, o clube acabou por ser penalizado com uma dedução de 12 pontos, que se o clube terminasse nos três últimos lugares seria posta em ação apenas no início da próxima época, na League One, caso contrário seria aplicada depois do final da última jornada, que se realizou ontem.
O que verificou foi um Wigan Athletic a lutar por se manter no Championship - uma vitória deixava o clube acima da linha de água, mesmo com a penalização - mas não foi além de um empate frente ao Fulham. Antes do apito final, e com o empate a equipa somava 59 pontos, suficientes para a permanência.
Contudo, a penalização foi tida em conta, e o Wigan desceu do 14.º lugar, para o 23.º, o penúltimo lugar e que vale a despromoção do clube, de novo, à League One.
As últimas esperanças de adeptos, jogadores e clube é que o recurso que a administração do clube lançou contra o castigo dos 12 pontos seja aceite, argumentando com 'motivos de força maior' devido à pandemia.
Caso o recurso não seja tido em conta, o destino do Wigan, vencedor da Taça de Inglaterra de 2013, é a terceira divisão, tudo por causa da pandemia.
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