Uma vitória da Nigéria sobre a anfitriã Costa do Marfim no domingo elevará José Peseiro como primeiro treinador português a arrebatar a Taça das Nações Africanas (CAN2023) de futebol, na final da edição com mais lusos nos bancos.

“Evidentemente, será bom para todos vencer esta competição. Em primeiro lugar, para a Nigéria, que conseguirá o seu objetivo. Depois, para mim e para a minha equipa técnica. Já tive coisas muito boas na carreira, estive à porta de vencer uma Taça UEFA e ganhei outras coisas, mas este troféu é muito importante e espero que se concretize. Temos de ser muito fortes para defrontar uma equipa muito boa”, admitiu à agência Lusa o técnico.

Em busca de repetir os triunfos logrados em 1980, 1994 e 2013, a Nigéria vai defrontar a Costa do Marfim, vencedora em 1992 e 2015, na final da 34.ª edição da principal prova africana de seleções, no domingo, às 20:00, no Estádio Alassane Ouattara, em Abidjan.

“Desde que chegámos ao país, fixámos um objetivo mais desportivo do que financeiro e achámos que seria bom enfrentar este projeto, pois íamos ter condições e jogadores. As condições não são as que gostaríamos, mas não é só a seleção da Nigéria a passar por grandes dificuldades. Pelo menos, tinha um grupo de atletas e acreditei que poderíamos fazer uma grande equipa e ganhar a CAN. Desde o início, foi o grande objetivo”, vincou.

‘Super águias’ ou ‘elefantes’ vão suceder ao Senegal, cuja única conquista foi obtida em 2022, ao bater o Egito, então guiado pelo ex-selecionador português Carlos Queiroz, no desempate por grandes penalidades (4-2), após empate 0-0 no final do prolongamento.

“Esta competição é bastante dura e tem especificidades que outras não têm. Há alarido, carga política, social e económica e um peso grande sobre todos os intervenientes pelo que cada seleção representa. Existe muito stress e uma grande necessidade de ganhar, até pelas dificuldades que muitas pessoas passam nestes países”, reiterou José Peseiro, um dos três lusos nesta CAN2023, a par de Pedro Gonçalves (Angola), que ‘caiu’ com a Nigéria nos quartos de final, e Rui Vitória (Egito), afastado pela RD Congo nos ‘oitavos’.

Vencedor de cinco troféus por clubes, o técnico, de 63 anos, pode agora acompanhar os antigos selecionadores nacionais Nelo Vingada e Fernando Santos num restrito lote de treinadores portugueses que já arrebataram torneios continentais seniores de seleções.

“São contornos muito específicos, que nós sentimos e que fazem com que a expectativa criada em torno de uma seleção acabe por nos dar mais pressão e stress. Houve quem não conseguisse gerir esses momentos e certas seleções com menor responsabilidade acabaram por colocar várias das melhores equipas de fora da competição”, enquadrou.

A ascensão de sete campeões diferentes desde o inédito ‘tri’ do Egito, em 2010, ilustra a imprevisibilidade da CAN, cuja edição vigente não repetiu nenhum dos oito finalistas da anterior, entre os quais surgia Marrocos, a mais cotada no ranking da FIFA (13.º lugar) e autora da melhor prestação africana em Mundiais (quarta posição), em 2022, no Qatar.

“Neste momento, todas as seleções têm grandes jogadores e vários deles alinham nos melhores campeonatos da Europa. Isso faz com que tenham outro nível de capacidade, mais organização, melhores técnicos e atletas com maior qualidade. Estes, por sua vez, estão em ambientes e contextos muito favoráveis para evoluírem e terem um nível que, depois, colocam nas seleções, tornando estas provas muito mais igualadas”, justificou.

Apesar de ter estabilizado um sistema tático de ‘4-4-2’ desde que sucedeu a Augustine Eguavoen na Nigéria, em maio de 2022, José Peseiro encarou a fase final da CAN com uma “forma de jogar mais compacta e consistente”, visível na mudança para um ‘3-4-3’.

“Temos de jogar com todos [juntos] no ataque e à defesa e não queremos só ser muito ofensivos, tal como temos sido em praticamente em todos os encontros da qualificação para a CAN2023 e o Mundial2026. Num torneio curto, com esta especificidade, stress e responsabilidade, procuramos proporcionar pouco espaço e oportunidades aos nossos adversários, mas criando ocasiões em quantidade suficiente para fazer golos e vencer”, concluiu o ex-treinador de Nacional, Sporting, Sporting de Braga, FC Porto e Vitória de Guimarães na I Liga portuguesa e antigo selecionador de Arábia Saudita e Venezuela.