As mudanças constantes no futebol obrigam os treinadores, mas também jogadores, a criarem mecanismos de adaptação às novas realidades. Numa era de muita informação, são poucos os treinadores que vão marcando a diferença com uma identidade própria. Pep Guardiola ou Jurgen Klopp serão os casos mais mediáticos, de treinadores que constroem as suas equipas à sua imagem.
Nesta era de padronização do futebol, onde quase já não há segredos e onde os conceitos táticos são muito idênticos, é no planeamento e na estratégia que os treinadores podem fazer a diferença. Essa padronização também existe no lado individual, se excluirmos Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, os dois 'monstros' que têm liderado nos prémios individuais nos últimos 11 anos. Há talento individual em todo o lado, mas nem sempre é possível fazê-lo coexistir no mesmo onze.
É aí que entra o lado individual do atleta, a mentalidade, a inteligência e a procura de inputs que lhe permitam estar à frente da concorrência. Se é notório o talento em todas as equipas, quem tiver mais disciplina, aplicar-se mais nos treinos e apresentar conteúdo diferente, está na linha da frente para a titularidade. Por isso, muitos jogadores procuram fora dos clubes as mais valias que lhes permitem dar máximo rendimento, como por exemplo, um 'personal trainer'.
Uma área onde Francisco Martins dá cartas. Aos 29 anos, este antigo jogador do Belenenses trabalha com muitos dos internacionais portugueses de futebol. Com uma carteira de clientes de mais de 50 atletas, na sua maioria futebolistas internacionais, este Treinador de Performance, juntamente com a sua equipa, cria treinos de força e potência personalizados para os jogadores, de forma a permitir-lhes ter o máximo rendimento nos clubes. Manuel Fernandes, Ricardo Pereira, Renato Sanches, Thierry Correia, Rúben Dias, Gonçalo Paciência, Eder, Renato Sanches, João Mário, André Silva, William Carvalho, André Gomes, Slimani, André Silva, Luís Neto, André Almeida, Svilar e Jovane Cabral são alguns dos futebolistas que trabalham ou já trabalharam com Francisco Martins. É no Ginásio Mr. Big Evolution, um dos maiores espaços de treino físico do país, situado em Carcavelos, que a maior parte do trabalho é feito.
Os craques do futebol que trabalham com Francisco Martins
As redes sociais e uma chamada que parecia ser uma brincadeira: foi assim que tudo começou
Desde cedo Francisco Martins percebeu que não ia conseguir singrar como futebolista profissional. Após ter jogado, nas camadas jovens, no Oeiras, foi treinado por Rui Jorge nos juniores do Belenenses. Ainda jogou futebol sénior no Carregado, mas o futuro estava noutro lado: "Desde jovem conseguia ver que o meu futuro iria estar ligado à parte do treino, seja no técnico-tático, seja neste, no desenvolvimento das capacidades físicas dos atletas”, recorda ao SAPO Desporto.
Depois de se formar em Treino Desportivo, na Universidade Lusófona e de ter feito algumas formações técnicas no âmbito do Treino Físico desportivo, fez estágios na Escola de Formação de Carlos Queiroz, com ligação ao Manchester United. Mais tarde criou uma página na rede social Facebook onde partilhava alguns exercícios de treino físico. Foi aí que tudo começou, em 2014, com uma chamada do jogador Jorge Teixeira, que estava prestes a transferir-se para o Standard Liège da Bélgica e precisava de se apresentar em forma.
"Até pensei que fosse algum tipo de brincadeira. Fui pesquisar sobre ele e vi que era um atleta profissional que ia estar envolvido num contexto competitivo. Comecei a trabalhar com ele na Expo, a fazer um trabalho mais específico, a partir daí, comecei a perceber que as redes sociais podiam ser um potencial meio de angariação de clientes, de atletas", explica. Se tudo começou no Facebook, o Instagram seria a ferramenta certa para este 'personal trainer' chegar a mais jogadores.
"Quem investir mais na formação, na aquisição de conhecimento, tem mais hipóteses de chegar a níveis superiores, de dar resposta no meio onde está inserido"
"Utilizando a ciência aplicada ao treino, sabendo comunicar de maneira eficaz, vi que o Instagram podia ser uma ferramenta essencial para poder criar um círculo e poder comunicar com todos os jogadores, sem estar diretamente com eles", sublinha.
Como se processa? O contacto, o trabalho e os resultados
"Quando fazemos uma análise e verificamos as quatro variantes presentes num atleta (inteligência, controle emocional, desenvolvimento das qualidades físicas e desenvolvimento das qualidades técnico-táticas), percebemos que os atletas de topo são extremamente inteligentes porque sabem e precisam de ter esse conhecimento, de saber o que precisam para estar em níveis de topo, e isso faz a diferença", diz Francisco.
E é a partir da consciência dessa necessidade que se dá o primeiro contacto, sempre da iniciativa dos jogadores. A equipa liderada por Francisco Martins, que conta ainda com Tomas Mota e João Gavazzo, todos com a mesma formação - Treino Desportivo - fala com os atletas, tenta perceber as suas necessidades antes de se traçar o plano de trabalho a desenvolver.
"Isto é como tudo na vida: quem investir mais na formação, na aquisição de conhecimento, terá mais hipóteses de chegar a níveis superiores. Se acontece com os treinadores, com os gestores, também acontece com os jogadores. Os atletas comunicam connosco nas redes sociais, percebem que este é um trabalho que pode fazer a diferença na carreira deles. Tentamos perceber o que fazem nos clubes e a partir do que fazem ou não, tentamos dar-lhes os melhores recursos e as melhores ferramentas para que eles possam ter resultados no campo", explica.
Há dois momentos de contacto: antes do início de cada época e durante a temporada. O volume de trabalho aumenta na pré-época já que os atletas procuram a equipa de Francisco Martins para fazer uma espécie de preparação para a pré-época. Aqui "o grande objetivo é potenciar as capacidades, tornando-os mais fortes, mais resistentes, no fundo, fazer um trabalho para que eles cheguem aos clubes nas melhores condições".
Durante a época, entra a fase da manutenção ou 'taping', embora nas paragens para jogos internacionais, haja atletas que procuram Francisco para trabalhos específicos.
"Durante a época o objetivo é permitir que o atleta acabe de fazer o nosso trabalho e sinta que trabalhou, mas não em níveis elevados de intensidade porque temos de ter em conta que não temos acesso à GPS, não temos acesso a tudo o que eles fazem no clube. Acima de tudo, queremos dar qualidade ao longo da época", explica.
Depois é preciso diferenciar nos exercícios. Um jogador que seja titular no seu clube e esteja num pico de forma, precisa, por exemplo, de um trabalho mais ao nível da prevenção de lesões. E como é que se sabe o que o jogador precisa? Os próprios sabem das suas capacidades, mas a equipa de Francisco tem ferramentas que lhes permitem delinear um plano para o atleta.
"Se o atleta não tiver boa mobilidade ao nível da anca, vai ter muitas vezes dificuldades em conseguir fazer uma boa flexão ao nível do quadril na velocidade e na aceleração"
"Muitas vezes analisamos a força explosiva do atleta, tentar perceber o tipo de trabalho que eles precisam de fazer. Se um atleta tem uma boa capacidade de squat jump (agachamento com salto) ou um outro movimento de jump, vemos que são atletas que têm capacidades para serem mais rápidos, mais fortes dentro do jogo. Com isso percebemos que tipo de trabalho vamos ter de fazer. Se os atletas apresentam muitas lesões que os impedem de dar o seu contributo no jogo, percebemos que podemos trabalhar níveis de mobilidade, mobilidade a nível das articulações, força reativa", frisa. Depois, vem a conversa com o atleta, de forma a que ele perceba que trabalho terá de fazer, antes de se construir e periodizar um plano de treino.
"Se o atleta não tiver boa mobilidade ao nível da anca, vai ter muitas vezes dificuldades em conseguir fazer uma boa flexão ao nível do quadril na velocidade e na aceleração. Se não apresentar níveis de rotação ao nível da anca, num jogo onde esse atleta tem de aplicar muitas mudanças de direção vai ter poucas capacidades para utilizar níveis de potência na mudança de direção. Fazendo uma avaliação da fisiologia, da anatomia, conseguimos perceber quais são as suas necessidades. Se um atleta apresentar pouca mobilidade ao nível dos tornozelos, percebemos que vai ser alguém que vai ter pouca capacidade de salto vertical e percebemos que vamos de trabalhar com ele a flexão ao nível do tornozelo", conta-nos Francisco Martins.
Os jogadores modernos que desejam ter sucesso sabem que precisam deste tipo de inputs no seu jogo para serem melhores, apesar do bom trabalho que fazem nos clubes. Daí procurarem esse extra, no sentido de aumentar a performance e reduzir a probabilidade de contrair lesões. E, garante Francisco, quem faz esse tipo de trabalho de forma regular e esteja a jogar, sente que os níveis de intensidade são elevados em relação às épocas em que não fizeram horas extra.
As barreiras culturais na comunicação com os clubes: o caso Vitória de Setúbal
Cristiano Ronaldo é exemplo acabado de um jogador feito com a força do trabalho. O talento sempre existiu, mas o melhor jogador português de todos os tempos aplicou-se, trabalhou mais que os outros para atingir os seus objetivos. CR7 não tem problemas nenhuns em partilhar as imagens do trabalho extra que faz em casa, depois do treino nos clubes. Outros jogadores já começam a fazê-lo, aproveitando as redes sociais, mas há quem prefira que não se saiba o que faz fora do clube. Porque hoje em dia, o jogador de futebol sabe que é "uma mercadoria para os clubes: se não tem rendimento, vai embora e vem outro."
Mas essa relação de um personal trainer com os clubes nem sempre é a melhor. É tudo uma questão de cultura: há treinadores que não gostam que os seus atletas façam trabalho de ginásio, há outros que permitem que os seus jogadores trabalhem fora do clube, mas com pessoas da sua confiança. Lá fora, há uma maior abertura. Até porque os clubes têm de se mentalizar que o que os atletas querem é uma melhor preparação para darem o máximo rendimento em campo.
"Em Portugal, tem a ver com egos. Mas há espaço para todos. O que se quer é que os atletas tenham máximo rendimento, quer a trabalhar no clube ou fora dele. Mas penso que os clubes pretendem é que isso não seja divulgado nas redes sociais porque isto pode dar a imagem de incapacidade dos mesmos em retirar o melhor dos atletas", conta Francisco.
O Vitória de Setúbal foi uma boa exceção, mas porque também era comandado na altura por alguém que percebe muito de futebol em todas as suas vertentes: José Couceiro. Gonçalo Paciência estava emprestado pelo FC Porto aos sadinos, na época 2017/2018 e começou a trabalhar com a equipa de Francisco Martins. Um trabalho muito bem-recebido pela equipa técnica liderada por Couceiro.
"Foi interessante percebermos que o treinador José Couceiro [técnico na altura] e o José Herculano [Preparador Físico] tiveram acesso a todo o nosso trabalho e nós tínhamos acesso a tudo o que o Gonçalo [Paciência] fazia no clube. Trocámos informações, o José veio aqui ao ginásio conhecer o trabalho que era feito com o Gonçalo e ele dizia: 'se o atleta se sente confortável a trabalhar contigo e se nós percebermos que ele está a fazer contigo, nós achamos que o fundamental é o atleta sentir-se bem e ter rendimento em campo", recorda.
"Muitas vezes fazíamos essa análise de GPS sobre o que ele fez ao nível do treino, a intensidade com que fez, e podermos adaptar-nos a nossa construção e periodização com estas variáveis. Muitas vezes o José Herculano dizia: 'Olha o Gonçalo ia ao ginásio, mas falei com ele e em vez disso vai aí treinar contigo, onde ele se sente bem, superconfiante'".
O crescimento de Gonçalo Paciência (25 jogos, 11 golos em meia época no Vitória de Setúbal) levou-o à Seleção Nacional e a ser chamado de volta pelo FC Porto, a tempo de o agora internacional A por Portugal ser campeão no clube do seu coração, onde se formou e onde jogou o seu pai, Domingos Paciência.
Gonçalo Paciência: primeiro estranha-se, depois entranha-se
A passagem dos juniores para os seniores é a fase mais complicada dos futebolistas. Nem sempre os mais talentosos nas camadas jovens conseguem transpor essa qualidade quando chegam ao futebol profissional. Em Portugal, alguns clubes tentaram minimizar o impacto, criando equipas secundárias (equipas B na Segunda Liga e Campeonato de Portugal e equipas sub-23 na Liga Revelação). Outros clubes optam por emprestar os jovens jogadores, assim que deixam a formação, para emblemas de escalão inferior ou para clubes que lutam por outros objetivos, para dar continuidade ao desenvolvimento dos atletas. Mas esse é um trabalho que nem sempre dá frutos.
Gonçalo Paciência é um exemplo. Visto como uma das grandes promessas do futebol nacional nos escalões de formação do FC Porto, o filho mais velho de Domingos Paciência esteve três épocas na equipa B dos 'dragões', uma boa época na Académica (30 jogos, quatro golos), e mais meia-época no Rio Ave, Olympiacos da Grécia e Vitória de Setúbal. Mas apenas nos sadinos conseguiu finalmente mostrar todo o seu potencial, numa época em que conheceu Francisco Martins. Em apenas duas temporadas, passou de uma equipa que lutava pela manutenção em Portugal para jogar na Liga Europa pelo Eintracht Frankfurt e ser nomeado para Jogador do Mês na Bundesliga, até chegar à titularidade na Seleção A de Portugal onde se estreou a marcar frente à Lituânia no apuramento para o Euro2020.
"Eh pah, senti-me a voar, consegui acabar o jogo sem dores musculares, aos 90 minutos estava sempre a correr"
"Quando começámos a trabalhar, ele teve alguma dificuldade em perceber de que maneira a força podia ser importante para ele. Nos primeiros treinos apresentava sempre grandes reticências (fazer agachamentos, força, exercícios com alguma carga) mas foi interessante ele perceber que, ao longo das semanas, quanto mais vinha trabalhar… - ele costumava dizer-me, muitas vezes no final do jogo, 'eh pah, senti-me a voar, consegui acabar o jogo sem dores musculares, aos 90 minutos estava sempre a correr'. E ele dizia-me, 'essa era uma das dificuldades que eu tinha, aos 70 minutos já não conseguia aguentar mais'. E ele percebeu que a força é importante para desenvolver a carreira e que aquele trabalho iria permitir-lhe estar mais potente, muito mais forte ao nível do jogo porque é um jogador de contacto, que está sempre em duelos físicos com os defesas, se apresentasse níveis de força e resistência, iria estar mais perto das ações de sucesso. E ele notou a diferença do rendimento que tinha tido na Académica, no Olympiacos, e como o treino era extremamente importante para estar num nível altíssimo", recorda Francisco.
Nascia ali "uma amizade construída à base do trabalho", como recordou Gonçalo Paciência ao SAPO Desporto. O avançado de 25 anos explicou como o treino físico com Francisco Martins ajudou-o a dar um salto.
"Quando comecei a trabalhar com o Francisco, estava numa fase da minha carreira em que tinha tido alguns problemas, tinha estado em alguns clubes e era sempre preterido, ou não jogava com regularidade ou quando jogava nunca tinha grandes performances e sentia que poderia dar o salto se melhorasse as minhas capacidades físicas e alguns aspectos onde sentia claramente que não era bom: aceleração, intensidade, força. Sou alto, com 1,87 metros, mas não era muito bom no que a força e velocidade diz respeito. O trabalho que fiz com ele conseguiu potenciar-me para outro nível, outro patamar e a prova disso foi que, quando lá estive, consegui ir à Seleção Nacional pelo Vitória de Setúbal, que não é algo muito fácil hoje em dia", recorda Gonçalo Paciência.
"Ele acabou por ser muito importante para mim, porque era uma fase da minha carreira em que 'ou era sim ou era não'. Acho que era a minha última hipótese, já estava cansado de empréstimos, cansado de ir aqui e acolá, nesta indefinição onde vou jogar no próximo ano. Foi muito de mim, mas ele ajudou-me nessa componente física, mas também psicológica, motivacional. Esteve sempre do meu lado, definíamos e redefiníamos objetivos, sempre numa relação muito próxima, que até hoje se mantém. Não temos tido tempo de trabalhar juntos nos últimos tempos, mas tento sempre seguir a linha de trabalho que fazia com ele. Estamos sempre em contacto, caso eu precise de alguma coisa, ele ajuda-me", finaliza.
Ricardo Pereira: a humildade e o desejo de ser sempre melhor
Ricardo Pereira trabalha com Francisco Martins desde 2015/2016. O lateral direito tinha feito uma boa época no Nice de França, onde esteve emprestado pelo FC Porto durante duas temporadas. Apesar de ter sido considerado um dos melhores laterais da Ligue 1, ficou fora dos eleitos de Fernando Santos para o Euro2016, onde Portugal foi campeão em França. Francisco Martins fala-nos de um jogador humilde, muito inteligente e focado, que sabe exatamente o que quer, consciente do que precisa para alcançar o topo.
"O trabalho que fiz com ele conseguiu potenciar-me para outro nível, outro patamar e a prova disso foi que, quando lá estive, conseguir ir à Seleção Nacional pelo Vitória de Setúbal, que não é algo muito fácil hoje em dia"
"Começámos a trabalhar com ele no Nice, na primeira época, depois FC Porto, e agora Leicester. Ao fim de quatro anos, com a sua humildade, capacidade de querer superar-se, a sua carreira foi sempre em crescendo", recorda Francisco. Para Ricardo, só houve ganhos.
"O que me levou a procurar o Francisco foi no sentido de evitar lesões, fazer um trabalho mais específico, personalizado. No primeiro ano no Nice tive algumas lesões que nunca tinha tido, e foi também para que a pré-época não custasse tanto, por isso fui fazer uma espécie de pré pré-época com ele", recorda Ricardo Pereira, em conversa com o SAPO Desporto.
Titular nos últimos dois jogos que garantiram a Portugal o apuramento para o Euro de 2020, o lateral direito de 26 anos, sublinha que "esse trabalho tem sido bastante positivo" porque isso lhe permitiu diminuir o número de lesões: "Praticamente não tenho mesmo nenhuma agora", recorda.
"Em termos físicos, além dessa prevenção, foi também para aumentar os meus níveis de força, algo muito importante no futebol moderno. São pequenos detalhes que a este nível fazem a diferença", garante o lateral direito do Leicester, de Inglaterra.
Treino de força e potência: há lugares para homens e mulheres, futebolistas e meso-tenistas
Francisco Martins pretende que os atletas vejam o trabalho feito com a sua equipa como um investimento a longo prazo. E esse é um trabalho que atrai não apenas homens (do futebol e não só) mas também mulheres. Foi o caso da futebolista Jéssica Silva, que antes de se transferir para o Lyon foi fazer uma preparação física com o Treinador de Performance, Francisco Martins. A evolução do futebol feminino em Portugal leva as atletas, mas também os clubes a procurarem formas de diminuir a distância para as equipas de topo, quer a nível de clubes quer a nível de seleções.
"A diferença está na intensidade de jogo. Por mais que as seleções portuguesa e espanhola tenham qualidade, por exemplo, se não tiverem níveis de força, resistência, velocidade, todas as qualidades físicas superiores à maior parte das atletas das restantes equipas - que até podem ser um pouco mais desorganizadas, inferiores na qualidade de jogo - as outras equipas vão estar mais perto de ganhar o jogo porque apresentam níveis de superioridade muito maiores na vertente física: jogo aéreo, duelos físicos", explica Francisco.
Tiago Apolónia foi outro atleta a procurar a equipa de Francisco Martins. O meso-tenista de 33 anos (joga atualmente nos alemães do FC Saarbrücken Tischtennis) sentia que a sua resistência era baixa no jogo, e isso era algo que afetava o seu rendimento.
“O Tiago Apolónia disse-nos que [...] em momentos críticos, de intensidade, sentia uma maior fadiga a nível da lombar que o limitava no seu jogo, ao nível das amplitudes, da extensão e rotação da anca. Percebemos claramente que, para que ele pudesse potenciar as suas capacidades, tínhamos de trabalhar ao nível da mobilidade, ativação de cadeias", explica.
Além do trabalho desenvolvido com vários futebolistas já feitos, na sua maioria internacionais, a equipa de Tiago Martins quer focar-se nos mais jovens, já que "a capacidade de aquisição é muito maior do que quando começamos aos 18, 19 anos". O objetivo é fazer ver aos jogadores da formação a importância de começarem cedo, a fazer treino de força e potência, de forma a minimizar as diferenças quando passarem dos juniores para os seniores.
"Em termos físicos, além dessa prevenção, foi também para aumentar os meus níveis de força, algo muito importante no futebol moderno. São pequenos detalhes que a este nível fazem a diferença"
"Já tivemos essa experiência, pelo que atletas que começam a trabalhar connosco mais cedo, vão ter mais probabilidade de ter sucesso na sua carreira desportiva. E esse investimento em jovens vai permitir-nos ver as diferenças depois num nível superior", explica. A ideia é começar desde cedo, depois dos dez anos.
"Aos 11, 12, 14 anos, é a idade perfeita para os jogadores começarem a receber estes estímulos físicos, de coordenação, de resistência, de força, que os vai diferir aos 16, 17 anos. Queremos trabalhar e desenvolver jovens atletas porque percebemos que se um atleta que começa a desenvolver as suas competências físicas logo aos 12, 13 anos, e que apresenta qualidade a nível do treino físico elevado e se conseguir manter esse processo evolutivo, juntamente com o desenvolvimento das qualidades técnico-táticas, da mentalidade, como irá estar aos 17, 18 anos? Se chegar aqui alguém com 18, 19 anos, que nunca tenha feito esse trabalho físico, vai apresentar índices de crescimento bastante redutoras. Quem começa tarde terá dificuldades em apresentar resultados na carreira a nível de treino físico", garante.
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