João Pereira fará, esta sexta-feira, a sua estreia a nível oficial no banco da equipa principal do Sporting, dando sequência a uma transição suave planeada pelo campeão e líder invicto da I Liga portuguesa de futebol após a saída de Ruben Amorim para o Manchester United.

O primeiro jogo será diante do Amarante em Alvalade esta sexta-feira, pela 4.ª eliminatória da Taça de Portugal.

Promovido no verão ao leme da equipa B ‘leonina’, quinta classificada da Série B da Liga 3, em substituição de Filipe Çelikkaya, o ex-defesa direito, de 40 anos, emancipará uma carreira curta e inexperiente nos bancos, iniciada em 2021/22 como adjunto dos sub-23 - que orientaria nas duas temporadas seguintes -, após 18 anos como jogador profissional.

A direção presidida por Frederico Varandas recorreu a uma solução interna, ambientada aos métodos de trabalho e ao modelo de jogo preconizado por Ruben Amorim, que tinha sido anunciado em 28 de outubro pelo Manchester United, 13.º colocado da Liga inglesa, mas continuou em Alvalade até à paragem dos campeonatos para as seleções nacionais.

Com três passagens pelo Sporting como atleta (2010-2012, 2015-2016 e 2021) - a última das quais orientado pelo novo treinador dos ‘red devils’, quando os ‘leões’ voltaram a conquistar a I Liga 19 anos depois -, João Pereira ostenta uma longa relação de amizade com Varandas e já vinha a ser moldado na ‘sombra’ pela estrutura, oferecendo uma alternativa rápida perante o crescente interesse da Premier League no seu antecessor.

Sporting-Benfica: Renato Sanches e João Pereira
Sporting-Benfica: Renato Sanches e João Pereira Sporting-Benfica: Renato Sanches e João Pereira créditos: 2016/Lusa

“Está a fazer os seus passos, é um excelente treinador e tem todas as condições para vir a orientar o Sporting”, admitiu Amorim, em maio, já depois de o presidente ter vaticinado um grande futuro como técnico ao antigo defesa, o sétimo por si escolhido para liderar a equipa principal - Tiago Fernandes e Leonel Pontes asseguraram transições interinas.

Se Frederico Varandas enfrentará um teste exigente ao crescimento do projeto ‘leonino’, que também vai deixar de contar no final da época com o diretor desportivo Hugo Viana, rumo ao Manchester City, tetracampeão inglês e rival citadino do Manchester United, o ex-treinador do Sporting B precisa de uma afirmação rápida para corresponder às expectativas e competitividade erguidas por Ruben Amorim em quatro anos e meio.

Do Casal Ventoso para o banco do Sporting

Nascido em 25 de fevereiro de 1984, João Pedro da Silva Pereira cresceu no Casal Ventoso e fez-se aluno exemplar na Casa Pia, encontrando no futebol um escape aos problemas socioeconómicos e criminais frequentes naquele antigo bairro lisboeta, tendo despertado o interesse do Benfica a partir dos escalões de base do Domingos Sávio.

Com formação quase toda concluída na Luz, representou diversas seleções jovens de Portugal e foi finalista derrotado do Europeu de sub-19 no verão de 2003, logo antes da estreia pelo conjunto sénior ‘encarnado’, no qual totalizaria sete golos em 85 encontros.

As conquistas da Taça de Portugal (2003/04) e da Supertaça Cândido de Oliveira (2005) intervalaram o regresso do Benfica ao título de campeão nacional 11 anos depois, em 2004/05, sob alçada do treinador italiano Giovanni Trapattoni, cuja substituição pelo neerlandês Ronald Koeman afetou a continuidade de João Pereira no clube do coração.

Na segunda metade da época seguinte, seria emprestado ao Gil Vicente, que o adquiriu em definitivo em 2006/07, lapidando, depois, a sua carreira num Sporting de Braga em crescendo (2007-2009), do qual saiu para um Sporting longe da estabilidade (2009-2012).

Essa primeira etapa no rival citadino do Benfica abriu-lhe as portas da seleção principal, originando 40 internacionalizações e participações nas fases finais do Euro2012 e do Mundial2014, num trajeto inteiramente guiado pelo ex-treinador ‘leonino’ Paulo Bento e ladeado pelo então médio Ruben Amorim, com quem alinhou em simultâneo 11 vezes.

João Pereira disputa uma bola com Rodrigo Tello, durante um Benfica-Sporting, da I Liga, a 10 de setembro de 2005, em Alvalade
João Pereira disputa uma bola com Rodrigo Tello, durante um Benfica-Sporting, da I Liga, a 10 de setembro de 2005, em Alvalade João Pereira disputa uma bola com Rodrigo Tello, durante um Benfica-Sporting, da I Liga, a 10 de setembro de 2005, em Alvalade créditos: NICOLAS ASFOURI / AFP

Seguiram-se experiências antagónicas nos espanhóis do Valência (2012-2015) e nos alemães do Hannover (2015), antes do primeiro regresso a Alvalade, onde reencontrou Jorge Jesus, seu técnico em Braga, e venceu uma Supertaça, sem nunca esquecer as suas origens humildes nem desvirtuar uma personalidade emocional e com excessos.

João Pereira voltaria a emigrar a meio de 2016/17 rumo ao Trabzonspor, no qual venceu uma Taça da Turquia (2019/20) e foi promovido a capitão, desvinculando-se ao fim de quatro anos, ainda a tempo de uma reconfortante despedida dos relvados pelo Sporting.

O primeiro título de campeão nacional dos ‘leões’ desde 2001/02, festejado sem adeptos nos estádios, devido à pandemia de covid-19, abrilhantou o fim de uma carreira com 19 golos em 622 jogos, incluindo 154 partidas e seis tentos em Alvalade, onde manteve a ligação ao futebol e fez a transição para cargos técnicos, limando o caráter irreverente.

João Pereira ainda não concluiu o terceiro nível do curso de treinador, mas já tinha sido inscrito como adjunto da equipa principal, face à crença da estrutura do Sporting no seu potencial, de forma que fosse acautelando uma eventual sucessão repentina de Amorim.

Enquanto não receber aquele certificado da UEFA, um elemento da nova equipa técnica ‘leonina’ com o quarto nível será indicado como treinador principal nas fichas de jogo, tal como aconteceu nos tempos iniciais da carreira do novo treinador do Manchester United, que também era benfiquista desde pequenino e aprendeu a gostar do rival de Alvalade, em busca do primeiro bicampeonato em 70 anos e terceiro título em cinco temporadas.

*Com Lusa