O árbitro português João Capela foi um dos oradores do painel 'O que mudar na Arbitragem', da "Conferência Bola Branca – Que futebol queremos para Portugal", juntamente com Luciano Gonçalves e Duarte Gomes. O juiz lisboeta pediu "serenidade, estabilidade" e diz que “falta agir no futebol português".

"Quando se coloca a questão do que pode ser mudado, o setor da arbitragem tem feito alterações para estar mais apto e adaptado ao futebol profissional. Relembrar a profissionalização da arbitragem, a introdução do videoárbitro, as linhas para o fora de jogo. A arbitragem precisa de serenidade e tempo para se adaptar a esta nova realidade. O que falta no futebol é agir no que já está feito. Fala-se dos problemas, e não se encontra a saída", afirmou João Capela, uma ideia corroborada por Duarte Gomes, ex-árbitro.

"Agir é importante. Fui muitos anos árbitro, e já são alguns fora da caixa, que me dá uma visão diferente, que tinha enquanto árbitro. Como disse o João, a arbitragem evoluiu muito, está quase num regime de profissionalismo ótimo", atirou.

O árbitro sublinhou ainda que é preciso encontrar uma saída para a “rotunda” da discussão em torno dos problemas do futebol nacional e, para isso, é necessária uma “nova abordagem”.

"Essa abordagem eu acho que tem de ser uma abordagem comportamental. Existem já estratégias comportamentais tão bem definidas. A ética é uma coisa, às vezes, que temos alguma dificuldade em defini-la. A ética é perceber que com a minha ação não posso prejudicar os outros e os outros. Se todos nos pautarmos por este comportamento vamos valorizar o futebol", sublinha.

João Capela fez ainda um balanço positivo do VAR e lamentou que o "avançado tecnológico não foi acompanhado com um avanço comportamental".

"Ao fim de 20 anos de carreira, 10 de profissional, deram-me uma ferramenta nova que me tive de adaptar. Tornou-se mais fácil na percepção para o adepto, porque acredita-se que o erro grave vai ser corrigido, mas complicou para o árbitro, na comunicação de equipa. O VAR ouço do lado direito, não do lado esquerdo, ir ver imagens em 2D, quando estou numa realidade 3D, isto precisa de adaptação. Não tivemos a tecnologia na nossa formação como árbitro", sinalizou.

"Arbitrar um jogo de futebol é muito mais complexo do que ver uma imagem parado. Tenho 22 jogadores, cada um com atitudes e experiências diferentes. A nossa função é tomar decisões. Tenho o VAR para os erros factuais, lances fáceis. Os lances mais polémicos, não só em Portugal, mas em todo o lado, são aqueles que são alvo de interpretação. O que será sempre uma decisão da arbitragem, uma equipa de seis elementos, que quer sempre tomar a decisão correta", concluiu.

"Isto tem poucas condições para melhorar a curto prazo"

Outro dos elementos deste painel, Duarte Gomes sublinhou que a "arbitragem nos últimos anos evoluiu muito" e "está quase num regime de profissionalismo ótimo, para lá caminha". O antigo juiz lisboeta fez ainda um balanço positivo do vídeoárbitro.

"É um balanço positivo, por muitos que custe ouvir. Não é perfeito. Temos factualmente mais de 100 decisões claramente erradas a serem corrigidas, foram erros evitados, o que é uma vitória. Mas não sejamos hipócritas, a tecnologia não está no futebol para corrigir todos os erros, só os de 'Thierry Henry', os mais graves. Há a ideia que o VAR é incompetente e que a tecnologia não funciona. Há dores de crescimento", salientou.

Duarte Gomes considerou ainda que a arbitragem é motivo de "ruído, conversa e de suspeita desde sempre”, mas “agora há mais meios para haver mais terrorismo nessa comunicação", e mostrou-se pessimista quanto ao futuro.

"Este ruído continua. Esta vontade de mostrar que a arbitragem é o parente pobre do futebol existe desde sempre. Eu não sou hipócrita: eu acho que isto tem poucas condições para melhorar a curto prazo", concluiu.