O treinador Jaime Pacheco lamenta que Portugal esteja a deixar fugir os mais capacitados para ajudar o país nas diversas áreas, incluindo jogadores e técnicos no futebol.
«Onde está o Cristiano Ronaldo? Os bons jogadores da selecção quase todos estão em clubes estrangeiros, como os bons arquitectos, economistas e de outras actividades, que estão a trabalhar fora», lamentou Jaime Pacheco, «obrigado» a emigrar para a China, onde treina o Beijing Guoan.
Em entrevista à Lusa, o técnico entende a realidade crítica do país, mas lembra que nem sempre os dirigentes tomam as melhores decisões: «Em Portugal, houve um retrocesso económico muito grande. Assim, os clubes não podem contratar os melhores, mas os razoáveis».
«Da forma como os portugueses se dedicam ao trabalho, merecem melhor futuro. Os governantes que se preocupem e trabalhem para que isto melhore», apelou.
A «ausência de projectos estimulantes» em Portugal e as «boas propostas» que tem recebido do estrangeiro – «à semelhança do que acontece com outros treinadores» - motivaram a emigração, que começou na Arábia Saudita e agora continua na China.
«Procuramos sempre o melhor para nós e família. Tenho propostas em Portugal, mas não as que mais ambiciono. Assim, prefiro treinar em países onde posso ter utilidade importante. Quero acrescentar algo ao crescimento da China, como o fiz na Arábia Saudita o ano passado», justificou.
O início da aventura em Pequim está a correr da melhor forma – «há uma disposição total para aprender o que temos de diferente, para o que podemos ajudar a melhorar – e o objectivo passa por levar o Beijing Guoan aos primeiros lugares do campeonato e ajudar o futebol chinês na ambição de diminuir o fosso para a Coreia do Sul e Japão, as grandes potências da Ásia».
«O clube foi campeão há dois anos, mas na época passada foi quinto. Agora fiquei sem quatro dos titulares. Em teoria, o grupo está mais fraco. Espero poder compensar isso com a qualidade do trabalho. Quero também levar um ou dois jogadores de Portugal para ajudar», disse.
Jaime Pacheco manifestou-se agradavelmente surpreendido com a qualidade dos futebolistas chineses, reconhecendo-lhes «grande capacidade técnica», embora note que «ainda precisam de evoluir tacticamente».
O treinador, que deixou a família em Portugal, ainda não teve tempo de mergulhar na realidade da vivência quotidiana na China, pois esteve com a equipa em estágio no sul do país e agora continua os trabalhos da pré-época em Portugal.
Ainda assim, e apesar da aventura num país com língua e cultura tão distintas, garante que a comunicação no seio do seu grupo de trabalho flui com naturalidade.
«O futebol é universal. Uma linguagem gestual. Exemplificamos qualquer exercício e quando repetimos eles já o sabem fazer. Com o pouco inglês que eu sei e com o menos inglês que eles sabem... Temos um intérprete que fala fluidamente espanhol e assim torna-se muito fácil. Às vezes também basta um simples gesto, um olhar ou movimento», conta.
Comentários