Um estudo divulgado hoje pelo Instituto Politécnico da Guarda indica que os futebolistas nascidos no primeiro semestre do ano têm maiores probabilidades de serem chamados às seleções nacionais, em especial nos escalões de formação.

Nas convocatórias da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) em 2018, o cenário atinge o pico nos sub-16, escalão que nesse ano teve 88% de jovens convocados nascidos no primeiro semestre e apenas 12% na segunda metade do ano.

De acordo com o estudo, elaborado por estudantes do Politécnico da Guarda, “os resultados indicam uma forte tendência para os futebolistas nascidos no primeiro semestre do ano dominarem as convocatórias para as seleções jovens, especialmente entre os 15 e 19 anos”.

“A explicação para uma maior representatividade dos atletas nascidos nos primeiros meses do ano prende-se com a vantagem temporal associada a um maior desenvolvimento antropométrico (ex: altura, peso), físico (ex: forca, velocidade), entre outros”, sustentou o orientador do estudo, Pedro Tiago Esteves.

Os dados, que contemplam as convocatórias desde os sub-15 até à seleção AA, em 2018, acentuam a diferença entre atletas nascidos nas diferentes metades do ano nos sub-16, numa curva descendente até aos AA, único escalão em que a situação se inverte.

Mesmo nos sub-21 as diferenças existem, com futebolistas nascidos no primeiro semestre a dominarem as convocatórias em mais de 60%, contra menos de 40% dos jogadores que nasceram nos últimos seis meses do ano.

Para Pedro Tiago Esteves esta ‘clivagem’ nas convocatórias de jogadores pode trazer avaliações erradas por parte dos treinadores, que têm em conta o avanço no processo de desenvolvimento, que tende a ser temporário.

Uma situação que é agravada com as possibilidades de melhores condições em contexto de treino e competição, vantagens que atrasam ainda mais os futebolistas do mesmo escalão nascidos mais tarde.

“Pode-se criar um ciclo difícil de reverter dado que estes terão acesso a mais e melhores contextos de prática (ex: condições de treino, qualidade dos treinadores, experiências competitivas), que reforçam a sua vantagem face aos atletas com desenvolvimento mais ‘atrasado’”, justificou o coordenador do estudo.

Estatisticamente, os dados jogam ‘contra’ os jovens nascidos na segunda metade do ano, levando Pedro Tiago Esteves a questionar “quantos talentos poderão estar a passar entre os ‘dedos’ dos agentes responsáveis pelo recrutamento”.

Este estudo será apresentado no congresso do Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento (CIDESD), em Vila Real, em 01 e 02 de fevereiro, “no sentido de estimular a discussão, a nível dos clubes e das seleções, sobre como potenciar o processo de identificação e seleção de talento no desporto e no futebol em particular”.