O técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, será julgado na próxima quarta e quinta-feira, na capital espanhola, por ter supostamente ocultado mais de um milhão de euros em 2014 e 2015, informou esta sexta-feira (28) o Superior Tribunal de Justiça de Madrid.

Um porta-voz deste tribunal explicou que o treinador italiano terá de estar presente no julgamento, no qual o Ministério Público pede que seja aplicada uma pena de quatro anos e nove meses de prisão.

Os factos de que Ancelotti, de 65 anos, é acusado, teriam ocorrido na sua primeira fase como técnico do Real Madrid (2013-2015), para o qual voltou em 2021.

A Procuradoria de Madrid acusa-o de dois crimes contra o fisco por ter supostamente burlado em mais de um milhão de euros durante os anos de 2014 e 2015, ao evitar declarar os seus rendimentos provenientes de direitos de imagem.

Na conferência de imprensa desta sexta-feira de antevisão ao jogo da LaLiga contra o Leganés, que será disputado no sábado, Ancelotti disse que quer depor.

"Não estou preocupado. Incomoda-me que digam que fraudei, mas vou depor com confiança", explicou.

Omissões voluntárias

Segundo a administração fiscal espanhola, Ancelotti declarou os seus rendimentos como treinador do Real Madrid em 2014 e 2015, mas não os provenientes de direitos de imagem e outras fontes, como alguns imóveis.

"Apesar de ele próprio ter afirmado a sua condição de residente na Espanha para efeitos fiscais e de ter declarado que o seu domicílio era em Madrid, apenas registou nas suas declarações fiscais as remunerações pessoais de trabalho recebidas do Real Madrid", explicou o Ministério Público.

Os rendimentos provenientes dos direitos de imagem foram, segundo o Ministério Público, de 1,2 milhões de euros em 2014 e de 2,9 milhões em 2015. Segundo um documento judicial consultado pela AFP, Ancelotti reconheceu os factos durante a investigação.

Para o Ministério Público, as omissões de Ancelotti nas suas declarações fiscais foram voluntárias, uma vez que o treinador italiano "recorreu a uma rede ‘complexa’ e ‘confusa’ de empresas "para canalizar a cobrança de direitos de imagem".

Desta forma, “simulou” a cessão dos seus direitos de imagem para entidades “sem atividade real” com sede fora de Espanha "procurando assim a opacidade diante da Tesouro Público espanhol”, acrescenta o comunicado, citando os termos utilizados pelo Ministério Público na sua redação.

Ancelotti não é o primeiro com problemas com justiça espanhola

Ancelotti, segundo o Ministério Público, acordou de forma "paralela" com a sua assinatura como treinador do Real Madrid, um contrato privado com o clube ao qual cedia 50% dos seus direitos de imagem.

Os demais 50% eram propriedade de uma empresa "não identificada" e "indeterminada" que "agiu em nome e representação do treinador italiano", afirma a mesma fonte.

Carlo Ancelotti não é a primeira estrela do futebol a ter problemas com o Tesouro espanhol.

Também acusados de fraude fiscal, o então craque do Barcelona, Lionel Messi, e do Real Madrid, Cristiano Ronaldo, foram condenados a multas milionárias e penas de 21 e 24 meses de prisão respectivamente, que foram substituídas pelo pagamento de multas.

Na Espanha, contudo, penas inferiores a dois anos para pessoas sem antecedentes criminais não costumam levar à prisão.