A candidatura “De jogadores para jogadores”, liderada por Ibraim Cassamá, do Real Massamá, e Ana Filipa Lopes, do Condeixa, quer revitalizar o rumo do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) nas próximas eleições.
“O que nos motiva não é fazer nem mais nem menos, mas olhar para os nossos e fazer diferente. Desde sempre fomos jogadores e, no dia em que abandonarmos o futebol, continuaremos a pensar como tal, porque ninguém mais do que nós sabe aquilo que temos passado”, explicou à agência Lusa o presidente da lista, Ibraim Cassamá.
A candidatura envolve atletas dos campeonatos profissionais e não profissionais e faz uma inédita oposição a Joaquim Evangelista, que lidera o SJPF há 17 anos, após ter substituído António Carraça, e ainda não revelou se irá concorrer a um quinto mandato.
“Não estamos cá para denegrir o que foi feito nem isto é uma luta contra os anos em que as pessoas lá estão. A avaliação está feita por quem de direito e não vamos entrar por aí, porque tudo o que digamos pode ser percebido de forma não positiva. Queremos fazer melhor e agregar coisas importantes, sabendo que tudo tem um início e fim”, apontou.
O médio internacional guineense, de 35 anos, foi um dos atletas do Campeonato de Portugal (CP) responsáveis pelo lançamento da associação “Do Futebol para a Vida”, que ajuda colegas de profissão com subsistência dificultada pela pandemia de covid-19.
“Os jogadores merecem um tratamento igual entre desiguais. A única coisa que nos separa é a divisão ou o género, mas olhamos ao panorama global do futebol. Estamos aqui para acrescentar um bem maior ao futebol. Iremos ter respeito por tudo e por todos, sabendo que os jogadores vão ganhar no final e ninguém vai sair a perder”, notou.
Com carreira feita no terceiro escalão nacional, Ibraim Cassamá defende “proximidade e comunicação saudável” com atletas e clubes, no intuito de suprir “tempos nada fáceis”, resolvendo “dentro de casa” problemas “exteriorizados e agonizados” pela pandemia.
“Tudo o que tem acontecido no CP é responsabilidade de muita gente, mas estamos cá para arranjar soluções. Só a palavra sindicato é muito forte, pelo que não podemos ser reativos. Há que tentar perceber o que se passa dia após dia e ter uma base de dados interna que faça prever as coisas que vão acontecer em determinado clube”, sugeriu.
Incentivada pela antiga glória Paulo Futre, a lista do capitão do Real Massamá pretende diluir a Associação Portuguesa de Jogadores Amadores (APJA) da estrutura do SJPF, alertando que “não está certo existir uma e outra elite” num “futebol que é para todos”.
“O futebolista tem uma vida. É um ser humano como outro qualquer e um cidadão individual que tem de estar cada vez mais dentro da sociedade. Um dia iremos todos deixar de jogar e o mais importante não são os prémios e valores monetários ganhos, mas aquilo que deixámos para que o futebol seja melhor”, reforçou Ibraim Cassamá.
A candidatura “De jogadores para jogadores” escolheu Nuno Pinto (Vitória de Setúbal) para presidir à Mesa da Assembleia-Geral, enquanto Luís Ferraz (Merelinense), Sílvia Rebelo (Benfica) ou Solange Carvalhas (Famalicão) irão chefiar o Conselho Fiscal.
Já Ana Filipa Lopes surge como vice-presidente da direção, que integra os vogais Ana Borges (Sporting), Wilson Eduardo (Al Ain) e Duarte Machado (Atlético) e os suplentes Diana Silva (Aston Villa), Joana Marchão e Fátima Pinto (ambas do Sporting), Kaká (Mafra), Bruno Varela (Vitória de Guimarães) e Stephen Eustáquio (Paços de Ferreira).
“Toda a mudança é necessária e não tem de ser necessariamente má. Temos novas ideias, sangue novo e entusiasmo. Queremos tornar o SJPF mais presente e acreditado, lutando pelos interesses e direitos dos jogadores. Não há melhor motivação e outra intenção”, frisou à Lusa a médio do Clube Condeixa, apelidada no futebol de Tita.
Defensora da limitação de dois mandatos presidenciais de quatro anos, a internacional lusa, de 31 anos, pede celeridade na calendarização das eleições, que deveriam ser realizadas até ao final de março, mas estão condicionadas pelo estado de emergência.
“Isto é histórico, porque os jogadores nunca votaram para o Sindicato e têm o direito de escolher quem querem que os represente. Era importante acontecer esta eleição, da mesma forma que houve para o Presidente da República. Porque ponderam prolongá-la? Estamos a falar da vida dos jogadores e não temos de complicar nada”, apelou.
Em função do contexto pandémico, a bicampeã nacional pelo Atlético Ouriense (2011/12 e 2012/13) e ex-jogadora do Benfica propõe a distribuição das urnas de voto pelas 22 associações de futebol, dispersas de norte a sul do país, incluindo ilhas.
“Evitaria grandes quilómetros de quem reside na região norte. No entanto, se forem realizadas só na sede em Lisboa, acreditamos que tudo se resolverá democraticamente”, vincou Tita, voz ativa do movimento “Futebol Sem Género”, que levou a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) a recuar na intenção de impor um teto salarial às atletas.
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